O que um festival de música com estrelas do pop e do rock tem a ver com a preservação da Amazônia? Para o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), tudo. Ele anunciou, neste sábado (28), a criação do Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigantes da Amazônia (Pagam), com aproximadamente 500 mil hectares, o santuário guardará, como o próprio nome diz, as maiores árvores da Selva Amazônica. A declaração aconteceu num dos intervalos entre apresentações do Global Citizen Festival 2024, festival que ocorre em Nova Iorque como parte da programação da semana do clima, paralelamente à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
O anúncio segue uma agenda planejada antecipadamente pela equipe do governador pop, que anunciou o parque empunhando a bandeira do Pará na mão esquerda, diretamente para 60 mil pessoas, e centenas de milhões espalhadas pelo mundo, que assistiam à transmissão do festival pela TV e redes sociais.
Antes disso, na terça-feira (24), Barbalho assinou um acordo histórico ao vender quase R$ 1 bilhão em créditos de carbono e garantir financiamento da Coalizão LEAF para seus esforços de redução do desmatamento. O Pará se tornou o primeiro estado brasileiro e o primeiro estado subnacional do mundo a garantir isso.
No festival, o governador vestia uma camiseta estampada com os dizeres “COP 30 in the Amazon – Belém – Pará – Brazil”. Futura sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), o Pará – lar de 25% da Amazônia brasileira – celebrou o acordo com a Emergent, coordenadora da Coalizão LEAF, que prevê a compra de até 12 milhões de créditos de carbono florestal de alta integridade, gerados por reduções no desmatamento no estado entre os anos de 2023 a 2026.
Cada crédito representa uma tonelada métrica de reduções de emissões de carbono resultantes de cortes no desmatamento, e será comprado ao preço de US$ 15 por tonelada, o maior preço até então alcançado num contrato desse tipo.
“Alcançar um preço de US$ 15 por tonelada, bem acima dos níveis atuais de mercado, demonstra a confiança dos compradores na eficácia de nossos esforços e na alta integridade dos créditos que estamos gerando. Nosso sistema jurisdicional REDD+ é baseado em um modelo robusto, ancorado em forte participação social,” disse Helder Barbalho.
Ele afirmou ainda que a população, incluindo povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, não só é ouvida, mas trabalha em conjunto e compartilha os benefícios.
“Juntamente com outras políticas, nosso trabalho para combater o desmatamento já nos ajuda a construir uma economia próspera, sustentável e inclusiva para todos. Esperamos que o Pará, junto com Gana e Costa Rica, que também assinaram acordos com a LEAF, possa ser um exemplo para outros governos florestais – tanto na Amazônia quanto em outros territórios – seguirem,” complementou o governador, na terça.
O Festival
O Global Citizen Festival 2024, defende duas iniciativas: derrotar a pobreza e defender o Planeta.
A Global Citizen está pedindo aos países do G7 – Canadá, França, Alemanha, Japão, Itália, Reino Unido e EUA – que aumentem suas contribuições para a IDA, o fundo do Banco Mundial dedicado a derrotar a pobreza nos 75 países de renda mais baixa do mundo, em 25%. Isso ajudará a IDA a apoiar o desenvolvimento social e econômico de mais de 1,5 bilhão de pessoas, incluindo fornecer acesso à eletricidade para 250 milhões de pessoas até 2030, combater a desnutrição para mais de 40 milhões de mulheres e crianças por ano e impulsionar o investimento doméstico em saúde, agricultura e educação.
Na outra ponta, a Global Citizen está pedindo que empresas, fundações filantrópicas e governos protejam a floresta amazônica e invistam US$ 1 bilhão em projetos liderados por indígenas na região. A Amazônia contém o equivalente a 347 trilhões de barris de petróleo em emissões de efeito estufa — o mundo consumiu apenas 2 trilhões na história da humanidade.
A Global Citizen está pedindo acesso equitativo a alimentos nutritivos, sistemas de saúde mais fortes e educação de qualidade. Os governos do Reino Unido, França, Alemanha, Comissão Europeia, Canadá, EUA, Austrália, Suécia e Noruega devem intensificar para garantir que a Gavi, a Aliança de Vacinas, seja totalmente financiada até 2030 para ajudar a alcançar algumas das 16 milhões de crianças que não têm acesso a vacinas que salvam vidas.
As organizações que a Global Citizen está fazendo campanha para este ano incluem CGIAR, Education Cannot Wait, Fossil Fuel Non-Proliferation Treaty Initiative, Gavi, The Vaccine Alliance, a Global Eradication Initiative, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, a Organização Internacional do Trabalho, a Parceria de Fornecimento do Fundo de População das Nações Unidas, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e a Organização Mundial da Saúde, e para a mobilização de recursos domésticos para mulheres, saúde, alimentação e educação.
“Em 2023, a Gavi comemorou uma conquista monumental, imunizando mais de 1 bilhão de crianças”, disse o Dr. Sania Nishtar, CEO da Gavi, a Aliança de Vacinas. “Com o investimento contínuo e a priorização da imunização, podemos dar uma contribuição significativa para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, dar um golpe poderoso contra a malária, proteger milhões de mulheres e meninas do HPV e responder a doenças relacionadas ao clima, como a dengue. Se todos os cidadãos globais agirem agora, podemos transformar essa visão de 2030 em realidade”, disse.
A saúde do nosso planeta é igualmente crítica para a saúde do nosso povo, uma noção reforçada pela Primeira Dama do Brasil, Janja Lula da Silva.
Neste ano o Global Citizen Festival contou com estrelas do POP e do Rock. Subiram ao palco montado no Central Park: Post Malone, Doja Cat, LISA, Jelly Roll e Rauw Alejandro, como atrações principais, e o DJ Alok, no segundo pelotão. O Embaixador Global Citizen, o ator Hugh Jackman — o Wolverine, das telonas de cinema — foi o anfitrião do evento, que também contou com aparições do Dr. Jane Goodall, DBE, Founder, e o Instituto Jane Goodall e Mensageiro da Paz da ONU e Curador do Global do Citizen Festival, Chris Martin, líder e vocalista da banda britânica de rock Coldplay.
Aliás, o também paraense, ministro do Turismo, Celso Sabino, confirmou nas redes sociais que a banda Coldplay vai fazer show no estádio Mangueirão, em Belém, em 2025, ano em que a cidade recebe a 30ª Conferência das Partes (COP).
Festival Amazônia para Sempre
Em uma cerimônia realizada semana passada, no sábado (21), durante o Rock In Rio, Roberta Medina anunciou a criação do Festival Amazônia Para Sempre, em Belém. O festival será realizado em setembro de 2025, em parceria com o Rock In Rio e o The Town. Na ocasião, foi dito que o evento teria uma atração internacional, mas nenhum nome foi confirmado, mas, fontes do governo federal garantem que o head-line do evento, será mesmo o Coldplay.
Segundo a organização, a apresentação acontecerá em palco flutuante, em formato de vitória-régia, com cenografia e iluminação criadas para promover um encontro entre a música e a natureza.
De acordo com os organizadores, a festa será transmitida para todo o país, com um conteúdo especial que vai mostrar o espetáculo e a música local.
É apostando no poder da cultura e em especial, da música, que Helder Barbalho disse: “O uso do entretenimento, da música, o uso da mobilização em torno da cultura, da influência, do engajamento, para nós possamos fazer as pessoas entenderem o desafio que estamos vivendo. Fazerem a mobilização em torno das causas justas, de uma Amazônia forte, e de ações que possam permitir a transformação social cuidando das pessoas, preservando o meio ambiente”.
Impactos positivos
Em despacho da Agência Pará, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), explicou que, além de garantir a preservação das Árvores Gigantes da Amazônia, a nova Unida de Conservação Estadual, trará benefícios para a população do distrito de Monte Dourado e, consequentemente, para o município de Almeirim.
A criação da área protegida impulsionará o ecoturismo, gerando novas oportunidades para empreendimentos locais, como agências de turismo, hotéis, pousadas e restaurantes, além de beneficiar instituições de ensino e pesquisa. A gestão da futura UC ficará a cargo do Ideflor-Bio, com o apoio de um Conselho Gestor, composto por representantes da sociedade civil, órgãos públicos e entidades de ensino e pesquisa.
Conforme o decreto assinado pelo chefe do Poder Executivo paraense, no palco do Global Citizen Festival, parte da Floresta Estadual (Flota) Paru é requalificada como Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral, destinada à preservação das Árvores Gigantes da Amazônia e passa a ter uma área total, em formato de polígono, de 560 mil hectares.
O objetivo é a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, que possibilita a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental e de turismo ecológico.
No ano de 2023, o governador Helder Barbalho assumiu o compromisso público de ampliar as áreas protegidas no Estado em um milhão de hectares, aumentando a proteção de terras indígenas, territórios quilombolas e reservas extrativistas até a COP30, que acontece em novembro de 2025, em Belém. Este ano, o chefe do Executivo estadual anunciou a criação de mais 500 mil hectares de áreas protegidas, cumprindo metade da meta anunciada e ampliou em mais 500 mil o compromisso com a preservação da floresta. Além disso, se comprometeu a reflorestar 200 mil hectares de terras indígenas que já foram retomadas.
“Daqui a um ano, o mundo se reunirá no Pará para a COP30. Este é o nosso momento de exigir compromissos ousados dos líderes globais – pela natureza, pelo clima e pela Amazônia. Mas a liderança começa com ação. No ano passado, neste palco, prometi criar 1 milhão de hectares de novas áreas protegidas até 2025. Hoje, tenho orgulho de anunciar 500 mil hectares de novas terras protegidas, nos aproximando desse objetivo”, anunciou o governador no palco do festival.
“Duzentos mil hectares de terras indígenas recuperadas serão reflorestadas e devolvidas aos seus guardiões legítimos. Estamos cumprindo nossos compromissos, e é hora de o mundo fazer o mesmo”, completou o governador, mais pop da Amazônia.
Por Val-André Mutran – de Brasília