Brasília – Com a atenção da equipe econômica focada em elaborar as medidas emergenciais do governo federal para o combate à pandemia do novo coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes, finalmente entregará nesta terça-feira (21), com meses de atraso, a proposta de Reforma Tributária pessoalmente aos presidentes da Câmara e do Senado.
“Será uma versão inicial limitada à fusão de PIS e Cofins, tributos federais,” adiantou Guedes.
Embora o ministro tenha dito que o projeto como um todo está pronto, ainda há muitas discussões em curso na equipe econômica. O governo chega atrasado ao debate, que está em curso no Legislativo desde o ano passado.
Ainda assim, a entrega da proposta marca um passo adiante para Guedes, que vem sendo criticado por demorar muito a propor a reforma tributária do governo. Desde o fim do ano passado ele promete enviar um texto por “tranches”, como costuma dizer, emprestando o jargão do mercado financeiro para parcelas.
A reforma do sistema de arrecadação de impostos é apontada por especialistas e empresários como uma etapa essencial da agenda de reformas para estimular investimentos e a retomada do crescimento da economia no pós-pandemia.
No entanto, o tema é de difícil consenso no Congresso por envolver o risco de perda de arrecadação da União, estados e municípios em plena recessão provocada pela Covid-19, além de interesses conflitantes dos setores econômicos. A discussão da reforma toca em temas sensíveis para a mudança no sistema de arrecadação de impostos no país. A unificação de PIS e Cofins é apenas uma delas.
Na primeira fase, o governo vai propor apenas a unificação do PIS e da Cofins em um único imposto, chamado de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que teria alíquota de 12%.
A unificação de impostos federais é discutida há anos, mas custa a sair do papel porque não é considerada vantajosa para o setor de serviços, que responde por mais de 70% do PIB e é intensivo em mão de obra.
Quanto aos impostos municipais e estaduais, o ministro Guedes tem sinalizado que não pretende propor medidas envolvendo-os, apenas atuar como auxiliar nas discussões encaminhadas no Congresso, como a unificação de ICMS (estadual) e ISS (municipal). As propostas do governo envolveriam apenas os tributos federais.
Há ainda temas fundamentais como a cobrança sobre transações financeiras. Depois de ter sido descartado pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado, o plano de criar um imposto sobre pagamentos ou transações eletrônicas voltou ao discurso de Guedes em meio à crise econômica e fiscal provocada pela pandemia.
Embora Guedes recuse a comparação da proposta com uma nova CPMF, foi justamente a semelhança que levou Bolsonaro a vetar a ideia e demitir o então secretário da Receita Federal em 2019. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) já adiantou que a proposta não passa na votação, forçando Guedes a recuar e retirar esse item do texto para o Governo não ser atropelado.
Estão ainda nas negociações o Novo Bolsa Família e Imposto sobre a Renda.
Por Val-André Mutran – de Brasília