Entre 2010 e 2018, a Prefeitura de Itupiranga declarou gastos de R$ 67,71 milhões com o que chama de “urbanismo”, “saneamento básico” e “gestão ambiental”. Se o gasto tivesse, de fato, se transformado em investimento, cada um dos 53 mil habitantes viveria longe de esgoto a céu aberto, teria água encanada, veria sua rua pavimentada e não teria problemas com coleta de lixo. Mas não é o que ocorre.
Porém, a realidade é outra, dura e que envergonha. Itupiranga acaba de ser declarado o quinto pior município brasileiro em saneamento básico, entre os lugares com menos de 100 mil habitantes. Seu nome está marcado num relatório elaborado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e apresentado durante o 30º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental que terminou ontem (19), em Natal (RN).
Num ranking com notas ascendentes de 0 a 500, Itupiranga fez míseros 87,62 pontos em saneamento básico. A nota é fruto de seu péssimo desempenho em abastecimento de água (14,1% da população têm acesso), coleta de esgoto (2,18% dos moradores contam com o serviço), tratamento de esgoto (apenas 12,5% do esgoto coletado recebe tratamento), coleta de lixo (apenas 58,84% da população têm esse “luxo”) e destinação do lixo coletado (nota zero por ser completamente inadequado o descarte).
Todos esses critérios negativos sujaram o nome de Itupiranga, que literalmente chegou ao “SPC do saneamento”. Itupiranga divide com sua vizinha Marabá e Barcarena, entre outros, troféus de piores do ramo, embora em faixas populacionais distintas.
Se serve de consolo, como vários municípios paraenses ficaram de fora do levantamento por não terem dados suficientes para geração de nota, é bem provável que haja outros com pontuação ainda mais baixa, o que, em se tratando de Pará, não seria surpresa. O estado detém, além dos piores municípios, indicadores gerais que o posicionam na lanterna e na fossa.
‘Terra Prometida’ do saneamento
Por outro lado, Canaã dos Carajás é o município mais bem avaliado do Pará em saneamento básico, entre os grandes (com mais de 100 mil habitantes) e entre os pequenos. O Blog do Zé Dudu já havia destacado e antecipado o bom desempenho de Canaã nas estatísticas em análise própria, no mês de março, quando o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) divulgou dados finais de 2017 referentes ao panorama municipal.
Com 315,11 pontos em saneamento, o município apresentou excelente performance em coleta de lixo, que cobre 100% da população, e distribuição de água, com cobertura de 99,03%, além de apresentar um dos maiores percentuais do estado para coleta de esgoto, que chega a 55,44% dos moradores, sendo que 60,64% dos dejetos recebe tratamento.
São números maravilhosos em nível de Pará, já que praticamente todos os demais municípios do estado encontram-se abaixo dessa média. No entanto, ainda falta à Canaã um detalhe: descartar adequadamente seu lixo. Nesse quesito, a Abes deu nota zero à “Terra Prometida”, cujos indicadores sociais têm melhorado de maneira veloz e devem colocar Canaã entre os líderes paraenses do próximo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), a ser divulgado em 2022.
Até lá, ainda falta fazer a água encanada chegar ao 1% dos moradores que não tem, universalizar o serviço de coleta e tratamento de esgotamento sanitário e providenciar o descarte adequado e regular dos resíduos sólidos urbanos. Mesmo com uma prefeitura que está entre as que mais arrecadam no Brasil, a estrada é longa para um município com demandas que não param de surgir.