Brasília – Está sob investigação médica, conforme artigo publicado no final de setembro na revista científica Journal of Medical Case Reports, o caso de um homem de 32 anos e nacionalidade iraniana, que tomou 100 gramas de sildenafila, principal componente do Viagra e ficou imediatamente cego de um olho. A dose é o dobro do indicado para pacientes que possuem disfunção erétil. Ele perdeu a visão logo após tomar o medicamento, e foi diretamente ao hospital – porém, o dano era tão extenso que foi considerado irreversível. O caso foi relatado por médicos daquele país do Oriente Médio.
Segundo eles, o paciente teve um coágulo na artéria e veias que transferem o sangue para o olho direito. A principal consequência foi o inchaço da retina e um edema macular, que acontece quando o sangue entra no tecido. Com a pressão causada pelo trombo, a retina se soltou do restante do olho cegando o paciente.
Após revolucionar o tratamento de disfunção erétil entre homens, o Viagra é objeto de pesquisas de estudiosos norte-americanos, que investigam os efeitos da sildenafila para prevenir e tratar o Alzheimer.
Efeito colateral
O iraniano estava saudável e não tinha histórico pessoal ou familiar de problemas de coagulação. A sildenafila funciona relaxando os vasos sanguíneos do pênis, permitindo que o sangue flua para o órgão. Os médicos afirmam que o caso desse paciente, mostra, especificamente, que o medicamento pode ter efeito também nos olhos.
“Vários casos sérios de acidentes com a retina causados por problemas vasculares já foram reportados pelo uso da substância, mas ainda não está claro qual é, exatamente, o papel do remédio no quadro”, escrevem os responsáveis pelo artigo científico. A principal teoria é que a droga danificou os sensíveis vasos do olho, causando o problema na retina.
Os médicos sugerem que a comunidade científica estude o assunto para entender a relação entre o Viagra e problemas oculares, principalmente em homens jovens.
Alzheimer
Os efeitos da sildenafila são fontes de várias linhas de pesquisa no momento. Um novo estudo, realizado pela Clínica Cleveland, de Ohio, nos Estados Unidos, e liderado pelo pesquisador Feixiong Cheng, do Instituto de Medicina Genômica da clínica Cleveland Clinic, publicado na revista “Nature Aging”, trabalhou com milhões de dados a respeito do uso da sildenafila, substância ativa do Viagra, cruzando dados com outros potenciais tratamentos para a doença, e os resultados são animadores.
Segundo Cheng, o estudo aponta uma redução de 69% na ocorrência do Alzheimer ao longo de um acompanhamento de 6 anos, em relação a grupos de pessoas que não usaram o medicamento.
A pesquisa cruzou também o uso da substância com outros medicamentos, demonstrando reduções igualmente consideráveis. Entre pacientes tratados com losartana, remédio de prescrição médica para hipertensão, a entrada do Viagra reduziu o risco do Alzheimer em 55%; entre quem combinou metformina e a sildenafila, a redução foi de 63%.
Ainda de acordo com a pesquisa, a combinação com o medicamento diltiazem, para pressão alta, a redução foi de 65%.
Multifunções
Essa não é a primeira vez que é descoberto outro uso medicamentoso para o Viagra: a ciência comprovou a eficácia do uso da sildenafila também para hipertensão pulmonar, doença que dificulta a passagem do sangue pelas artérias e veias pulmonares.
Estudos anteriores apontam que o medicamento apresenta ação eficaz como vasodilatador pulmonar.
A pesquisa mais recente sobre o uso do Viagra para Alzheimer foi realizada a partir de um modelo computacional, sobre dados de mais de 7 milhões de pacientes.
Os pesquisadores lembram, porém, que o levantamento é somente um primeiro passo, que exige estudos clínicos para comprovar a eficácia da sildenafila.
“Este artigo é um exemplo de uma crescente área de pesquisa da medicina de precisão, em que o big data é a chave para conectar pontos entre medicamentos existentes e doenças complexas como o Alzheimer”, afirmou Jean Yuan, diretor do Instituto Nacional do Envelhecimento, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês), financiador da pesquisa.
Por Val-André Mutran – de Brasília