“É muita informação quando ocorre a soltura dos fogos de artifícios, e o cérebro dela recebe todo aquele barulho. Ela entra em crise, se arranha, se agride, se treme. Minha filha tenta achar um conforto que ninguém consegue dar para ela nesses momentos. Ela busca segurança, ela me abraça e eu não sei o que fazer. Para a nossa família é um momento desesperador e de angústia ao ver o sofrimento dela”. O relato é de Dalete Lorena, mãe de Gabriela Araújo, de cinco anos de idade, autista.
O fim de ano e as festas vão chegando e, com elas, espetáculos de luzes e fogos de artifício. Uma das atrações mais esperadas em muitos locais do mundo, o momento é magia para uns e puro desespero para outros, como visto no desabafo da mãe de Gabriela. Em Parauapebas, muitas famílias vivenciam a mesma situação.
“Nosso ano novo é sempre solitário,” explicou. “Enquanto as pessoas estão se preparando para passar a virada do ano na igreja ou eventos públicos voltados para a comemoração da data, a gente está se preparando para amenizar a dor e sofrimento de nossa filha”.
Além de pessoas que estão no espectro do autismo, o estampido dos fogos de artifícios é prejudicial também a idosos, bebês, enfermos, gestantes e mesmo aos animais de estimação. Devido ao ruído, os animais chegam a fugir, assustados com os estouros durante a virada do ano, por exemplo – desorientados, podem ser atropelados.
Por possuírem capacidade auditiva maior que a dos humanos, podendo detectar barulhos a uma distância quatro vezes maior, sons acima de 60 decibéis, equivalentes a uma conversa em tom alto, podem lhes causar estresse físico e psicológico, conforme informa o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Para lidar com a questão, diversas leis que proíbem os fogos de artifício com som alto foram criadas por todo o Brasil. No Pará, a lei estadual nº 9.593/2022 cumpre este papel.
Presidente da Associação dos Protetores dos Animais e Meio Ambiente de Parauapebas (Apama), Byancka de Lavor vivenciou de perto a perda de um animal para os fogos de artifício, durante a inauguração de um estabelecimento comercial. Para ela, para além da criação da lei, o que vale é a punição das pessoas que a infringem.
“Esperamos que os órgãos responsáveis de fato fiscalizem e punam quem descumprir a lei. A medida é importante, pois vidas estão em risco pela falta de conscientização de parte da sociedade, que ainda não percebeu o qual é ofensivo a soltura dos fogos com estampidos,” frisou Byancka.