A notícia que circulou na manhã desta terça-feira (27), em Marabá, dando conta de que, por motivo do encerramento do contrato com o Inai (Instituto Nacional de Assistência Integrada), Organização de Sociedade Civil (OSC) gestora do Hospital de Campanha, o equipamento público seria desmontado na próxima sexta-feira (30), causou indignação e protestos em vários setores da sociedade civil organizada marabaense. Entretanto, em contato com o secretário Regional de Governo do Sul e Sudeste do Estado, João Chamon Neto, nesta tarde, o Blog do Zé Dudu foi informado de que o governador Helder Barbalho (MDB) autorizou um aditivo ao contrato, prorrogando por mais 30 dias a permanência do hospital na cidade.
Pela manhã, na sessão ordinária da Câmara Municipal, onde o assunto teve grande repercussão, o primeiro a protestar foi o vereador Márcio do São Félix. Ele solicitou à Mesa Diretora que um documento, mostrando a gravidade da consequência da desmontagem do Hospital de Campanha, fosse protocolado no Ministério Público Estadual e na Secretaria de Estado de Saúde Pública e, depois, tornado público, para que os vereadores não fossem responsabilizados por um ato “que é de exclusiva responsabilidade do governo do Estado”.
Vereador chegou a pedir a interferência do Ministério Público
“Então, a Câmara Municipal de Marabá desde já se posiciona contrária ao fechamento do Hospital de Campanha. Isso acarretará o acúmulo de pacientes de outros municípios, com covid, assim como os de Marabá, no Hospital Municipal”, argumenta Márcio.
Ele lembrou que o Hospital Regional é um estabelecimento de portas fechadas e já mostra dificuldades no atendimento dos pacientes, que estão levando, em média, de 10 a 15 dias internados, aguardando cirurgias ortopédicas.
“E agora virá também o acúmulo de pacientes acometidos de covid. A doença ainda é uma realidade e está presente. Então, o Ministério Público Estadual e o MP Federal têm de intervir para o não fechamento do Hospital de Campanha. Pode se ter aí, mais uma vez, uma tragédia anunciada, uma vez que a curva voltou a subir, a doença voltou a crescer e temos de ter esse cuidado prévio”, advertiu Márcio.
Em aparte, o vereador Cabo Rodrigo disse que esteve na noite de ontem, segunda-feira (26), por mais de uma hora, no Hospital Municipal, e classificou a situação da casa de saúde como “caótica”. “Não tenho como provar, mas conversei com as pessoas e presenciei a chegada de 21 pacientes com covid, vindos de outros municípios, sem regulação”, testemunhou.
Ilker Ferreira alertou para a segunda onda de covid-19
Em outro aparte, o vereador Ilker Moraes Ferreira se referiu à realização das eleições este ano como fator de aumento de casos de covid-19. “Eleição movimenta pessoas nas ruas, em reuniões, nas casas [dos eleitores], caminhadas e, infelizmente, está acontecendo o que a gente previa. A gente não queria estender mandatos, mas está acontecendo um problema na saúde pública que tem reflexo direto do processo político”, lembrou Ilker, acrescentando em outro trecho: “Infelizmente, a gente tem vivido dias difíceis na saúde pública de Marabá. Claro, que com o fechamento do Hospital de Campanha também, porque realmente a covid voltou a avançar. Estão chamando de segunda onda e Marabá não está fora disso, infelizmente”.
Para o vereador Gilson Dias, o governo do Estado não poderia tomar a decisão de fechar o Hospital de Campanha, porque aquele é o equipamento que dá suporte às demais casas de saúde de Marabá. Ele também disse ter ouvido comentários de que a tenda montada, pelo município, para atendimento de pessoas com suspeita de covid, será desativada: “Neste momento nós estamos vivenciando uma pandemia em que o vírus está matando lentamente pessoas que acreditam que não tem mais perigo”.
Cristina Mutran disse que o assunto teria de ser amplamente analisado
Gilson Dias também se referiu às campanhas políticas nas quais candidatos não estão se preocupando com as medidas preventivas e promovendo todo tipo de aglomeração nas quais pode haver a transmissão da doença em massa.
Em aparte, a vereadora Cristina Mutran, que é médica, disse não acreditar que o governador Helder Barbalho seria tão irresponsável a ponto de retirar de Marabá o Hospital de Campanha, antes que fossem avaliados os boletins epidemiológicos: “Nós sabemos que o Hospital de Campanha não atende somente Marabá. No hospital tem mais pacientes de outros municípios do que da própria cidade. Então, acredito que isso será amplamente avaliado e analisado para não prejudicar ainda mais, não só Marabá, mas os 22 municípios que fazem parte do Polo de Saúde Carajás”.
Miguelito afirmou que qualquer morte por covid seria considerada um assassinato
Em sua fala, o vereador Miguel Gomes Filho – Miguelito – também fez duras críticas ao fechamento do Hospital de Campanha: “Vai ser ruim, você não vai ter onde colocar esses pacientes que estão no Hospital de Campanha. Se você for empurrar para o Hospital Regional não vai caber e não vai caber no Hospital Municipal. Gente, isso é uma loucura, é botar paciente na rua. Isso é uma estupidez muito grande”, desabafou, advertindo: “Alguém vai morrer e essa morte vai ser considerada assassinato”.
Cristina Mutran revelou que ela e os outros dois vereadores do MDB, Ilker Moraes Ferreira e Nonato Dourado, estiveram em Belém e entregaram à Sespa um ofício no qual solicitavam que os 40 respiradores do Hospital de Campanha, 50% ficassem em Marabá, mas dias atrás ela ficou sabendo que todos os respiradores seriam levados.
Presidente da Câmara se antecipou ao problema e pediu providências
Também em aparte, o presidente da Câmara, vereador Pedro Correa Lima, lembrou que, em agosto último, já sabendo da data do final do contrato do Hospital de Campanha, esteve em Belém, oportunidade em que falou com o secretário de Estado de Saúde, para que o equipamento fosse mantido na cidade.
“O Hospital de Campanha não é para atender Marabá. O Hospital de Campanha é para atender a 21 municípios que representam 1,5 milhão de habitantes. Fiz esse pedido, inclusive por outros motivos: o Hospital Regional tem 20 leitos de UTI e, desses 20, dez estão reservados para pacientes com covid. O que acontece, com isso? Essas cirurgias, a que alguns colegas se referiram, vão continuar esperando porque não tem leitos suficiente. Imagine 10 leitos de UTI para atender a um milhão e meio e pessoas!”.
Pedro Correa, na oportunidade, fez um apelo ao governador, para que o contrato do Hospital de Campanha fosse prorrogado pelo menos até o final do ano. “Se não fizermos essa prevenção, nós aqui, não só em Marabá, mas também no sul e sudeste do Pará, poderemos ter problemas. E aí é dever do Estado cuidar da saúde da população”.
Secretário Regional de Governo se pronuncia e diz que o hospital não será desmontado
Procurado pela Reportagem do Blog, o secretário Regional de Governo do Sul e Sudeste do Pará, João Chamon Neto, disse que a notícia não procedia. Ele afirmou que, em razão do fato de que, em outros municípios da região voltaram a surgir mais casos de contaminação pelo novo coronavírus e que o Hospital Regional não teria suporte para receber a demanda, o governador Helder Barbalho decidiu prorrogar por mais 30 dias o contrato que garante a permanência do importante equipamento público em Marabá, que recebe pacientes de outros 22 municípios jurisdicionados pela 11º Centro Regional de Saúde.
“O governador está atento ao comportamento da doença, ao número de casos, e não deixaria Marabá sem o Hospital de Campanha diante do número crescente de pessoas que estão chegando infectadas, de outros municípios”, reforçou Chamon.
Por Eleuterio Gomes – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Marabá