Um golpe nefasto, autoritário e perigoso. Foi assim que o professor Maurílio de Abreu Monteiro, agora ex-reitor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), classificou o ato do presidente da República, Jair Bolsonaro, que ignorou a eleição dele, por ampla maioria, para continuar dirigindo a instituição por mais quatro anos, e nomeou o professor Francisco Ribeiro Costa, candidato menos votado na lista tríplice de postulantes ao cargo.
Maurílio afirmou que foi um golpe contra a autonomia das universidades federais e contra a democracia nessas instituições e na própria sociedade. “Errando ou acertando, a comunidade [acadêmica] deve ter autonomia, deve ter maturidade, para decidir que caminho seguir”, destacou o ex-reitor.
Ele também salientou que o golpe também atingiu as lideranças políticas de todos os municípios em que há campi da Unifesspa, uma vez que, após a vitória dele nas eleições, as Câmaras Municipais dessas cidades enviaram ofícios, aprovados por todos os vereadores, ao presidente da República, solicitando que Maurílio continuasse à frente da universidade, dado o bom trabalho, na avaliação deles, que ele vinha desenvolvendo.
O agora ex-reitor, com a voz embargada em vários momentos, disse que tem recebido inúmeras manifestações de solidariedade e ressaltou que aquele momento era de tristeza, de mágoa. Disse que encerra o mandato de cabeça erguida, agradeceu o companheirismo da vice-reitora Idelma Santiago, agradeceu às dezenas de técnicos e às centenas de professores que se uniram a ele em inúmeras lutas contra as muitas dificuldades que surgiram nos sete anos da Unifesspa, a grande maioria delas, vencidas. “A universidade muda a vida das pessoas, muda a vida da sociedade. Construímos uma universidade viva, construímos uma universidade unida e rebelde, construímos tudo com o apoio da sociedade”, disse Maurílio, que agradeceu também aos milhares de alunos da Unifesspa.
“Sabemos de onde veio o golpe, o golpe não veio daqui de dentro. Quem deu o golpe não está entre nós e nós não vamos morder a isca. Não vamos transformar isso em uma luta visceral”, advertiu Maurílio, revelando que muitas pessoas o procuraram afirmando que se manifestariam ocupando a reitoria. Mas, ele procurou apaziguar a situação. Disse que o golpe veio de gente que não quer uma universidade pública, forte, organizada que não quer ver o filho do pobre formado.
Idelma Santiago, por seu turno, agradeceu a Maurílio Monteiro e reforçou que o que aconteceu foi um ato não só contra a democracia interna da instituição, mas contra a sociedade da região. A ex-vice-reitora invocou o artigo 207 da Constituição Federal, que garante, entre outras coisas, autonomia administrativa às universidades federais, acusando a violação do princípio constitucional.
“A Unifesspa não é um caso isolado”, disse ela, referindo-se às demais universidades cujos reitores eleitos sofreram o mesmo revés. “Eles não suportam o papel da universidade pública no exercício da democracia, na luta pela liberdade acadêmica, luta pela democracia, pela inteligência crítica e pela pluralidade de pensamentos”, afirmou.
Por Eleuterio Gomes – De Marabá