Com cerca de 90 anos de povoamento, o Núcleo São Félix, em Marabá, tem mais de 50 mil habitantes. Mas, talvez por estar separado do restante da cidade, na margem direita do Rio Tocantins, chamado até de “outro lado da ponte”, sempre passou ao largo dos grandes investimentos públicos. E agora os moradores da área enfrentam um outro problema: o avanço das facções criminosas e das mortes. Só neste mês de março, ocorreram duas chacinas com seis vítimas fatais, mas o problema não vem de hoje.
Para a Imprensa de Marabá, a Polícia Civil explicou que uma das linhas de investigação a respeito das duas chacinas ocorridas naquele núcleo habitacional (nos dias 14 e 21) têm como motivação da disputa pelo controle do tráfico de drogas na região, conforme palavras do delegado Vinícius Cardoso das Neves, superintendente regional de Polícia Civil em Marabá.
Porém, ao fazer um recuo na linha do tempo, percebe-se que as ações criminosas na área, com envolvimento em outras mortes, têm se acentuado há algum tempo.
No dia 22 de dezembro do ano passado, dois traficantes foram mortos em confronto com a polícia, no Bairro São Félix I. Na mesma ação policial, comandada pela alta cúpula da segurança do Estado, foi preso o perigoso Cláudio Emanuel Neves Ramos, o “Claudinho CV”. Além dele, outro criminoso, José Vandercley Lima dos Santos, conseguiu fugir. Todos eles eram acusados de matar quatro pessoas no Núcleo Cidade Nova, no caso que ficou conhecido como “Chacina do Bairro da Paz”.
No mês de janeiro, José Vandercley seria preso no Estado do Goiás. Mas a matança continuou no São Félix, com a execução de seis pessoas nos bairros São Félix II e Residencial Magalhães. Entre as vítimas, pelo menos duas eram inocentes e acabaram perdendo a vida por estarem próximas demais de toda essa guerra do tráfico, como explicou o próprio delegado Vinícius Cardoso.
Nas chacinas recentes, primeiro foram mortos Carlos Henrique Santos da Silva, de 24 anos, e Murilo Gabriel de Oliveira Batista, de 19, ambos acusados de tráfico. Junto com eles, também foi morto o adolescente Hudson de Jesus Barros, de apenas 16 anos, que estava no lugar errado, na hora errada e com as pessoas erradas. Essa matança aconteceu dia 14.
Exatamente sete dias depois (no dia 21), foram executados os traficantes Wesley Pageú do Carmo, de 31 anos, e Darley da Silva Soares, o Loirinho; e foi mota também Kécia Conceição dos Reis, uma simples dona da casa onde o crime aconteceu e que teria acolhido os criminosos a pedido da mãe de um deles.
Diante de toda essa matança, o Departamento de Homicídios da Polícia Civil atua em várias frentes, tentando localizar e prender não apenas os executores, mas principalmente os líderes das facções criminosas que ordenam as mortes em nome do controle sobre o território.
Mas esse trabalho, ao que parece, vai requerer uma ação muito mais eficaz e interdisciplinar do Estado, pois a estética dos bairros, principalmente os novos surgidos a partir do programa Minha Casa Minha Vida, denuncia o controle de áreas do núcleo por facções. E isso é facilmente visto nas pixações em muros e casas.
Em alguns locais, as praças e outros espaços públicos ficaram abandonados, dando lugar ao crime; outros residenciais sequer foram concluídos e muita gente invadiu as casas, fazendo ligações clandestinas de energia, sem mesmo ter água potável. Há muita gente trabalhadora de baixa renda nesses locais, mas também há muitos criminosos homiziados nas ruas escuras e cobertas de mato e poeira que se perdem na periferia da periferia da cidade e que só são lembradas quando ocorre uma chacina.