O ex-governador Simão Jatene publicou em suas redes sociais na semana passada um vídeo (veja abaixo) onde declara estar fora das eleições 2022 como candidato. Nele, de forma didática, Jatene esclarece os motivos que o levaram à decisão de não disputar a eleição, assim como enumera várias obras que executou durante seus mandatos como governador do Pará, comenta o momento político do Estado e faz afirmações que, no mínimo, deveriam levar o povo paraense a refletir sobre o atual cenário político vivido pelo Pará.
O Blog do Zé Dudu procurou o ex-governador para que esclarecesse melhor os motivos que o levaram à essa decisão. Gentilmente, Jatene respondeu os questionamentos do blog. Confira:
Zé Dudu – O senhor anunciou, via vídeo postado nas redes sociais, o seu afastamento da disputa pelo cargo de governador do Pará nas próximas eleições. Nesse vídeo, justificando os motivos de tal decisão, o senhor enumera várias obras e ações realizadas nos 12 anos em que esteve à frente do governo do Pará e alega que sempre trabalhou baseado em um projeto de estado e não em um projeto de poder, que é o que se vê atualmente da maioria dos políticos brasileiros. Amparado por esta tua fala, eu pergunto: o que mudou na política em geral desde sua primeira eleição para governador, em 2002?
Simão Jatene – Antes de tudo, agradeço a oportunidade de ser entrevistado. Quanto à pergunta, devo registrar que, lamentavelmente, ética e política, nunca foram irmãs siameses. A história mostra momentos de aproximação e distanciamento entre elas, que refletem razões diversas. Particularmente no Brasil, nesse momento, parece que as duas se transformaram em inimigas mortais, refletido o rearranjo da nossa triste história de “modernização conservadora”, que, em resumo, significa “mudar pra manter”. Do que é exemplar a frase atribuída ao governador mineiro Antônio Carlos, que se referindo a Revolução de 30, teria dito: “ Façamos a revolução, antes que o povo faça”.
Explico! Entendo que o processo de formação da sociedade brasileira tem sido marcado pelo que apelido de “síndrome de ismos”, ou seja, pelo populismo; personalismo; clientelismo; patrimonialismo; obscurantismo; etc… tudo com objetivo de criar e manter privilégios, ainda que as custas da destruição da “confiança” como elemento de coesão social e da reprodução ampliada da pobreza e desigualdade.
A “lava jato”, que foi aproveitada pelo movimento “bolsonarista” e, inicialmente, parecia ser apenas mais um um capítulo do tradicional “mudar pra manter” , ao transbordar para as ruas, passou a dar sinais de que poderia desembocar em um processo de mudança efetiva, o que provocou pânico das elites ( politica, econômica, jurídica, etc…) que, se rearranjaram, com o objetivo de se protegerem para manter privilégios, esvaziando a política de conteúdo publico, e os partidos da sua condição essencial de educador coletivo, transformando tudo em negocio privado.
Exemplo claro é que os debates sobre eleições tem passado ao largo das grandes questões de interesse da sociedade, o que ocorre de forma ainda mais grotesca aqui no Estado. O País e o Estado são secundários para uma política movida por uma polarização de conteúdo ideológico superficial, sem sonhos e projetos públicos, na qual partidos sem identidade, amontoam políticos – na grande maioria sem credibilidade, tudo para garantir impunidade e privilégios.
Zé Dudu – O senhor é um dos fundadores do PSDB, mas se viu “obrigado” a deixar o partido no final do ano passado depois que, em 2020, os deputados estaduais tucanos votaram contra a aprovação de suas contas de 2018. Apesar de fora do partido, o senhor ainda mantém relação com a alta cúpula do PSDB a nível nacional. Ontem, o candidato vencedor das prévias do partido, João Dória, renunciou à disputa pela presidência, deixando o PSDB como coadjuvante na próxima eleição. Como o senhor vê a situação do partido a nível estadual e nacional nesse momento?
Simão Jatene – Inicialmente, devo esclarecer que não deixei o partido pelo fato dos deputados terem votado contra a aprovação das contas do governo sem qualquer razão técnica, como bem demonstram a aprovação unanime do Tribunal de Contas do Estado -TCE, as repetidas avaliações do Tesouro Nacional – que sempre apontaram a gestão fiscal do Estado como uma das melhores do Brasil, e ainda, a própria realidade, uma vez que enquanto, na crise, grande número de estados parou serviços e até atrasou salários, o Pará não passou por nada disso. Aliás sempre achei e disse que esse estranho comportamento dos deputados só podia ser explicado por eles, pois se não existia razão técnica ou legal, só poderia refletir uma questão ética, moral, mais propriamente de caráter e sobre isso não me cabe julgar. Eu continuo andando nas ruas e sou grato pelo carinho e respeito da população.
A verdadeira razão da minha salda, foi o progressivo afastamento do partido de princípios e razões que, no meu entendimento, motivaram a sua fundação e deram sentido, até então, à sua própria existência.
Inegavelmente, o PSDB, foi um partido que deu enorme contribuição para o Brasil, implementando um projeto de desenvolvimento nacional. Particularmente, aqui no Estado, mudou a forma de fazer gestão e tratar o dinheiro público. Procurou respeitar as diferenças e os diferentes, aceitando a crítica e liberdade de expressão, não perseguindo adversários, abolindo os resquícios da velha política do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. E implantou um amplo e inquestionável programa de realizações, com obras e projetos que mostraram ser possível fazer politica de forma diferente, que se transformaram em marcas a incentivar novos tempos.
Consequentemente, a não ser por conveniências pessoais e razões nada republicanas, é inacreditável que a derrota em uma eleição sirva de pretexto para que se renegue a história de um partido com o legado do PSDB, transformando-o em linha auxiliar de um grupo político com práticas e comportamento absolutamente opostos e se passe a apoiar um governo autoritário, sem projeto, sem realizações, e, cotidianamente, marcado por escândalos que busca esconder, controlando a informação e perseguindo quem lhe contraria, envergonhando assim as pessoas de bem.
Zé Dudu – O senhor governou este estado por 12 anos, além de ter sido secretário de planejamento nos governos de Jader Barbalho e Almir Gabriel. Então, podemos dizer, que poucos conhecem o Pará como o senhor. Em 2011 houve o plebiscito na tentativa de separar o Pará em três e o senhor, como governador do estado, e até pelo juramento que fez quando da posse, de “manter a integridade do estado”, foi contra a divisão. Passados 12 anos, o senhor ratifica a decisão que tomou à época, acredita, ainda, que a divisão do Pará não é fator preponderante para a melhoria na qualidade de vida do paraense?
Simão Jatene – Eu sempre digo que essa é uma questão bastante complexa que, lamentavelmente, é discutida com grande passionalidade e baixa racionalidade. Senão vejamos: a distribuição desigual da riqueza no território não é uma particularidade do Pará. A rigor, está presente na história de todas as nações e é mais ou menos grave, dependendo de diversos fatores, especialmente do êxito das politicas de desenvolvimento regional.
Vejamos por exemplo São Paulo, que tem 645 municípios, e concentra mais de 30% do PIB brasileiro. Quando analisamos o PIB dos municípios verificamos que, em 2018, enquanto a capital apresentou um PIB de 714 bilhões de reais, os mais importantes municípios vizinhos já apresentaram valores bem inferiores como: Osasco com 77 bi; Campinas com 61 bi e, ainda, no mesmo estado, vamos encontrar também municípios como Torre de Pedra, com PIB de 30 mi; Arapeí com 31 mi, Nova Guataporanga com 31 mi, ou seja, com um indicador de riqueza 20 mil vezes menor que o da capital.
Quando analisado o PIB per capita, que, apesar de também ser limitado como indicador de qualidade de vida, é menos grosseiro, a desigualdade é confirmada, entretanto, em escala infinitamente menor. Na capital, em 2019, estava em torno de 60 mil, enquanto em Torre de Pedra era de 12 mil. Ou seja, apenas 5 vezes menor. Todo esse quadro mostra como a questão é complexa.
Por outro lado, indicando de forma mais enfática como o problema não pode ser resumido a uma questão de “achismo” ou querer, o município paraense de Canãa dos Carajás, em 2019, apresentou um PIB per capita de 289 mil reais , ou seja, aproximadamente, 5 vezes maior que o de São Paulo, e um dos maiores do Brasil.
Como se vê, qualidade de vida não depende apenas da riqueza produzida, mas também e, fundamentalmente, de como essa riqueza é produzida e, sobretudo, distribuída. Consequentemente, continuo acreditando que a redivisão de qualquer território objetivando melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes, faz sentido se for parte de uma estratégia de desenvolvimento regional e urbano. Caso contrário, por mais bem intencionadas que sejam as propostas, certamente, correm o risco de contribuir para proselitismo e manipulação política, trazendo mais tensão e frustração que solução.
Zé Dudu – O senhor completou no dia, 2 de abril, 73 anos de idade. Cumprimentando-o, eu quero saber em que partido o senhor pretende militar e o que será do político Jatene daqui em diante, já que, no final do mencionado vídeo, o senhor diz: “Jamais deixarei de buscar e tentar construir projetos de desenvolvimento para a região e o estado”. Essa sua fala é um até breve, podemos esperar Jatene vivo e atuante ou o senhor pretende se manter ausente da política?
Simão Jatene – Acredito que numa sociedade com limitado nível de conhecimento e baixa participação cultural, como a nossa, o controle e manipulação da informação tem efeitos muito mais danosos, diria mesmo, que tem efeito criminoso, por contribuir para o embotamento cognitivo da população, travando o seu desenvolvimento. Nestes casos, o papel de “educador coletivo”, que deve ser uma das principais tarefas dos partidos políticos, ganha maior relevância. Todavia, tendo em vista que, lamentavelmente, aqui no Estado estamos vivendo a tempestade perfeita, considerando que o controle ditatorial e manipulação da informação por parte do grupo no poder, está atrelado a crescente desqualificação de políticos e partidos, entendo que, mais do que nunca, se não quisermos perder definitivamente o trem da história , urge criar e identificar, ainda que fora dos partidos, espaços que possam contribuir para mobilizar sentimentos e gerar uma nova utopia, novo sonho realizável.
Zé Dudu – Para concluir, o senhor afirma no vídeo que foi perseguido pelos opositores e injustiçado pela justiça eleitoral, que cassou seus direitos políticos. O que o senhor pensa sobre a seguinte frase de Sócrates: “Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados”.
Simão Jatene – Entendo que a frase de Sócrates nos convida a refletir sobre as limitações do homem e sua natural imperfeição e falibilidade. Entretanto, não vejo que esse reconhecimento do erro signifique a concordância ou complacência com o mesmo. E nesse sentido o próprio filósofo diz: “ Eu não posso ensinar nada a ninguém, só posso faze-lo pensar”. No vídeo procurei descrever fatos, que ajudem as pessoas à reflexão.
Confira o vídeo onde Jatene informa estar fora das eleições 2022:
3 comentários em “Exclusivo: Entrevista com Simão Jatene”
O Estado merece o governador CORRUPTO de berço que tem, pois o escolheu, no entanto tem a grande oportunidade de se redimir neste ano de eleição, lembrando que o grande genocida da pandemia foi ELE, Helder que enquanto pessoas estavam morrendo ELE estava em coluio com GANGS especialistas em saquear dinheiro público. Os paraenses não podem esquecer ISSO. Então outubro tá na porta e a vacina anti corrupção também, o voto.!!!!!!!
Martinho, se for pra ficar claro, é importante dizer que não é por corrupção que o ex governador Simão Jatene está fora das eleições. Corrupção é roubar dinheiro do Estado, como foi roubado durante a pandemia por este governador que está aí e que só neste mandato, já recebeu 5 vezes a visita da Polícia Federal.
No caso específico do processo que tornou o ex governador Simão Jatene inelegível, trata-se de abuso de poder econômico, alegado pelo TSE, com relação ao Cheque Moradia, onde supostamente, o ex governador teria aumentado o número de beneficiários em ano de eleição. Ou seja, não houve desvio de dinheiro público para as mãos de político.
Na realidade o ex governador Jatene não disputará o cargo de governador por corrupção que isso fique bem claro.
Falar das grandes obras que foram realizadas no governo Jatene fica até difícil de enumera-las porque foram tantas que ficaríamos aqui escrevendo o dia todo.
Eu faço aqui um convite para os nossos eleitores do Pará busque em pesquisa e vejam também a qualidade das OBRAS.
Nenhum governador fez ou fará uma gestão o quanto Jatene, mesmo que seja eleito e reeleito.