As estruturas da mineradora multinacional Vale na Serra Norte de Carajás foram abaladas pelo novo coronavírus, que derrubou em 23% as exportações de Parauapebas em maio deste ano ante o mesmo período do ano passado. É uma queda vertiginosa na produção e que causou, direta e indiretamente, uma outra pandemia do outro lado do oceano, na China: a do aumento invisível e rápido do preço do minério de ferro.
É que, com a sensação de menos minério sendo embarcado por Carajás, região que mais produz commodity de elevada pureza no mundo, o mercado financeiro entendeu que haverá no curto prazo pouca oferta do produto que sustenta a faminta indústria chinesa de aço. Com menos oferta e alta demanda, o preço valoriza e sobe. E, por isso, em maio a tonelada do minério de ferro voltou a passar de 100 dólares, preço que, no médio prazo, segundo analistas, não se sustenta, à medida que a pandemia de Covid-19 se estabilizar e a produção for retomada com força total.
As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que observou ser o mês passado um dos mais difíceis para a produção de ferro em Carajás. Uma queda tão robusta assim Parauapebas só havia experimentado em maio de 2015. O mês passado rendeu na capital do minério 432,1 milhões de dólares em ferro, 100 milhões a menos que em maio de 2019, quando foram exportados do município 532,8 milhões.
Mas Parauapebas não está sozinho. Situação muito pior foi a vivida por Canaã dos Carajás. Em maio passado, o município transacionou 171 milhões de dólares em minério de ferro, 68% a menos que os 538,7 milhões de 2019 e quando, aliás, de forma inédita, Parauapebas fora superado na produção da commodity.
Além disso, Canaã deixou pela primeira vez desde 2017 o pelotão seleto dos dez maiores exportadores do Brasil, tendo sucumbido à pandemia e se organizado na 11ª colocação nacional, enquanto Parauapebas ficou em 4º — não porque exportou muito, mas porque todos os gigantes da exportação também despencaram. Canaã fechou maio imediatamente atrás do paraense Barcarena, que somou 209,2 milhões de dólares exportados, o melhor desempenho do município que transforma alumínio desde 2011.
Por seu turno, o maior produtor e exportador de cobre do país melhorou em relação a 2019. Com uma cesta de commodities diversificada, Marabá fechou o mês passado na 22ª colocação e com 137,9 milhões de dólares exportados, 43% a mais que os 96,3 milhões de dólares de 2019. Atropelando a pandemia, esse foi o segundo melhor maio da história de Marabá, só superado por 2018, quando as exportações totalizaram 155,1 milhões em maio daquele ano. Entre perdas e ganhos, cada município viveu o maio pandêmico de seu jeito.