Brasília – O sistema político brasileiro, elaborado, claro, pelos interesses dos próprios políticos, foi pensado, desde sua concepção para, se não impedir, pelo menos dificultar ao máximo, a renovação dos mandatos a cada ciclo eleitoral.
No Pará a tendência segue a regra à risca. Dos 17 deputados federais da bancada paraense, eleitos em 2018, apenas dois não disputarão a reeleição: Beto Faro (PT), que é candidato ao Senado Federal, e Nilson Pinto (PSDB), que abriu mão de sua reeleição para tentar eleger a esposa, Lena Pinto.
Um novo levantamento realizado pela Queiroz Assessoria reforça a tendência de menor taxa de renovação, desde a redemocratização, nas eleições para a Câmara dos Deputados, com índice de renovação que pode ser inferior a 40%, com recorde de candidatos à reeleição. O quadro abaixo é revelador e explica, em parte, porque é quase impossível novos candidatos conseguirem romper a muralha imposta pelas regras eleitorais e que beneficiam que já tem mandato.
Segundo o analista político Antonio Augusto de Queiroz, dos 448 atuais deputados federais que iriam concorrer à reeleição, três desistiram de suas candidaturas – Pedro Bezerra (PDT/CE), David Miranda (PDT/RJ) e Tiago Andrino (PSB/TO), dois tiveram o registro negado pela Justiça Eleitoral — Paulinho da Força (SD/SP) e Ottaci (SD/RR) —, um concorrerá ao Senado e outro desistiu da reeleição. Assim, permanecem na disputa à reeleição 441 parlamentares, dos quais 369 são bastante competitivos à manutenção de suas cadeiras. Neste contexto, cerca de 72% da atual composição da Câmara dos Deputados possui elevadas chances de reeleição.
Por sua vez, considerando as vagas que deverão ser ocupadas por novos parlamentares, a tendência é que cerca de 80% delas sejam preenchidas pelo fenômeno da “Circulação de Poder”. Ou seja, deverão ser ocupadas por parentes diretos de políticos tradicionais ou por políticos experientes — ex-vereadores, ex-deputados estaduais/distritais/federais, ex-senadores, ex-governadores, ex-vice-governadores, ex-ministros e ex-secretários de Estado.
Assim, a renovação de fato — representada por candidatos que nunca ocuparam cargos públicos e que não são parentes diretos de políticos tradicionais — deve ficar em torno de 10%.
O levantamento da Queiroz Assessoria analisou exaustivamente as candidaturas à Câmara dos Deputados para identificar aquelas que sejam mais competitivas e, a partir daí, tentar estimar o tamanho das bancadas partidárias a partir de 2023
Para tanto, foram analisados cinco aspectos distintos das candidaturas: I) histórico eleitoral dos partidos e de seus candidatos; II) pesquisas de intenções de votos; III) projeções eleitorais realizadas pelos partidos e coligações; IV) estrutura de campanha dos candidatos — político-partidária, financeira, seguidores nas mídias sociais, nível de conhecimento do eleitoral e tempo de propaganda no rádio e na TV; e V) projeções de cálculo do quociente partidário e sobre a expectativa de disputa das sobras, considerando as novas regras eleitorais.
Como resultado do levantamento, estima-se que a fragmentação partidária na Câmara dos Deputados deverá se manter estável, com 23 siglas com representação na Casa. Destas, nove siglas apresentam tendência de crescimento, são elas: PT, que deve aumentar sua bancada em sete cadeiras; Podemos, em seis; PSOL, em três; PSB, PSDB, PDT, PCdoB, PSC e Patriota poderão elevar suas bancadas em uma cadeira, cada. Outros nove partidos deverão perder vagas, a saber: o PP, cerca de seis assentos; o Republicanos, cinco; o PSD, quatro; o PROS, dois; o PL, o União, o Novo, o Cidadania e o PV, um cada. Por fim, cinco siglas deverão se manter estáveis: MDB, Solidariedade, Avante, PTB e Rede.
“Esse quadro pode mudar, de acordo com o “sucesso” de candidaturas aos executivos estaduais, é o caso do MDB do Pará, que pode ampliar a sua bancada na Câmara dos Deputados do autuais dois deputados (Elcione e Printe), para até 7 novos deputados, de acordo com o que ocorrer com as sobras eleitorais”, estimou o cientista político Dornélio Silva, da Doxa Pesquisas (veja aqui).
Relação dos candidatos mais competitivos.
Pará
MDB | Prognóstico 3 a 4 | Tendência de 3, segundo a Queiroz Assessoria, mas de 6 a 7, de acordo com o Doxa Pesquisas
Elcione (MDB) | Reeleição
Priante (MDB) | Reeleição
Olival Marques (MDB) | Reeleição
Alessandra Haber | Circulação de Poder
Keniston (MDB) | Circulação de Poder
Henderson Pinto (MDB) | Circulação de Poder
Renilce Nicodemos (MDB) | Circulação de Poder
PL | Prognóstico 2 a 3 | Tendência de 2
Delegado Éder Mauro (PL) | Reeleição
Joaquim Passarinho (PL) | Reeleição
Delegado Eguchi (PL) | Circulação de Poder
Delegado Caveira (PL) | Circulação de Poder
Federação PT/PCdoB/PV | Prognóstico 2 a 3 | Tendência de 2
Airton Faleiro (PT) | Reeleição
Dilvanda Faro (PT) | Circulação de Poder
Ana Júlia Carepa (PT) | Circulação de Poder
União Brasil | Prognóstico 1 a 2 | Tendência de 2
Celso Sabino (União) | Reeleição
Hélio Leite (União) | Reeleição
Federação PSDB/Cidadania | Prognóstico 1 a 2 | Tendência de 1
Lena Pinto (PSDB) | Circulação de Poder
Arnaldo Jordy (Cidadania) | Circulação de Poder
Alexandre Von (PSDB) | Circulação de Poder
PSD | Prognóstico 1 a 2 | Tendência de 1
Júnior Ferrari (PSD) | Reeleição
Eduardo Costa (PSD) | Reeleição
Raimundo Santos (PSD) | Circulação de Poder
Republicanos | Prognóstico 1 a 2 | Tendência de 1
Vavá Martins (Republicanos) | Reeleição
Joaquim Campos (Republicanos)
PDT | Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 1
Giovanni Queiroz (PDT) | Circulação de Poder
Miro Sanova (PDT) | Circulação de Poder
Manoel Veloso (PDT)
PP | Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 1
Cristiano Vale (PP) | Reeleição
PSB | Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 1
Cássio Andrade (PSB) | Reeleição
Psol/Rede| Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 1
Marinor Brito (PSOL) | Circulação de Poder
Vivi Reis (PSOL) | Reeleição
PTB | Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 1
Paulo Bengtson (PTB) | Reeleição
Márcio Miranda (PTB)
PSC | Prognóstico 0 a 1 | Tendência de 0
Júlia Marinho (PSC)
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.