Uma sucessão de fatores, tendo a pandemia do coronavírus no centro, levou a economia da China a desacelerar bruscamente no segundo trimestre deste ano, com registro de 0,4% de crescimento, segunda menor taxa desde 1992, quando se iniciaram as medições sobre o desenvolvimento econômico do país. Só se viu algo pior no começo de 2020, justamente quando o mundo iniciava a luta contra a covid-19.
No período de abril a junho deste ano, a soma das riquezas da China caiu 2,6% em relação ao período de janeiro a março. Esse desempenho ruim do maior comprador dos produtos do Brasil pega o país em cheio, mas afeta sobretudo o Pará e, particularmente, Parauapebas.
Não é segredo que a economia de Parauapebas – e por que não dizer a paraense – gravite em torno de commodities minerais, com destaque para o ferro do complexo de Carajás. Por isso, o município é chamado de Capital do Minério, por ser o maior produtor nacional; e a maior compradora dessa produção, extraída pela mineradora multinacional Vale das entranhas da Serra Norte de Carajás, é a China.
No ano passado, por exemplo, a China comprou 75,06 milhões de toneladas de minério de ferro produzidas em Parauapebas. Isso rendeu à Vale 9,202 bilhões de dólares. Em 2022, de janeiro a junho, os números caíram consideravelmente: foram 26,15 milhões de toneladas importadas pela China, que pagou por elas 2,391 bilhões de dólares. O potencial de consumo da China este ano está bem abaixo do que fora em 2021, quando, de janeiro a junho, consumiu 32,17 milhões de toneladas de minério no valor de 4,206 bilhões de dólares.
China e Vale, Parauapebas e Cfem
Este ano, a China diminuiu a produção industrial em decorrência de surtos de covid e impôs severos “lockdowns” em diversas partes do país. Está sendo afetada também pela invasão russa à Ucrânia, o que tem levado à interrupção no fornecimento de commodities e ao aumento nos preços internacionais de alimentos e combustíveis, prejudicando consumidores chineses e o próprio crescimento.
A conta dessa forte desaceleração chega, mais cedo ou mais tarde, ao cidadão de Parauapebas. Os cofres do município dependem sobremaneira da relação entre a Vale e a China. A multinacional vende o minério de ferro extraído ao país asiático, que precifica e paga em dólar. Quando a Vale recebe, compensa Parauapebas com royalties, por ser o município produtor. O dinheiro – que não é repassado diretamente pela mineradora à conta do município – é repartido pela Agência Nacional de Mineração (ANM), que faz, finalmente, o crédito das cotas da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem).
Do que se produz em Parauapebas, várias localidades têm retorno financeiro: o estado do Pará, municípios vizinhos impactados pela atividade mineradora e cortados pela linha do trem que carrega minério para embarque no Maranhão e a própria Prefeitura de Parauapebas, maior beneficiária.
Minério cotado a menos de US$ 100
A crise na China arranha a teia de relações financeiras, fazendo com que cada um dos entes da federação receba menos royalties. Com menos dinheiro em conta, Parauapebas, por exemplo, perde a capacidade de tocar obras e serviços básicos, de interesse da população, como operações tapa-buraco, construção de creches, escolas e postos de saúde, pavimentação de estradas rurais, entre outras iniciativas. Atualmente, a Cfem representa metade da arrecadação do município e não pode ser usada para pagar salários de servidores, o que se tornou o maior abacaxi da gestão municipal.
A semana finda com a tonelada do minério de ferro sendo cotada na China em 100,68 dólares, tendo chegado na última quinta a 96,40 dólares no mercado à vista, menor valor em oito meses. Ainda assim, a Cfem mensal de Parauapebas se mantém num patamar acima de R$ 50 milhões por mês, mas muito distante dos picos experimentados pelo município em 2021, quando o recebimento de royalties girava acima de R$ 100 milhões. Em maio do ano passado, a tonelada chegou a ver 230 dólares, um recorde.
Se a China seguir desacelerando economicamente, o país passa a demandar menos minério, e as consequências alcançam em poucos meses a Serra Norte de Carajás e, por tabela, os cofres da Capital do Minério. Na ponta, a sociedade também sente o baque, mediante empresas “descendo” de Carajás, demissões de trabalhadores, retração no comércio, desaceleração ou paralisação de obras públicas. Os efeitos chegam a todos.
1 comentário em “Entenda como queda da economia chinesa afeta a vida do parauapebense”
Excelente análise!!! Mas como superar a dependência do minério na região??? A gestão municipal alardeia há anos, mas nunca mostra ações concretas. As ações para tal são tomadas de acordo com a felicidade e o deslumbramento do sr prefeito e de forma atabalhoada!!! A cidade continua na eterna espera…