Ainda bem que o preço da tonelada do minério de ferro está voltando a subir porque quem da commodity depende já anda preocupado. Parauapebas e Canaã dos Carajás, por exemplo, têm motivos de sobra para entrarem em alerta num cenário de queda de preços ou diminuição da produção física, ou pior, na ocorrência das duas coisas: preço baixo e produção menor.
Dados analisados pelo Blog do Zé Dudu da balança comercial por município, liberados nesta quarta-feira (9) pelo Ministério da Economia, mostram que o mês de fevereiro foi extremamente ruim para a economia dos dois medalhões nacionais do minério de alta performance. Em Parauapebas, a movimentação financeira de transações minerais despencou 44,7% em relação ao mesmo período do ano passado, sinal claro de que a maré não está para peixe.
No mês passado, foram exportados 510,65 milhões de dólares de Parauapebas ante 923,23 milhões de dólares em fevereiro de 2021. Com isso, pela primeira vez em mais de três anos, Parauapebas deixou de frequentar o “Top 3” dos maiores exportadores nacionais, do qual era anfitrião juntamente com os municípios cariocas de Duque de Caxias e Rio de Janeiro.
Mas a situação de Canaã dos Carajás foi sem igual. A Terra Prometida teve o pior fevereiro dos últimos quatro anos, com 280,65 milhões de dólares transacionados ante 665,03 milhões de dólares no mesmo período do ano passado, queda de 57,8%. Acostumado a estar sempre entre os cinco maiores exportadores do Brasil, em fevereiro o município não apareceu sequer entre os dez.
Queda histórica
As razões para a depressão econômica são muitas e podem ser pontuais ou não. A curva de preços mostra que, enquanto no ano passado a tonelada do minério de ferro fechou fevereiro com cotação média de 165 dólares, este ano o preço médio foi de 140 dólares, retração de 15%. Além disso, o volume extraído e exportado diminuiu sensivelmente, tanto por conta das chuvas que caem na região quanto por questões estratégicas.
Em Canaã foram produzidas e enviadas ao exterior 2,824 milhões de toneladas de minério de ferro, dois milhões a menos que em fevereiro de 2021 e o menor volume desde 2018. Já em Parauapebas o cenário foi ainda pior: não se embarcava tão pouca quantidade de minério de ferro rumo ao estrangeiro desde 2007, conforme levantou o Blog do Zé Dudu.
Este ano, a exportação parauapebense totalizou 5,976 milhões de toneladas, contra 7,26 milhões no ano passado. No auge da produção, em fevereiro de 2016, quando se exigiu extração mineral surreal diante do preço extremamente baixo do minério para compensar o caixa à época, Parauapebas rendeu 11,95 milhões de toneladas, o dobro do cenário de 2022.
As repercussões locais desse assunto, que parece distante da realidade do cidadão de Parauapebas e de Canaã dos Carajás, são inúmeras, a começar pelo fato que obras públicas podem se estender por prazo acima do previsto inicialmente ou até mesmo serem paralisadas. Isso porque as exportações geram os chamados royalties de mineração, que nutrem as finanças dessas localidades. Atualmente, mais de 50% da receita das prefeituras em questão são provenientes de royalties e boa parte da receita restante também está ligada à mineração, por meio de taxas e impostos diversos.
O funcionalismo é outro a ser afetado, principalmente os servidores com contrato temporário, uma vez que, muito embora não sejam pagos com a receita principal (os royalties), eles são remunerados com recursos que muitas vezes advêm da mineração, como o Imposto sobre Circulação de Serviços (ICMS). Quando a lavra diminui, o ICMS diminui lá na frente, pressionando por redução de salarial.
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