Horizonte Minerals busca recursos para retomar obras do projeto níquel em Conceição do Araguaia, no Pará

Empresa conseguiu adiar pagamento de juros enquanto busca refinanciar R$ 2,994 bilhões para projeto de exploração de níquel
Obras de construção do projeto de níquel Araguaia foram paralisadas por falta de recursos em razão de mudanças no projeto original

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A mineradora Horizonte Minerals está negociando com seus principais credores e acionistas, a fim de obter recursos que cubram o déficit do financiamento para construção de um complexo de produção e beneficiamento de níquel — o Projeto Araguaia — em Conceição do Araguaia, no sul do Pará. O custo para desenvolvimento da operação teve aumento devido a mudanças em relação ao projeto original. Empresa obteve um alívio nos seus compromissos de curto prazo e conseguiu adiar o pagamento de juros enquanto busca refinanciar R$ 2,994 bilhões para retomar as obras do complexo.

É uma sobrevida, uma vez que credores e fornecedores da empresa concordaram com novo adiamento de pagamentos de juros, dando fôlego para a empresa sediada no Reino Unido tentar encontrar uma solução de financiamento de até US$ 592 milhões (R$ 2,994 bilhões de reais) ante o aumento do Capex sigla da expressão inglesa CAPital EXpenditure, que pode ser definida como Despesas de Capital ou Investimentos em Bens de Capitais. Esse tipo de custo existe para manter ou até expandir o escopo das operações de uma empresa, no caso, o empreendimento no Pará. Há ainda, uma negociação a parte com o quadro de funcionários da empresa para pagamento de indenizações e salários atrasados na Justiça do Trabalho da Comarca de Conceição do Araguaia.

Capex

O capex do projeto Níquel Araguaia deve subir dos US$ 537 milhões previstos originalmente para, pelo menos, US$ 725 milhões com alterações para “reduzir os riscos” do projeto. “Com o aumento estimado no capital global do projeto, a empresa trabalha em estreita colaboração com os seus credores seniores e os seus acionistas fundamentais numa solução de financiamento para resolver a lacuna”, afirmou a companhia em nota.

Segundo a Horizonte, as negociações têm o objetivo de “implementar uma solução de financiamento que satisfaça os requisitos de custo para completar e, assim, permitir que a empresa continue a aceder ao seu mecanismo de dívida sênior”.

Em 30 de setembro do ano passado, a mineradora sacou US$ 215 milhões do financiamento de US$ 346 milhões obtido para o projeto. Naquela data, a companhia tinha fontes de liquidez totais de US$ 253 milhões, compostas por US$ 131 milhões não sacados e uma posição de caixa de US$ 122 milhões.

A Horizonte informou que, da posição de então de caixa, no valor de US$ 93 milhões, seriam destinados às atividades de construção e capital de giro, que inclui o saque total do mecanismo de superação de custos de US$ 25 milhões, bem como US$ 5 milhões de capital de custo excedente.

A empresa afirmou na época que o saldo de caixa estava comprometido com despesas de capital de curto prazo, com US$ 16 milhões reservados para o desenvolvimento do projeto de níquel e cobre Vermelho, também no Pará, com o saldo de US$ 13 milhões “espalhado entre outras atividades para o funcionamento contínuo do grupo”.

O saldo não utilizado de US$ 131 milhões do crédito sênior, segundo a companhia, destina-se “a ser usado para financiar os atuais custos de capital do projeto”. Para isso, porém, ainda precisa satisfazer algumas condições precedentes. Credores e engenheiros técnicos independentes estiveram no local em 4 de outubro para fazerem uma revisão do progresso do projeto.

A Reta Engenharia ficou encarregada de concluir um relatório de análise de custo de capital e cronograma, que será analisado posteriormente por um consultor técnico independente nomeado pelos credores, mas não foi informado o andamento do processo.

A mineradora adiou do primeiro para o terceiro trimestre de 2024 o início da produção de níquel em Araguaia.

Renegociação

No fim do ano passado, a empresa conseguiu negociar com os principais credores o adiamento do pagamento de juros que venceriam em 31 de dezembro. Além de garantir um financiamento “provisório” de US$ 20 milhões para a manutenção de atividades críticas da Horizonte, o acordo permitiu estender os desembolsos para o fim de fevereiro e, posteriormente, os pagamentos de juros foram novamente adiados para 29 de março.

Agora, os credores da mineradora concordaram em prorrogar novamente o prazo para 30 de abril. “Daqui para frente não há garantia de que os credores seniores consentirão em estender ainda mais as atuais isenções”, salientou a Horizonte em nota divulgada ao mercado na última terça-feira (2).

“Se nenhuma extensão for acordada, os juros diferidos originalmente pagáveis no fim de dezembro 2023 e no fim do primeiro trimestre de 2024 se tornarão imediatamente devidos e pagáveis em 1º de maio”, acrescenta o documento.

No mês passado, a subsidiária brasileira da empresa, Araguaia Níquel Metais (ANML), obteve uma liminar que permitiu à empresa suspender por 60 dias pagamentos a credores financeiros e fornecedores no país. A medida cautelar teve o objetivo de “proteger o caixa” da companhia enquanto ela trabalha em um “plano de reestruturação” das dívidas.

A Horizonte entrou em dificuldades após uma revisão no projeto Araguaia elevar o capex para construção da operação de níquel de US$ 537 milhões primeiro para US$ 724,9 milhões e, agora, para pouco mais de US$ 1 bilhão.

O aumento do investimento necessário para a construção levou a empresa a paralisar as obras e adiar a previsão de entrega do primeiro metal do primeiro trimestre de 2024 para 2026 — mas ainda dependente de uma solução de refinanciamento do saldo necessário para a conclusão do projeto, estimado em até US$ 592 milhões, mas que pode ser ainda maior.

Desde que anunciou a revisão com aumento do capex, as ações da companhia na Bolsa de Londres chegaram a perder mais de 97% do valor. No início da tarde desta terça-feira, porém, os papeis eram negociados em alta de 0,38%, a 1,88 pence esterlino, valor equivalente a cerca de US$ 0,02 ou R$ 0,10, dez centavos de real na cotação desta sexta-feira (5).

Construção

Apesar dos desafios diante do aumento do custo, a Horizonte continua avançando no desenvolvimento de Araguaia. Até 30 de setembro de 2023, a empresa já havia investido um total de US$ 429 milhões na construção da operação.

Segundo a companhia, seções do forno rotativo já foram instaladas e a carcaça do forno está completa com a instalação da cobertura em andamento. A empresa disse que todos os pacotes de equipamentos críticos foram contratados e estão no local “ou a caminho”.

Até 30 de setembro, 138 mil toneladas de minério com teor médio de 1,92% Ni (níquel) foram estocadas.

A empresa ainda deve divulgar nas próximas semanas um estudo de viabilidade (FS, para uma segunda linha no projeto Araguaia), que visa dobrar a produção de níquel de 14.500 toneladas por ano para 29 mil tpa.

“Apesar do aumento de capital, o projeto Araguaia continua sendo um projeto de níquel Tier 1 com custos de caixa C1 mais baixos e uma longa vida útil de 28 anos, produzindo ferroníquel de alto teor e baixa impureza”, afirmou o diretor-executivo da Horizonte, Jeremy Martin.“As discussões com os principais acionistas e credores para financiar o projeto até a conclusão estão progredindo”, concluiu ele.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.