“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem”. (Hebreus 11,1)
O capítulo 11 do 58º livro da bíblia sagrada é dedicado a demonstrar o valor da fé para os cristãos. Mas essa confiança fundamental não é importante apenas para os religiosos. Acreditar na ciência exige tanta fé quanto crer em Deus e em seus milagres.
Como diria Gilberto Gil, “mesmo a quem não tem fé, a fé costuma acompanhar”. Seguindo a canção, até o mais ateu dos cientistas, em alguma medida, em algum ponto, desenvolve um esforço de crença para sustentar suas “verdades”. Assim, a ciência ganha sua própria versão do dogma religioso: o axioma.
Complicado? Nem um pouco. É como aquele momento da aula de matemática em que o aluno pergunta “por que isso é assim?” e o professor responde “porque sim”. O axioma é uma afirmação geral, aceita sem discussão. E a ciência está cheia deles: “Se A=A, então A=A”; “Entre dois pontos existe apenas uma reta”; “se A=não-B, na ocorrência de A não ocorre B”; e por aí vai.
É assim também no plano religioso. Para o cristianismo, por exemplo, Deus criou o universo e o que nele há, e ponto final (ou inicial, se pensarmos no começo de tudo). Aliás, mesmo para os adeptos da teoria do Big Bang, há questões que a ciência não consegue explicar. Se o universo inteiro surgiu do nada, sem motivo algum, sem nenhum criador, porque o nada não continuou sendo (ou não sendo)… Nada?
E mais: como é possível, a partir do nada atemporal e imaterial, surgir algo que crie espaço, tempo e aí ocupe um lugar? Seria um “milagre” científico? Deus brincando com as leis da física e metafísica? De um jeito ou de outro, ciência e religião precisam se agarrar a um fundamento inexplicável para defender boa parte das suas posições. É preciso ter fé, “a prova das coisas que não se vêem”.
Mais recentemente, ciência e religião têm-se agarrado também uma à outra para dar mais consistência à busca por uma verdade universal. Tudo bem, não chega a tanto, mas um diálogo proveitoso tem ocorrido e a prova disso são as sociedades criadas para esse fim nos Estados Unidos e Europa, as conferências com cientistas renomados explorando as implicações da ciência para a teologia e até mesmo as cadeiras em ciência e teologia criadas em universidades como Cambridge e Oxford.
E, se esse diálogo já vem ocorrendo nos chamados altos círculos da igreja e da academia, não seria também o momento de exercitá-lo sinceramente no seio da sociedade, excluindo posturas intolerantes e desrespeitosas? Vamos aguardar com fé que isso ocorra. Afinal, se Gil estiver certo, tudo correrá bem: “A fé não costuma falhar”.
* – Diego Pajeú é jornalista graduado e possui formação superior em Gestão Empresarial. É graduando em História e pós-graduando em Gestão da Comunicação e Marketing Institucionais. Facebook: diegopajeuoficial / e-mail: diegopajeu@yahoo.com.br