O jornalista e escritor paraense Paulo Roberto Ferreira lança hoje (04), em São Paulo, no SESC Avenida Paulista, o seu novo livro “Encurralados na ponte: o massacre dos garimpeiros de Serra Pelada” (Editora Paka-Tatu, 206 páginas).
A publicação narra o drama dos garimpeiros que negociavam, em 1987, a manutenção da extração manual do ouro de Serra Pelada e exigiam melhores condições de trabalho, porém foram fuzilados ou obrigados a saltarem de uma altura de 76 metros para o leito do rio Tocantins. Muitos estão desaparecidos até hoje.
O livro-reportagem revela o modus operandi do Estado em relação aos conflitos sociais; a disputa entre o governo federal e o governo estadual pelo controle de Serra Pelada; e a disparidade de interesses dentro da categoria garimpeira, que reúne do peão ao empresário.
A obra é fruto de uma pesquisa documental e inúmeras entrevistas jornalísticas feitas nos anos 1980 e 30 anos depois com os sobreviventes do massacre na ponte rodoferroviária de Marabá, por onde transita o minério de ferro de Carajás. O livro é uma forma de preservação da memória para melhor entendimento da história, numa região marcada pelos conflitos gerados por um modelo de desenvolvimento que exclui as populações locais.
Desde o dia 17 de julho o SESC Avenida Paulista abriu ao público a exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada”, do fotógrafo Sebastião Salgado (prossegue até o próximo dia 3 de novembro). Para ampliar o debate sobre o tema decidiu chamar para um bate-papo o autor paraense e dois garimpeiros de Serra Pelada. O título do evento é “As vidas de Serra Pelada” cujo objetivo é mostrar que o garimpo mais famoso do Brasil não é uma referência apenas sobre ouro, miséria, sofrimento, degradação ambiental, mas revelar também que lá “tem gente de carne e osso, pessoas cheias de sonhos, que lutaram e lutam pela sobrevivência, pela superação da miséria e da exclusão social”. E que os garimpeiros deixaram para “trás seus locais de origem, suas famílias, seus amigos”. Gente “que pegou malária, que viu a morte de perto quando um barranco despencou e soterrou seus companheiros de trabalho”.
O bate-papo com os três servirá ainda para conhecer uma gente que trabalhou duro, sem assistência médica, sem nenhum tipo de proteção social previdenciária. Gente que gerou 40 toneladas de ouro para engordar as reservas cambiais brasileiras. Gente que sobrevive de artesanato, do desejo de explorar e viver da riqueza de outros minerais, como o manganês ou pedras semipreciosas. Gente que fez de Serra Pelada o seu lugar de morada, seu lugar de vida, seu lugar de sonho.
O livro “Encurralados na Ponte – o massacre dos garimpeiros de Serra Pelada”, do jornalista Paulo Roberto Ferreira, será autografado logo após o bate-papo “As vidas de Serra Pelada”. Os outros convidados para o evento são: Ivan Barros de Almeida Lima, 72 anos, que nasceu em Grajaú, no Maranhão, chegou em Serra Pelada em fevereiro de 1980; e Etevaldo da Cruz Arantes, 55 anos, que aos 16 anos ingressou no garimpo na condição de “furão” (sem autorização). Arantes nasceu no Espírito Santo, no município de Pinheiros, migrou com a família para Marabá em busca de terra.