Já está marcada a sétima ocupação da Estrada de Ferro de Carajás, que liga o Estado do Pará ao Maranhão e é operada pela mineradora Vale. A ferrovia é responsável por movimentar 22 milhões de dólares na balança comercial brasileira com o escoamento do minério de ferro e a próxima paralisação dela está programada para outubro, devendo reter as atividades da multinacional por, no mínimo, dez dias.
A novidade é que a ação não será liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) mas sim por diversas entidades e movimentos sociais. Eles já se articulam para pôr em prática o plano ‘Justiça nos Trilhos’, uma ação orquestrada contra à extração mineral no Pará. Os líderes do grupo de bloqueadores estão no ‘Comitê Dorothy Stang’ e foram definidos em reunião dentro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na manhã de ontem.
A informação é de uma fonte de O LIBERAL que esteve presente no encontro do movimento ‘Justiça nos Trilhos’, que prefere não se identificar. O grupo prevê um seminário sobre a estrada de ferro que vai preparar para os debates do Fórum Social Mundial, evento agendado para janeiro de 2009, em Belém. A interrupção da via é o aperitivo do que deve ocorrer no Fórum Social, com discussões e uma série de protestos contestando a relação da mineradora com as populações das cidades em que a empresa mantém projetos.
As lideranças da próxima interrupção da ferrovia estão com a incumbência de mobilizar as comunidades da área de influência da estrada de ferro sobre a ‘justiça social e cuidado com o meio ambiente’. Os membros do Comitê Dorothy Stang têm a missão de manter a campanha até início de outubro deste ano, depois avaliar a conjuntura e, conforme for, iniciar a primeira interrupção dos serviços da via por um período de dez dias. Ficou dito no encontro que o MST está afastado da linha de frente devido ao desgaste junto à opinião pública depois das sucessivas intervenção na estrada que serve à mineradora.
A fonte conta ainda que as comunidades já estão sendo mobilizadas através de ‘vasto material impressso’, no território paraense e também no Maranhão. Outra estratégia nova do bloqueio anunciado é não concentrar os manifestantes em um único lugar. Foi determinado que, no mínimo, duas frentes de homens e mulheres se coloquem nos trilhos para impedir a passagem dos vagões da Vale, que transportam minério e passageiros. A proposta é bloquear parte da estrada no Pará e outro trecho situado em terras maranhenses.
Mobilização de comunidades começa com distribuição de panfletos
A ação contra a empresa mineradora deve ter financiamento nacional e internacional e a fonte conta que já estão alocados recursos para a primeira ação, ou seja, já existe o dinheiro para paralisar a estrada e realizar o seminário sobre os trilhos. A divulgação da idéia já está circulando em panfletos nas cidades em que a Vale tem base no processo de industrialização dos minérios.
Estiveram presentes na reunião os padre Enrique Bayo, um dos delegados do Congo; os padres Gustavo Covarrubias, Raimundo Nonato e Dario Bossi, da coodenação do Fórum Comboiano; a irmã Henriqueta Cavalcante, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB; representantes da coordenação do Fórum Social Mundial e do movimento ‘Reage São Luís’; dos Sindicatos dos Metalúrgicos da Itália, dos Ferroviários do Pará, Maranhão e Tocantins e Maranhense dos Direitos Humanos; da Central Única dos Trabalhadores do Maranhão; do Fórum Carajás; além de lideranças do MST e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
Segundo a Vale, a última interdição da ferrovia, ocorrida em 13 maio deste ano, resultou no seguinte:
Destruição de 1.200 grampos que fixam os trilhos ao solo, em mais de 200 metros de extensão; cabos de fibra ótica cortados e interrupção da comunicação via celular de Carajás, danos a mais de 300 dormentes com fogo e comprometimento da sustentação da linha da estrada de ferro. Pela estrada, são transportadas 1.300 pessoas por dia, vindo dos 23 municípios ao longo da via, entre o Maranhão e o Pará. No primeiro dia do bloqueio mais recente, deixaram de ser transportadas 285 mil toneladas de minério de ferro.
Na ocasião, a mineradora apontou que a paralisação representou uma perda aproximada de 22 milhões de dólares por dia para a balança comercial brasileira.
Fonte : O Liberal