Brasília – O mundo assistiu ao vivo nesta terça-feira (20), através das redes sociais, ainda há pouco (veja abaixo), Jeff Bezos — o homem mais rico do mundo —, decolar com mais três convidados, rumo ao espaço em seu foguete particular suborbital o New Shepard, de sua empresa espacial Blue Origin. O assombroso é que a nave não tem pilotos. A aventura esquenta a nova corrida espacial, que tem como protagonistas três dos homens mais ricos do mundo.
O fundador da Amazon acabou de deixar o comando da gigante do comércio eletrônico para embarcar na maior aventura que o dinheiro já pode comprar: viajar ao espaço, e pelo visto, com segurança.
Não se sabe ao certo quanto ele gastou, mas o feito ajuda a consolidar o sonho mais antigo da humanidade e o futuro do turismo espacial.
O foguete decolou de um deserto no oeste do Texas. Seus rivais Richard Branson, da Virgin Galactics, e Elon Musk, da SpaceX, foram, certamente, os dois expectadores mais atentos do feito.
Foi o 16º voo da Blue Origin, mas o primeiro com passageiros a bordo. Bezos terá a companhia de outras três pessoas, um feito extraordinário e cheio de riscos até mesmo pelo seu ineditismo.
Especialistas observam que se trata de uma empreitada de risco. O foguete que vai impulsionar a nave batizada de New Shepard sobe carregado com muito combustível.
Os 11 minutos mais incríveis após tempo recorde de preparação
A viagem deve durar cerca de 11 minutos, divididos em etapas:
1 – O lançamento do foguete;
2 – A separação da cápsula com os passageiros do propulsor;
3 – A cápsula alcança o espaço e fica cerca de 4 minutos acima da linha convencionada como a que divide a atmosfera da Terra do espaço;
4 – O retorno e pouso do propulsor de maneira autônoma;
5 – O retorno da tripulação a bordo da New Shepard à Terra, em queda livre, com o peso amortecido por três grandes paraquedas.
Maior janela já voltada para o espaço
Batizada em homenagem a Alan Shepard, o primeiro americano a ir ao espaço, a cápsula New Shepard é uma espaçonave com sistema reutilizável capaz de levar carga e tripulantes para fora da atmosfera terrestre em 11 minutos.
Um dos diferenciais da nave New Shepard são as janelas panorâmicas de 110 x 73 centímetros. Isso vai garantir um dos momentos mais esperados, a visão da Terra.
Segundo a empresa, serão as maiores janelas que já voaram no espaço. Cada passageiro tem sua própria janela.
No centro da cápsula, há um sistema de fuga da tripulação. Caso ocorra alguma falha do foguete, a cápsula que carrega os passageiros é programada para se separar do impulsionador.
Na viagem, os quatro passageiros ficarão no ambiente controlado da cápsula, mas ela tem condições de levar até seis pessoas.
Logo abaixo, há uma peça aerodinâmica responsável por impulsionar a New Shepard e reduzir o uso de combustível na volta para a Terra.
Ela está acoplada a freios que reduzem à metade a velocidade do foguete no momento da volta, e a um motor capaz de realizar uma aterrissagem controlada com queda de velocidade a até 8 km/h.
Para sustentar a estrutura, barbatanas nas laterais também conduzem a espaçonave de volta para a plataforma de desembarque e, no espaço, guiam-na pela velocidade do ar. Por fim, há uma engrenagem de pouso, para que a New Shepard possa ser reutilizada, o que reduz os custos das viagens.
Jeff Bezos e seus companheiros de viagem já estavam no Texas desde ontem para os últimos preparativos, informou o bilionário pelo Instagram. Ele será acompanhado do irmão Mark, da pilota Wally Funk, de 82 anos e do estudante Oliver Daemen, de apenas 18 anos.
Os quatro participaram ontem de um treinamento para se prepararem para o voo. O lançamento do New Shepard partiu em uma área remota no Texas, perto da pequena cidade de Van Horn.
Segundo a Blue Origin, não há áreas para pessoas assistirem nas proximidades do local de lançamento, diferentemente do voo de Richard Branson, dono da Virgin Galactics, em que cerca de 500 espectadores puderam acompanhar de perto a decolagem da nave batizada de VSS Unity, no Porto Espacial América, no Novo México.
O Departamento de Transporte do Texas determinou o fechamento de uma parte da Rodovia Estadual 54 próxima ao local de lançamento e não permitirá espectadores na estrada.
Apesar das barreiras, a região já está mobilizada para o evento. O artista David Morales, por exemplo, produziu um grande grafite com a imagem de Jeff e Mark Bezos — irmão caçula do bilionário — na cidade mais próxima do local do lançamento.
A New Shepard tem lugar para quatro tripulantes. Bezos vai levar com ele o irmão Mark e dois representantes de gerações bem diferentes.
Um grande passo para o turista espacial
O voo de Bezos é um passo decisivo para a formação de uma indústria de turismo espacial.
Diferentemente da disputa geopolítica da corrida espacial do século XX, agora, está em jogo a possibilidade de se comprar um bilhete para as estrelas, ainda que seja um luxo para poucos.
O voo de Bezos marca o início de uma nova modalidade no turismo espacial: será o primeiro lançamento suborbital — em que a nave atinge o espaço, mas não efetua uma revolução orbital completa — do mundo a ser realizado sem piloto e com tripulação a bordo composta apenas por civis
No último dia 11, o também bilionário Richard Branson viajou com dois pilotos na nave de sua Virgin Galactics, um esforço para inaugurar o turismo espacial.
Ele experimentou a microgravidade aos 86 quilômetros de altura, mas Bezos promete ir mais longe, ultrapassando cem quilômetros.
De qualquer forma, Branson já tem planos de começar a vender passagens espaciais a partir do ano que vem a nada menos que US$ 250 mil, cerca de R$ 1,3 milhão cada bilhete.
Kármán, a linha que separa Bezos e Branson
Desde que Branson conseguiu ultrapassar Bezos e estreiar primeiro no espaço, a Blue Origin vem minimizando o feito da Virgin Galactics.
Logo após o voo do britânico, a empresa de Bezos usou sua conta no Twitter para apontar que “apenas 4% do mundo reconhecem um limite baixo de 80 km como o começo do espaço”. Era uma alfinetada.
Foi uma referência ao fato de o voo da nave da Virgin Galactic, de Branson, ter atingido a altura máxima de 86 quilômetros acima do nível do mar, mais que os 80 quilômetros considerados nos EUA como a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral.
No entanto, a Federação Internacional de Aeronáutica (FIA) estabeleceu esse limite em cem quilômetros de altura, parâmetro aceito na maioria dos países.
Esse ponto é chamado de Linha de Kármán, uma referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950.
Bezos promete ultrapassá-la. Apesar de alimentar a disputa comercial entre as duas empresas, não há uma convenção internacional sobre isso.
Confira as diferentes tecnologias de foguetes nessa corrida
Depois de Branson e Bezos, e Musk?
Elon Musk não tem planos de subir aos céus agora, mas já teve o seu momento de causar na corrida espacial
Além de ter a empresa mais avançada na disputa — capaz de voos mais altos, como o que levou astronautas à estação espacial internacional na órbita da Terra —, Musk deu o que falar em 2018 ao lançar um dos carros elétricos de sua Tesla no espaço com um boneco ao volante a bordo de seu foguete Falcon Heavy.
Em terra, só vendo os rivais se arriscarem nas estrelas, Musk e sua empresa espacial focam no transporte de cargas ao espaço e até já desembarcou cosmonautas na ISS (a Estação Espacial Internacional, da qual o Brasil é sócio). Suas naves já viajam pela órbita terrestre, enquanto os voos de Blue Origin e Virgin ainda são suborbitais.
Além disso, Musk recebeu em abril, da Nasa, a missão de concretizar uma nova viagem de humanos à Lua, após mais de meio século da última, primeira etapa do projeto que levará o homem ao planeta Marte.
Confira o plano de cada empresa dos três bilionários
Os planos de Jeff Bezos
Os planos de Richard Branson
Os planos de Elon Musk
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.