A greve geral de sexta-feira (28) foi bastante comentada nas redes sociais, e as opiniões se dividiam entre a aprovação ou não da paralisação. Muitos dos que fizeram postagens negativas sobre o movimento questionaram a atuação dos sindicatos, principais provocadores da greve, quanto ao cumprimento do seu papel nas relações de trabalho, uma demonstração de que o movimento sindical tem perdido prestígio.
O Blog levantou a existência de pelo menos dez entidades sindicais representativas de classes trabalhadoras com sede em Parauapebas. São eles:
– Sindicato dos Trabalhadores em Turismo e Hotelaria de Parauapebas (Sthopa);
– Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário do Estado do Pará (Sintrasul);
– Sindicato dos Trabalhadores em Construção Civil Leve e Pesada de Parauapebas (Sintclepemp);
– Sindicato dos Trabalhadores na Educação Pública do Pará(Sintepp);
– Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Estado do Pará (Sintrapav);
– Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Parauapebas (Sintracpar);
– Sindicato dos Vigilantes de Parauapebas;
– Sindicato dos Trabalhadores em Metalurgia (Simetal);
– Sindicato Metabase, que representa os trabalhadores que exercem atividades conexas, similares, idênticas ou afins, nas indústrias extrativas, minerais, entre outras;
– Sindicato dos Servidores Públicos de Parauapebas (Sinseppar).
A maior parte dessas entidades não contam com sites próprios, algumas tem páginas no Facebook, porém, com informações desatualizadas, um exemplo de que falta mais transparência e comunicação. Nas que contam com site, em nenhuma delas foi identificado uma espécie de Portal da Transparência, com informações sobre valores de imposto ou contribuição sindical recebidos e respectivamente os gastos operacionalizados pela entidade.
Sobre essa a prestação de contas, o Sinseppar parece que sairá na frente quanto à transparência das informações. “Já fizemos assembleia de prestação de contas esse ano, que consta no portal. Porém ainda não temos estrutura similar ao portal da transparência. Espero conseguir implantar”, afirmou o presidente da entidade, Carlos Alessander.
Outro fator que chama a atenção é a permanência de presidentes e dirigentes sindicais por longo período à frente das entidades. As chapas que são formadas para concorrer com aquelas que são encabeçadas por quem está na gestão dificilmente conquistam espaço. Prova disso é que sindicatos com o Sthopa, que foi fundado em 1993, e o Simetal, fundado alguns anos depois, até hoje são presididos pelas mesmas pessoas.
O Sinseppar, por exemplo, ficou quase duas décadas com um mesmo presidente. Só depois desse período uma chapa oponente conseguiu conquistar espaço. Mas sindicatos como o Metabase Carajás e o dos Trabalhadores no Comércio estão sob o comando da mesma presidência há mais de uma década.
O processo de eleição deve ser amplamente divulgado, mas geralmente não o é. Além disso, a falta de engajamento e de interesse por parte dos trabalhadores também contribui para a permanência das mesmas pessoas à frente das entidades sindicais por logo tempo.
Quem conhece a história do movimento sindical compreende a sua importância fundamental na conquista e defesa dos direitos trabalhistas. Ao longo dessa história no Brasil, por exemplo, muitos sindicalistas se dedicaram à causa e chegaram até a perder a vida. Um dos grandes exemplos foi Chico Mendes, que defendia a classe dos seringueiros e teve sua vida ceifada por conta de estar à frente da luta.
Porém, o movimento sindical parece estar perdendo prestígio nos últimos anos. Talvez em função dessa falta de transparência e comunicação com o seu público-alvo e com a sociedade em geral, talvez também pelo reflexo da atuação do Partido dos Trabalhadores (PT) na gestão do país e envolvimento em escândalos de corrupção. O PT nasceu dentro do movimento sindical.
“O sindicalismo, tal como o consideramos hoje, é resultante de uma diretriz prevista no Tratado de Versalhes, a primeira tentativa de estabelecer protocolos mínimos para uma paz mundial e duradoura, logo após a primeira Guerra Mundial. Essa diretriz estabelece que a livre associação das pessoas é essencial para se alcançar a paz e ela me parece acertada, lastreada na realidade pretérita de então e devidamente confirmada nos dias que correm. O Brasil não respeita e não permite a livre associação. Os trabalhadores brasileiros nunca puderam se organizar livremente. O Estado, direta ou indiretamente, sempre se intrometeu em tal organização e presumo que esse desvio se encontre na base de nosso déficit democrático, se espraiando do trabalho para outras categorias da sociabilidade” opinou o juiz do Trabalho, Jônatas Andrade, em entrevista realizada pelo Blog sobre o assunto.
O magistrado citou a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que expressa: “os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os estatutos das mesmas”.
“Pois bem, os sindicatos únicos (unicidade) e subsidiados (imposto) nascidos de tal conspurcação raramente cumprem sua função democrática de representar e canalizar os anseios e lutas do mundo do trabalho. Não tratam adequadamente os interesses e direitos que representam e tendem a ser cada vez mais desprestigiados. Além disso, o capitalismo é plástico e tratou de criar as condições tecnológicas para dissolver os laços de solidariedade entre os trabalhadores. Segundo Dejours, a popularização dos computadores permitiu a análise de desempenho individual em detrimento do coletivo até então existente. Hoje os trabalhadores competem entre si em exacerbado individualismo, como se o trabalho não fosse sempre fruto de esforços coletivos. Diria John Donne, ninguém é uma ilha. Por esse prisma, o sindicalismo está em queda no mundo inteiro. Na atual conjuntura a identidade coletiva entre os trabalhadores está cada vez mais pulverizada, desorganizada por força do caráter individual, liberal do capital. O capital, como já dito, soube muito bem esgarçar os laços de solidariedade entre os trabalhadores com a tecnologia, com a popularização dos computadores, com as análises de desempenho e a recompensa pelo mérito individual. Há muito pouco de coletividade e solidariedade entre os trabalhadores. Contra esse rolo compressor do neoliberalismo, que concentra a riqueza, pulveriza a solidariedade e desiguala os cidadãos, os trabalhadores não têm conseguido se articular”, concluiu o juiz.
Para o presidente Siseppar, “o movimento sindical nada mais é do que a organização do trabalhador contra o capital financeiro. Trabalhador não ganha nada. Tudo é fruto de conquista. Criticar o movimento sindical é uma crítica direta aos trabalhadores e tentar deixar o caminho aberto a precarização do trabalho”.
Para o dirigente sindical, que está à frente de umas das entidades sindicais com maior expressividade e Parauapebas, o caminho é “a união. Fazer com que todos compreendamos que fazemos parte do mesmo time e que só teremos avanços com a participação de todos. O movimento sindical é o único que vem se opondo e denunciando esse movimento de precarização que vem passando o país. Porque não se fala de reforma tributária ou política?”, questionou Carlos Alessander.
“É preciso apoiar iniciativas em busca das bandeiras solidárias de origem. Não sei se os trabalhadores – e sindicatos – conseguirão vencer tais obstáculos, mas suspeito que o vetor ambiental nos imporá, por bem ou por mal, nova consciência coletiva!”, apontou Jônatas Andrade.
1 comentário em “Greve geral levantou muitos questionamentos nas redes sociais sobre o Movimento Sindical”
Tão com medo de perder a obrigatoriedade de pagamento ao sindicato, um dos itens da reforma trabalhista.