Por Luiz Vieira ( * )
Nessa sexta, 29 de agosto tive o privilégio de assistir ao show do Zé Geraldo que nos deu a honra de sua presença no CDC num evento promovido pela Secretaria de Cultura. Quem esteve lá aproveitou o que há de melhor da música popular brasileira e relembrou de uma época de ouro, época essa que só nossa geração teve a oportunidade de viver.
Zé Geraldo completará 70 anos em dezembro mas continua com sua voz vibrante e seu tom afinado como na década de oitenta, quando passou a ser conhecido nacionalmente. No palco, apesar dos seus longos cabelos brancos, parece um garoto. Impossível não se empolgar e não contagiar com as canções de Zé Geraldo. O seleto público presente cantou junto com o artista do começo ao fim do show demonstrando que o que é bom não passa nunca e sempre permanecerá na memória.
O seu maior sucesso “Cidadão” marcou a geração rebelde que protestava, que botava para quebrar, que ia para a rua, que não aceitava as verdades inquestionáveis enlatadas que tentavam nos empurrar. Quem não se lembra desse refrão? “Meu domingo está perdido, vou pra casa entristecido, dá vontade de beber. E pra aumentar o meu tédio, eu não posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer”. Essa música gravada pela primeira vez por Zé Geraldo se tornou hino obrigatório em todos os encontros de jovens, nas reuniões de grêmios estudantis, nas passeatas e manifestações contra o sistema. Junto com outra canção de um outro Geraldo -Geraldo Vandré-, “Pra não dizer que não falei das flores” minha geração construiu um estilo revolucionário musical (ou um estilo musical revolucionário?) que deu um toque de suavidade e romance às nossas inquietações.
Entre uma canção e outra fiquei “matutando” sobre a minha geração e inevitavelmente vem a comparação com a geração atual. Basta comparar o gosto musical que você verá estampado na cara toda a diferença. Não éramos acomodados, não éramos alienados e não ficávamos só reclamando. Íamos à luta com coragem, mas sem perder a ternura como orientava nosso ícone Che Guevara. Gostávamos de discutir política, mas sem ofender os que tinham ideias contrárias. Discutíamos e debatíamos ideias com argumentos acadêmicos e no final confraternizávamos todos juntos, geralmente num boteco barato (dinheiro era artigo de luxo). Não tinha essa de achar que o outro era babaca só porque não era do nosso partido e nem pensava como nós. No máximo, a gente chamava o sujeito de alienado, com todo respeito.
Minha geração anos “80” gostava de ouvir uma boa música (e gosta até hoje). Boa música era aquela que tinha letra, que tinha conteúdo e uma boa melodia. Muito diferente dessa zoeira barulhenta e sem conteúdo que as grandes gravadoras nos empurram hoje. Nessa época se alguém fosse apanhado ouvindo um tal de “lepo-lepo”, um certo “reboleixo”, com certeza seria internado num hospício ou seria isolado da tribo. Minha geração gostava de se reunir com a galera e bater papo, olho-no-olho. Imagine se alguém ia ficar em local público com os olhos grudados numa telinha de celular ou usando rede social para ofender as pessoas! Aí você pode falar: “ah, mas naquele tempo isso não existia!” Mais hoje existe e estamos aqui usando essa tecnologia de forma inteligente e não sendo escravos dela.
Zé Geraldo embalou nosso espírito de rebeldia, nosso senso de responsabilidade e nossa consciência de cidadania. Com letras inteligentes nos impulsionava e nos fazia acreditar em nosso potencial. “…Toda força bruta representa nada mais do que um sintoma de fraqueza. O importante é você crer nessa força incrível que existe dentro de você. Meu amigo, meu compadre meu irmão, escreva sua história pelas suas próprias mãos” (Como diria Dylan). Zé também embalava nosso romantismo e nossa pureza: “Aqui é pequeno mas dá pra nos dois, e se for preciso a gente aumenta depois. Tenho um violão que é pras noites de lua, tenho uma varanda que é minha e que é sua. Vem morar comigo…” (Nega senhorita). Sacou? Isso é viver de forma pura, desapegada e intensamente. Melhor do que Facebook não é mesmo?
( * ) – Texto extraído do Blog do Professor Luiz Vieira, que repercute sobre o show realizado pelo cantor Zé Geraldo em Parauapebas na última sexta-feira. Parabéns à Secult pela realização e por nos proporcionar, vez ou outra, uma música de qualidade. Quase tudo funcionou à contento, a única ressalva vai para o bar, que foi terceirizado para quem não tem a mínima condição de atender a população ou não acreditou na magnitude do evento.
2 comentários em “Geração anos 80”
Engraçado fica oito anos no executivo e é preciso participar de um evento cultural do novo governo para poder fazer uma análise da cultura musical de nosso município. Engraçado para não dizer trágico.
JUSTIÇA SE FAÇA : Embora a melodia CIDADÃO tenha sido IMORTALIZADA por ZÉ GERALDO, a criação (inspiração) pertence ao poeta e compositor baiano LÚCIO BARBOSA, Zé Geraldo é apenas o intérprete da poesia.