Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Apesar de protegida por lei, a mata ciliar do Rio Itacaiunas, em um trecho de 20 km que passa na área urbana de Marabá, está acabando, agora em ritmo acelerado. Um dos fatores que mais contribuem para o agravamento do problema é o crescimento da malha urbana, onde casas e condomínios são construídos em áreas próximas ao leito do rio. Outro fator que contribui enormemente para a supressão da vegetação marginal ao corpo hídrico são os esgotos a céu aberto, que são lançados sem nenhum tipo de tratamento.
A Reportagem do blog percorreu um trecho de 15 km no último domingo, dia 30 de outubro, e identificou um cenário de terra arrasada. Saindo do Porto do Tacho, passando pelo Balneário Vavazão e tantos outros que vão sendo construídos a cada verão, a paisagem perde o bucolismo de outrora e se transforma em uma barreira cinzenta do barro ou do cimento.
Algumas das consequências desse desmatamento desenfreado da mata ciliar já podem ser vistas por quem passa na ponte sobre o Rio Itacaiunas. Em períodos de estiagem, como agora, bancos de areia, às proximidades da ponte estão engolindo os pedrais do Pirucaba, um famoso balneário que chegou a ser o principal ponto de lazer até o início da década de 1980. Esse impacto é sintoma da ausência de vegetação, uma vez que deixa de oferecer proteção às águas e ao solo, causando erosão e aumentando o assoreamento nas margens do rio, não evitando, assim, o aporte de poluentes para o meio aquático.
Muitos são os fatores que têm contribuído para o massacre do rio Itacaiunas e que, na maioria das vezes, não são percebidos, algumas vezes por displicência da população, outras vezes pela inércia dos poderes públicos, que não fazem cumprir as leis de proteção ambiental.
O grito de que o Rio Itacaiunas agoniza com a poluição começou ainda na longínqua década de 1980, depois da explosão do garimpo de Serra Pelada. No afã de encontrar a maior quantidade de ouro, de forma fácil e rápida, os garimpeiros utilizaram mercúrio, um metal que causou muitos danos aos afluentes do Rio Itacaiunas, entre os quais a conhecida Grota Rica. Até hoje, segundo pesquisadores, os danos ainda são percebidos. O ecossistema ligado ao Itacaiunas levou um baque.
Depois, a instalação de indústrias e também a proliferação de fazendas, construção de casas próximo às margens e invasões urbanas causaram outros estragos, como assoreamento, lançamento de efluentes tóxicos, esgoto doméstico, entre outros.
E os esgotos estão por todos os lados e se transformam em afluentes malditos, que causam grandes impactos no velho rio que alimentou Marabá por mais de 70 anos. Encontramos pelo menos 34 pontos de grande lançamento de esgoto, vindos dos dois maiores núcleos habitacionais da cidade: Nova Marabá e Cidade Nova. Vindo canalizados por tubos de cimento ou mesmo num caminho cavaco na terra pelo curso d’água, quando os maiores esgotos encontram o rio, formam uma montanha de espuma preocupante.
Apesar de toda a poluição que lançamos no rio, algumas espécies de aves ainda resistem e cruzam um rio de um lado ao outro. Também identificamos tracajás, o que denota que o Itacaiunas ainda tem peixe (ainda que pequenos) para alimentar quem depende dele.
E por falar em peixes, os pescadores também são outra ameaça. Muitos utilizam redes de arrasto e ficam às proximidades das cachoeiras, onde sabem que há espécies graúdas que vivem ali, como jaú, barbado e caranha, por exemplo, os quais têm valor mais alto no comércio.
Às proximidades dos balneários maiores: Tacho, Vavazão e Taboquinha e Pôr-do-Sol na Folha 33 foram feitas as maiores “limpas” na mata ciliar. Com o tempo, os banhistas e os barraqueiros depenaram as margens e o rio está ficando cada ano mais raso nas imediações desses lugares citados.
Um projeto deslanchado pelo Ministério Público e em parceria com várias entidades tenta, com dificuldades, revitalizar o Rio Itacaiunas na área urbana de Marabá, mas apesar de a iniciativa já ter mais de um ano, até agora apenas levantamentos esparsos foram realizados.