Brasília – Após meses de hesitação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se convenceu que se trata de uma questão de sobrevivência política de seu governo entregar ministérios aos partidos do Centrão. Com o embarque do deputado André Fufuca (PP-MA) – o Fufuquinha –, líder do partido na Câmara, e do deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) – o Silvinho –, PP e Republicanos embarcam no governo assumindo os ministérios do Esporte e o de Portos e Aeroportos, respectivamente, antes ocupados por Ana Moser e Márcio França (PSB). Mas a reforma promovida por Lula pode não ser suficiente para aumentar a governabilidade do Planalto no Congresso.
É uma questão de aritmética, uma vez que os deputados dos dois partidos não votaram em bloco com o governo. Na avaliação de observadores do panorama político em Brasília, as pastas ofertadas oferecem pouca visibilidade e orçamentos limitados aos partidos que as controlarão a partir de agora, e as alterações na Esplanada não serão suficientes para angariar apoio expressivo no Congresso.
A avaliação é que o maior problema que Lula enfrenta nesse atual governo é que o presidente quer impor a sua agenda de governo, só que o Congresso e Câmara dos Deputados têm uma outra agenda. Com as mudanças e ingresso de dois partidos do Centrão, a base de apoio ao governo alicia, mas não obtém a tranquilidade de votos para aprovar uma emenda constitucional, por exemplo, talvez apenas projetos de lei.
Além do ministério, o PP também quer a Caixa Econômica Federal. Já o Republicanos negocia para comandar a Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Os nomes ainda não foram anunciados pelo governo, o que pode ocorrer na próxima semana.
A entrada das legendas também é vista como algo inédito, visto que PP e Republicanos formaram coalizão com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 e até então eram considerados de oposição a Lula.
Com pautas importantes no Congresso, como a Reforma Tributária e a Reforma Administrativa, o governo mira aumentar a base de apoio no Legislativo e evitar o sufoco passado no primeiro semestre. Nesse período, os deputados barraram decretos que mudavam o Marco do Saneamento, aprovaram a MP da Mata Atlântica e deixaram caducar medidas provisórias importantes para o Planalto: MP do Coaf, MF da Funasa e MP do Carf.
O principal argumento dos parlamentares era o de que o governo não era eficiente nas articulações políticas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a cobrar de Lula maior diálogo com os congressistas. Prometida desde julho, a reforma ministerial vinha sendo protelada por Lula. O Planalto precisou negociar com os partidos aliados, como o próprio PT e PSB, para ceder espaços para o Centrão.
Por Val-André Mutran – de Brasília