Empresa paraense distribuirá produtos da bioeconomia na COP28

Em dez anos, cadeia de fibra de malva no Pará capturou mais de 18 mil toneladas de CO2 da atmosfera
Malva secando no varal

Continua depois da publicidade

Com a chegada da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), que começa dia 30, em Dubai, nos Emirados Árabes, uma das discussões que vêm à tona é a colaboração da bioeconomia para que o Brasil consiga atingir suas metas de descarbonização. Estudos indicam que a prática evitará o lançamento de 21 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera até 2050 e que o produto interno bruto (PIB) do Pará, referente à bioeconomia, pode alcançar R$178 bilhões.

Um exemplo desse potencial do estado que estará na COP28 é a da cadeia da fibra de malva, representada pela Companhia Têxtil de Castanhal (CTC), que em dez anos capturou mais de 18 mil toneladas de CO2 da atmosfera. A empresa está enviando 300 bolsas exclusivas de malva amazônica para serem distribuídas pelo SEBRAE, durante um evento com ministros e secretários de meio ambiente.

Essa fibra vegetal é uma cultura de várzea, totalmente integrada ao seu bioma. Com a adubação natural deixada pelo húmus acumulado durante as cheias dos rios, sem uso de agrotóxicos e sem causar desmatamento, ela utiliza água da chuva para irrigação, além de gerar renda para milhares de pessoas no coração da região amazônica. 

“Sua agregação de valor, da semente de malva aos nossos manufaturados, é toda na Região Norte do Brasil, em uma cadeia com pegada de carbono negativa, resultando em produtos têxteis 100% biodegradáveis distribuídos no Brasil e exterior, no melhor exemplo de economia circular,” explica Flávio Junqueira Smith, diretor da CTC, que além da fábrica em Castanhal, tem filiais em Manacapuru (AM) e na cidade de São Paulo (SP).

Em 2022, em parceria com o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (CETIQT) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a CTC realizou um estudo que comprovou a atuação da cadeia – que vai da semente ao produto manufaturado – como fixadora de carbono. Isto é, contribui para a redução da concentração do CO2 na atmosfera.

Ao longo das análises realizadas pelo SENAI CETIQT, foi comparado o desempenho das embalagens confeccionadas com malva e fibra de juta com aquelas confeccionadas com papel e outros materiais sintéticos, e comprovou-se que o produto de Castanhal é o único capaz de fixar carbono.

Comércio justo

Além de contribuir para a fixação de carbono, a cadeia da malva também valoriza a comunidade local. O Projeto Sementes Castanhal capacita famílias agricultoras para se tornarem produtoras de sementes, transformando uma atividade extrativista em uma cultura profissionalizada com investimento em conhecimento, tecnologia e inovação. Para eles, está garantida a compra de 100% da colheita e remuneração justa.

“Isso ajuda a fixar esses trabalhadores e suas famílias em suas próprias terras, trabalhando em uma atividade que gera renda nas regiões com poucas alternativas econômicas,” aponta Junqueira. Além disso, a empresa emprega mais de 1.100 colaboradores diretos em constante treinamento e desenvolvimento, entre trabalhadores, técnicos de segurança, administradores, agrônomos e diversas outras funções.

Fibra de malva no Pará capturou mais de 18 mil toneladas de CO2 da atmosfera

De acordo com o diretor, a Amazônia deve ser vista por sua fauna e flora, e pelas pessoas que aqui habitam. “São cerca de 30 milhões de habitantes mantendo a floresta em pé, preservando sua enorme biodiversidade. A defesa da Amazônia faz parte da defesa de toda a economia brasileira, especialmente aos olhos dos consumidores das novas gerações que estão chegando em cada vez maior número ao mercado mundial,” observa, acrescentando que é preciso gerar valor para a Amazônia, e o caminho é pelo fomento da bioeconomia.

Fabricação consciente

Na fábrica, as fibras são processadas apenas com aditivos orgânicos e vegetais. Delas, saem sacos de juta agrícolas, ecobags utilizáveis, fios para artesanato e para calçado, tabaco, decoração, moda e outros. A Castanhal prioriza o uso de energia solar, além de contratar a carga energética necessária ao funcionamento de sua fábrica e filiais diretamente do mercado livre, de usinas ambientalmente sustentáveis.

Pedaços de tecido excedente são transformados em sacolas ecológicas confeccionadas por mais de 300 artesãos treinados pela empresa, em parceria com o governo do Pará, no projeto socioambiental Usinas da Paz, um dos mais importantes do Brasil. Retalhos maiores viram embalagens para fardos e bobinas e os menores são transformados em feltro para a indústria automobilística, que os utiliza em peças como tampas de porta-malas em substituição a materiais sintéticos.

“Temos que construir um modelo econômico inédito para a região, através do diálogo entre a sustentabilidade social e ambiental. Se não estimularmos ou introduzirmos no mercado mundial os produtos de baixo carbono, positivamente integrados à essa economia amazônica, falharemos na defesa da floresta e seus habitantes. Muitos desses sistemas já existem na região há muitas décadas, de forma abrangente e verticalizada, como a cadeia da fibra de malva,” conclui Flávio Junqueira.