Hanseníase: projeto da UFPA investiga casos em oito municípios do Pará

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Um projeto de pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará foi até oito municípios paraenses para investigar os casos de Hanseníase no estado. O objetivo do estudo é identificar áreas de maior concentração da doença e analisar como é feito o controle tratamento dos pacientes. O coordenador da pesquisa é o professor da UFPA Cláudio Salgado.

A pesquisa levantou os casos da doença registrados nos últimos cinco anos nos municípios de Breves, Marituba, Castanhal, Paragominas, Oriximiná, Altamira, Parauapebas e Redenção. A equipe de pesquisadores, formada por profissionais da UFPA e da Unidade de Referência Especializada Dr. Marcello Cândia, em Marituba, correlacionou dados clínicos com dados moleculares, comparando os pacientes de cada região.

Entre os casos confirmados, 100 pacientes foram escolhidos. O professor Cláudio afirma que a finalidade era verificar se o tratamento havia sido feito corretamente e os infectados com a doença estavam curados. A equipe visitou a casa dos pacientes e examinou as pessoas que moravam com o portador da doença ou que tinham contato diário com ele.

A pesquisa levantou os casos da doença registrados nos últimos cinco anos nos municípios de Breves, Marituba, Castanhal, Paragominas, Oriximiná, Altamira, Parauapebas e Redenção (Foto: Divulgação)A pesquisa levantou os casos da doença registrados nos últimos cinco anos em oito nos municípios do
Pará (Foto: Divulgação)

“Cerca de 4% e 5% dos contatos tinham hanseníase, o que é um número muito alto. Quando um caso novo é encontrado, a Unidade Básica de Saúde tem o dever de chamar as pessoas que convivem com o doente para serem examinadas. Isso só ocorre em 50% dos casos. E mesmo quando ocorre, não é de forma adequada”, alerta Salgado.

A equipe também decidiu ir em algumas escolas da rede pública municipal, fez o exame clínico em cerca de 200 crianças e descobriu que entre 2 e 4% dos estudantes tem a doença.

“O anticorpo fornece uma porcentagem de pessoas que entraram em contato com o bacilo. Se você fizer isso em um país europeu, o resultado é praticamente 0%. No Rio Grande do Sul, são 8%; em São Paulo, 15%. Aqui, a porcentagem é de 50%. É uma taxa absurda”, avalia o professor.

Cláudio Salgado afirma que, em alguns municípios, como Altamira e Breves, foram encontrados entre 50 e 70 casos novos em uma semana, quando a estimativa era de dois ou três casos. “Percebemos que, quando se trata de um caso clássico de hanseníase, o diagnóstico é feito. A dificuldade está em fazer um diagnóstico precoce, quando a pessoa só apresenta uma mancha”, explica.

De acordo com o professor, o tratamento da doença deve ser feito ainda na infância. Segundo os dados coletados, a previsão de estudantes doentes na rede pública do Estado é de 60 mil pessoas, entre cinco e 18 anos.

“Se você não tratar estas crianças, elas desenvolverão a hanseníase clássica daqui a 20 anos e, durante este período, irão transmitir a doença para outras pessoas, num ciclo que não termina. Além disso, aumenta a possibilidade de pacientes sequelados e com a incapacidade física instalada”, afirma.

Repercussão
Cláudio Salgado alerta que a repercussão dos resultados deixa à mostra a diferença entre a qualidade do serviço de saúde do Brasil e a qualidade do serviço de saúde dos países mais desenvolvidos.

“Recebi um e-mail de um pesquisador da Noruega dizendo que nunca tinha visto um caso igual. Estamos falando de uma doença que existia há 120 anos, na Europa, e, em 2012, ainda existe no Brasil. Isso mostra o quanto estamos atrasados em relação à qualidade de vida da população e demonstra uma urgência: a redefinição de prioridades pelo governo. Nossa população precisa viver com dignidade”, conclui.

O professor afirma que, além de disseminar a informação médica e científica pelo mundo, as publicações agregam valor ao trabalho da equipe, ao laboratório e à Universidade.

Sobre a doença
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo micro-organismo Mycobacterium leprae. Sua transmissão ocorre quando há contato direto com doentes sem tratamento, que eliminam os bacilos por meio do aparelho respiratório, pelas secreções nasais e gotículas da fala, pela tosse e pelo espirro. No caso dos doentes que recebem tratamento médico, não há risco de transmissão. Nem toda pessoa exposta ao bacilo desenvolve a doença, acredita-se que isso se deva a múltiplos fatores, incluindo a genética individual.

Sintomas
Sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades; manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, ao frio, à dor e ao toque; caroços e placas em qualquer região do corpo e diminuição da força muscular. A doença pode atingir todas as faixas etárias e tem cura. O tratamento é feito com medicação via oral, distribuído gratuitamente, nas unidades de saúde.

Fonte: G1-PA