Que a educação é a mola propulsora para o desenvolvimento, isso todos sabem — embora, na prática, muitos gestores não deem a devida atenção. E não, a educação não contribui apenas para o desenvolvimento intelectual dos lugares que a utilizam bem. Ela gera divisas, trabalho, renda e movimenta a economia. O ensino superior de Marabá que o diga.
O Blog do Zé Dudu recortou dados inéditos do Cadastro Central de Empresas (Cempre) 2017 divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para demonstrar o tamanho do impacto financeiro do ensino superior no quarto mais populoso município paraense, sede de uma universidade pública federal (a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Unifesspa), detentor de campus de estadual (a Universidade do Estado do Pará, Uepa) e de instituto (o Instituto Federal do Pará, IFPA), além de matriz de três instituições particulares.
A conclusão que se chega é de que Marabá já movimenta apenas em salários de empregados formais do ramo de ensino superior cerca de R$ 70,02 milhões por ano, receita que caminha paralela à da prefeitura local, de R$ 815 milhões, e que se transforma em degustação comercial que nutre bares, restaurantes, lojas, postos de combustíveis, supermercados, entre outros estabelecimentos.
Detalhe: essa conta não inclui o gasto dos estudantes universitários, principalmente dos que são de fora e têm despesas com aluguéis, transporte e alimentação, por exemplo. Dos 17.400 universitários que estudam em Marabá, cerca de 10 mil são oriundos de outros municípios e estados, de acordo com microdados do censo do ensino superior mais recente, realizado em 2017 pelo Ministério da Educação (MEC). Numa matemática simplória, estimando-se gasto mensal da ordem de R$ 500, esses universitários de fora deixam em Marabá cerca de R$ 60 milhões por ano, receita suficiente para sustentar um município como Eldorado do Carajás e seus 34 mil habitantes.
Marabá x Araguaína e Imperatriz
No Pará, apenas Belém (que movimenta R$ 1,143 bilhão) e Santarém (R$ 116,16 milhões) geram mais massa salarial com o pessoal ocupado no ensino superior que Marabá. Na capital paraense há 24 sedes de instituições de ensino superior que empregam cerca de 12.700 trabalhadores. Já em Santarém são quatro fontes empregadoras que garantem trabalho e renda a 1.600 pessoas na prestação direta de serviços de ensino superior.
Marabá, por seu turno, possui seis instituições que geram ocupação e renda a cerca de 900 pessoas, segundo o Cadastro Central de Empresas. Hoje, o ensino superior em Marabá movimenta mais em massa salarial que Araguaína-TO (onde cerca de 800 pessoas estão empregadas e geram R$ 45,55 milhões no comércio local) e Imperatriz-MA (onde cerca de 550 trabalhadores ganham R$ 23,28 milhões em salários).
O município de Marabá avançou muito em ensino superior esta década e deixou os antigos rivais do Tocantins e do Maranhão para trás em faturamento. Imperatriz até possui mais alunos matriculados no ensino superior, todavia em pouco tempo será ultrapassado pelo colega paraense. De acordo com o IBGE, esse nicho de mercado é tão bom que num período de dois anos, entre 2015 e 2017, a massa salarial quase dobrou em Marabá, passando de R$ 42,41 milhões para R$ 70,02 milhões no período. É como se o município tivesse concentrado em dois anos a soma das operações financeiras de ensino superior de Imperatriz e Araguaína.
Pebas é massacrado por Redex
No ranking dos lugares com ensino superior mais lucrativo, Marabá já faz parte do pelotão dos 100 principais do Brasil, na 93ª colocação. Parauapebas, que atualmente tem arrecadação fiscal muito maior que a de Marabá, ainda não conseguiu encontrar os passos no ensino superior e apresenta a pior movimentação do país entre os municípios com mais de 200 mil habitantes.
Os dados do IBGE revelam que Parauapebas gera por ano pífios R$ 1,47 milhão em faturamento de ensino superior, quatro vezes menos que Redenção (R$ 6,13 milhões) — e Redenção é duas vezes e meia menos populoso e sua prefeitura arrecada sete vezes menos. Hoje, segundo o censo do ensino superior, para cada dois universitários que Parauapebas consegue ter no próprio município, ele envia um para estudar em Marabá e outros três para peregrinar o país em busca do curso dos sonhos. Os cerca de 3.150 universitários de Parauapebas que fazem faculdade em Marabá levam ao comércio do vizinho município cerca de R$ 19 milhões por ano em divisas. Marabá agradece.
Fora do circuito paraense, o ranking dos municípios que mais movimentam com ensino superior traz diversas curiosidade e a revelação de lugares muito dinâmicos que praticamente sobrevivem à base disso, como Campina Grande (PB). Lá, apenas os salários movimentados pelos trabalhadores do ramo do ensino superior rendem R$ 675,6 milhões por ano. É quase 85% da receita local, de R$ 806 milhões.
Há lugares como Santa Maria (RS) em que o faturamento com ensino superior (R$ 717,3 milhões) já deixou para trás, de longe, a própria arrecadação da prefeitura (R$ 532,9 milhões). Exemplos de como a educação pode mudar vocações econômicas e, por meio do ensino superior, dinamizar o desenvolvimento local não faltam. No Pará, o que resta são os gestores públicos deixarem o amadorismo de lado e passarem a compreender o espírito lucrativo — de ganhos econômicos e sociais — para os municípios que comandam. Na ânsia cega do desperdício do dinheiro público, muitos perdem oportunidades de geração de divisas e promoção de desenvolvimento local.
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