A inflação acumulada dos últimos 12 meses em Marabá chegou à casa dos 9%, afirma o Laboratório de Inflação e Cesta Básica (Lainc) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). De acordo com o levantamento, o preço dos alimentos é o que mais tem pesado e um dos principais fatores para isso, no município, é o valor do frete.
A informação foi repassada pelo professor José Stenio Sousa, coordenador do laboratório. Ele observa que, embora existam 514 assentamentos rurais na região, notadamente no entorno de Marabá, a produção de alimentos dessas áreas de agricultura familiar não chega à cidade. Com isso, 90% dos produtos vêm de fora e é justamente aí que entra em cena o “efeito frete”.
“Se você for no supermercado, o arroz, o feijão, a farinha, a carne, vem tudo de fora do município. Para se ter uma ideia bem assustadora, a banana vem da Bahia, a melancia vem do Rio Grande do Sul. É uma coisa muito estranha isso,” observa o pesquisador.
Ainda de acordo com Sousa, isso significa que Marabá é dependente das importações: “Nesse caso, dado o comportamento do diesel nos últimos 12 meses, claro que os preços dispararam”. Ele acrescenta que, em julho, os preços estabilizaram devido às renúncias fiscais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas a partir de dezembro próximo e janeiro de 2023 a inflação deve subir novamente. “A importação é uma condição determinante na formação dos preços daqui”, resume o professor.
Falta crédito e assistência
Stenio Sousa disse que, ao visitar alguns assentamentos da região, percebeu que há dois problemas básicos: ausência de assistência técnica e, principalmente, falta de crédito para investimentos. Com isso, o pequeno produtor, que poderia abastecer a mesa do marabaense com produtos mais baratos, não consegue fazê-lo. Por isso, a maior parte dos produtos vêm de fora.
“O crédito é uma condição crucial, pois sem crédito você não pode fazer nada,” explica o pesquisador. Como os assentamentos são formados por pequenos produtores, acrescenta, estes dificilmente têm capacidade de produção grande. “Em última instância, eles terminam fazendo o quê? Produzindo só para sua subsistência”.
Saída emergencial
Em sua avaliação, a situação requer um pouco mais de zelo por parte do poder público, no sentido de criar mecanismos para diminuir o preço do transporte desses produtos. “Quando eu compro arroz, por exemplo, além do preço normal, que seria do custo de produção, tem o preço do frete,” observa.
Ainda de acordo com Stenio Sousa, é preciso haver uma articulação entre estado e município que garantam a redução do ICMS, para que o diesel tenha um preço menor. “Certamente, uma coisa é verdadeira: O diesel é um elemento que eleva o custo de vida da cidade de Marabá”, conclui.