Há 460 anos, em 18 de fevereiro, morria Michelangelo, um dos gênios da humanidade

Artista do período renacentista, legou ao mundo as esculturas Pietà, Davi e os afrescos no teto da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma
Criação de Adão: uma das cenas da pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano, uma das obras-primas de Michelangelo

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Há 460 anos, ao morrer no dia 18 de fevereiro de 1564, em Roma (Itália), marcou o último feito de um dos gênios da humanidade. Viver até os 89 anos, era um feito raro numa época em que a medicina engatinhava como ciência. A vida de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, ou simplesmente Michelangelo, escultor, pintor, arquiteto e poeta, marca a passagem pela Terra como um dos maiores artistas da arte renacentista italiana, autor das esculturas Pietà, Davi, a pintura O Juízo Final e os afrescos no teto da Capela Sistina, na Cidade Esta do Vaticano, Itália.

O artista ficou muito conhecido por suas esculturas e por suas pinturas, mas realizou trabalhos como arquiteto e também escrevia sonetos. Michelangelo nasceu no dia 6 de março de 1475, sendo originário da cidade de Caprese, localizada na região da Toscana, na Itália. Na época, aquela região fazia parte da República de Florença, um estado que existiu até meados do século XVI. Michelangelo pertencia a uma família aristocrática, mas que possuía uma condição financeira decadente.

O pai de Michelangelo era Ludovico di Leonardo Buonarroti Simoni, um homem que pertencia a uma família dona de um banco em Florença que havia falido. Na ocasião do nascimento de Michelangelo, Ludovico trabalhava como administrador de duas cidades: Caprese e Chiusi della Verna.

A mãe de Michelangelo era chamada Francesca di Neri del Miniato di Siena, e a família de Michelangelo ainda era formada por seus quatro irmãos, chamados Lionardo, Buonarroto, Giovansimone e Gismondo. Quando Michelangelo tinha seis anos, sua mãe faleceu, e sua criação foi realizada por uma cuidadora.

Os relatos da infância de Michelangelo demonstram o apreço que ele tinha pelas artes e os atritos que isso criava com o seu pai, que não queria que seu filho seguisse esse caminho. A educação de Michelangelo foi realizada em Florença, e ele foi educado de acordo com os valores humanistas que estavam em evidência naquela época.

Michelangelo é um dos principais nomes da arte mundial e uma das expressões máximas do renascentismo italiano

Com 13 anos, Michelangelo conseguiu que seu pai o deixasse ingressar nas artes, e o jovem foi enviado para estudar com Domenico Ghirlandaio, um renomado artista renascentista que era conhecido por seus afrescos. A relação de Michelangelo com Ghirlandaio não era boa, e pouco mais de um ano depois ele deixou de ser aprendiz do artista.

Especula-se que Ghirlandaio tinha ciúmes do talento de Michelangelo, mas outra possibilidade envolve a personalidade de Michelangelo, conhecido por ser uma pessoa de difícil convivência. Em 1489, o governante de Florença e membro da família mais poderosa da região, Lorenzo de Médici, decidiu se tornar patrocinador de Michelangelo.

Os Médici eram conhecidos por usar a sua fortuna para financiar diferentes artistas renascentistas, o que fez de Florença um dos grandes centros do Renascimento na Itália. Entre 1490 e 1492, ele estudou na Escola Neoplatônica Florentina e passou a residir com a família Médici. Ele pôde ampliar os seus conhecimentos humanistas e ampliou o seu contato com a cultura clássica, o que aumentou o seu repertório artístico.

Michelangelo ainda teve contato com a escultura por meio de um escultor que trabalhava para os Médici chamado Bertoldo di Giovanni. Um dos primeiros trabalhos de Michelangelo na escultura foi uma estátua de Hércules, produzida entre os anos de 1493 e 1494. Essa estátua foi vendida e enviada para a França, mas perdeu-se em algum momento do século XVIII.

Renascimento

O começo do século XVI, foi o mais rico período da arte italiana e que influencia a arte até os dias atuais. Esse período chamado de Renascimento surgiu na Itália e destacou nomes como: Leonardo da Vinci, Rafael, Ticiano, Michelangelo e tantos outros gênios dessa época.

Juntamente com Leonardo da Vinci, Michelangelo foi um dos artistas mais brilhantes desse período, ganhando fama por toda a Itália como pintor e escultor, ao longo de sua vida.

Sua habilidade técnica e estética eram inquestionáveis. Além disso, Michelangelo foi um dos primeiros renascentistas a antecipar outros movimentos artísticos como o Maneirismo e o Barroco, o que trouxe mudanças para seu estilo de pintar e esculpir.

Vale destacar algumas características importantes das obras de Michelangelo:

• Composições complexas: pessoas representadas em movimento com seus corpos contorcidos ou em posições peculiares.
• Escalas ambiciosas e grandiosas: distorção das escalas de suas representações para trazer mais dramaticidade e expressão para a obra.
• Detalhamento da figura humana: seus estudos de anatomia permitiram um conhecimento de corpo diferenciado de outros artistas e que é revelado na precisão dos detalhes da representação do ser humano.
• Estilo “heroico”: esculturas de corpos nus e atléticos, além da representação de personagens musculosos e exagerados.
• Temáticas recorrentes: O conflito interno entre carne e divindade e suas paixões terrenas e o temor a Deus.

O Juízo Final, célebre afresco canônico criado por Michelangelo, está na parede do altar da Capela Sistina, no Vaticano

O Juízo Final

O Juízo Final (ou Il Giudizio Universale, em italiano) é um célebre afresco canônico, criado pelo renomado renascentista italiano Michelangelo, e está na parede do altar da Capela Sistina, no Vaticano. O trabalho precisou de quatro anos para ser concluído, começando em 1536 e sendo concluído em 1541, vinte anos após a conclusão do Teto do Capela Sistina. A obra é majestosa, com 13,7 metros de largura por 12,2 de altura, aproveita toda a parede que fica atrás do altar, e descreve a Segunda Vinda de Cristo e o Juízo Final, como narrado na Bíblia. As almas dos seres humanos ascendem ao Paraíso ou descem ao Inferno, dependendo de como são julgados por um Cristo cercado de santos importantes como Pedro, Catarina de Alexandria, Lourenço, Bartolomeu, Paulo e João Batista.

Esse afresco também é conhecido por toda a polêmica que causou, provocando longos debates entre os críticos da Contra-Reforma Católica e os que visualizaram a genialidade de Michelangelo e seu estilo maneirista. O artista foi acusado de ser extremamente insensível ao evento descrito, imprimindo um estilo muito pessoal e “inadequado” ao conteúdo da obra. O Concílio de Trento criou decretos expondo que tais “manipulações” de representações sacras não eram permitidas, e toda arte que tivesse essa característica era passível de censura e até destruição. Após o Mestre de Cerimônias do Papa, Biagio de Cesena, dizer que a pintura “era uma completa desgraça, por expor figuras despidas, provocando uma completa vergonha” e que não era uma obra para ficar numa capela, mas em “banheiros públicos e tavernas”, Michelangelo usou Minos, o Juiz do Submundo (no canto inferior direito da pintura) para fazer uma representação de Cesena, dando-lhe orelhas de burro, enquanto sua nudez foi coberta com uma cobra. Cesena reclamou com o Papa, que brincou dizendo que “sua jurisdição não se estendia até o Inferno, e que por isso nada podia fazer, e que a pintura continuaria na capela”.

A maioria das genitálias expostas foram cobertas após a morte de Michelangelo (1564), por Daniele da Volterra, outro artista maneirista, quando o Concílio de Trento condenou a nudez na arte sacra. O decreto dizia: “Toda superstição deverá ser removida. Toda lascividade deve ser evitada; de tal modo que as imagens não devem ser pintadas ou enfeitadas com referências à luxúria”. Além disso, nenhuma imagem sacra poderia ser exibida em público sem a autorização de um bispo.

O afresco foi restaurado junto com a abóbada da Capela Sistina entre os anos de 1980 e 1994, sob a supervisão de Frabrizio Mancinelli, curador do Museu do Vaticano. Durante o curso da restauração, foram removidas muitas censuras, expondo muitos detalhes da arte original de Michelangelo, que antes estavam escondidos sob fumaça por dezenas de anos. Descobriu-se que a representação de Biagio de Cesena, como Minos e suas orelhas de burro, estava sendo atacada na genitália por uma cobra. Outra descoberta foi um indivíduo condenado ao Inferno, logo abaixo e à direita de São Bartolomeu, esse indivíduo por muito tempo foi tratado como masculino, mas após a remoção da folha de figo, descobriu-se que se tratava de uma figura feminina.

Pietà, obra de Michelangelo. Atualmente localizada no interior da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foto: Vitaly Minko

A Pietá (1498-1500)

Uma das obras mais famosas de Michelangelo, “A Pietá” está localizada na Basílica de São Pedro em Roma. Demonstrando toda sua técnica em esculpir mármore, o artista é capaz de representar em detalhes os drapeados de tecido e a figura humana como um todo.

A escultura retrata a cena em que Maria carrega Jesus em seus braços logo após ele ser crucificado. Apesar da representação ser de uma cena bíblica repleta de sofrimento, ambos são representados de forma idealizada e muito bela. Acreditava-se, dessa forma, que a escultura como um todo ecoaria a beleza do divino.

A obra foi roubada pelos nazistas, recuperada por tropas norte-americanas após a vitória dos aliados na 2ª Grande Guerra Mundial, e devolvida ao interior da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Estátua de Davi, de Michelangelo, em exposição na Academia de Belas Artes em Florença, Itália. Foto: Lucas Martins

Estátua de Davi

Com mais de cinco metros de altura e pesando mais de 5 toneladas, “Davi” é a obra-prima de Michelangelo. O artista superou todas as expectativas ao esculpir um mármore considerado por seus pares como estragado, devido a diferentes tentativas que outros artistas fizeram de esculpir.

A obra representa a cena bíblica anterior ao confronto entre Davi e Golias, onde o jovem está com uma pedra em uma mão e um estilingue apoiado em seu ombro. A tensão no olhar e no corpo de Davi ao enfrentar o gigante é representada em todos os detalhes por Michelangelo. É possível ver os tendões saltados, a musculatura contraída e as veias em relevo como se ali pulsasse sangue.

Lista das principais obras de Michelangelo:

– Afrescos do teto da Capela Sistina

– A criação de Adão – principal cena da pintura da Capela Sistina

– Julgamento Final

– Martírio de São Pedro

– Conversão de São Paulo

– Cúpula da Basílica de São Pedro – pintura

– Esculturas: Davi (1501-1504), Leda, Moisés e Pietá

– Retratos da família Médici

– Livro de poesias: Coletânea de Rimas

– A Madona dos degraus – relevo

– Pietà Rondanini (1564) – escultura

Curiosidades históricas:

– De acordo com historiadores da arte, após finalizar a estátua Moisés, Michelangelo teria dito “Parla! Parla!” (Fala! Fala!).- A escultura Davi (1501-1504) era tão grande que uma parede da oficina em que ela foi feita teve de ser demolida para que a obra passasse. Para transportá-la até o destino final, foram necessários cerca de 35 homens. Foram utilizados também andaimes e sistemas de cilindros. Ao todo, o transporte demorou quatro dias. A obra tem 5,17 metros de altura e pesa pouco mais de 5 toneladas.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.