Tal como o Blog do Zé Dudu reportou três meses atrás, ao contabilizar números de óbitos inéditos processados pelo Ministério da Saúde, o resultado apareceu na contagem divulgada nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o Pará teve, no ano passado, uma explosão de cerca de 10 mil mortes acima do habitual, em função da Covid-19. Uma verdadeira hecatombe.
As informações constam da pesquisa “Estatísticas do Registro Civil 2020” analisada pelo Blog, segundo a qual a maior economia do Norte foi, no ano passado, o segundo estado brasileiro em crescimento proporcional do volume de óbitos, com aumento de 27,9% de 2019 para 2020, uma taxa assustadora, mesmo para as piores tragédias humanitárias.
Sem muito mistério, a principal hipótese para explicar o “fenômeno mortal” avassalador é a ampla disseminação do coronavírus pelo estado, principalmente no auge da pandemia, entre abril e julho do ano passado. O vírus causador da temida doença respiratória Covid-19 contribuiu sobremaneira para o sepultamento de um volume de paraenses quase do tamanho da cidade de Água Azul do Norte.
Ao todo, 43.138 paraenses morreram no ano passado, ante 33.693 em 2019, de acordo com o IBGE. A diferença é de 9.445 mortos a mais em 2020. Os números do instituto não batem com os do Ministério da Saúde em valor final porque o órgão de estatísticas se baseia em dados de cartórios de registro civil, uma das razões pelas quais o total de mortes pode ser efetivamente maior. Subnotificações e omissão de informações de mortes deixam os números menores que o que, em verdade, são.
No levantamento realizado pelo Blog do Zé Dudu, foram contabilizadas 10.780 mortes a mais em 2020, reportadas pelo sistema de saúde, com taxa de crescimento de 26,6% perante 2019. Apesar da fonte distinta de origem dos dados, as pesquisas do Blog e do IBGE revelam o mesmo panorama macabro: nunca antes fora visto nada similar na história da demografia paraense, desde que o levantamento das Estatísticas do Registro Civil passou a ser feito.
Mais que dobro de mortes
Três municípios paraenses apresentaram volumes críticos de mortes em 2020, com mais que o dobro de sepultamentos em relação ao ano anterior. Conforme dados do IBGE, a pior situação é a de Novo Progresso, onde o total de óbitos disparou de 51 para 131, terrível crescimento de 156,9%. Em Mocajuba, a taxa de aumento foi de 110,8%, após salto de 74 óbitos em 2019 para 156 em 2020. Já em Magalhães Barata, que viu as mortes subirem de 34 para 69, o crescimento foi de 102,9%.
Em números absolutos, os dez municípios paraenses com mais mortes no ano passado foram:
1º Belém — 10.467
2º Ananindeua — 2.079
3º Santarém — 2.023
4º Castanhal — 1.280
5º Marabá — 1.238
6º Abaetetuba — 919
7º Parauapebas — 825
8º Bragança — 773
9º Altamira — 689
10º Altamira — 688
Apesar de o IBGE indicar tais volumes com base em dados cartorários, o Ministério da Saúde lista os mesmos nomes desse ranking, com a diferença de que Parauapebas teria registrado mais de mil óbitos no ano passado e estaria muito à frente de Abaetetuba. Em Parauapebas, aliás, o número de óbitos por Covid supera o de Marabá.
A notícia menos ruim — em meio ao cenário desolador de mortes que assolou todo o país durante o ano passado — é que 16 dos 144 municípios paraenses registraram redução no número de óbitos em 2020, ou seja, conseguiram salvar mais vidas. O sudeste do Pará teve metade dos representantes e o líder de todos: Santana do Araguaia. No longínquo município paraense, pouco lembrado pela mídia, o número de mortes sofreu redução, segundo o IBGE, de 144 registros em 2019 para 119 em 2020, na contramão das estatísticas gerais do Pará e do Brasil.
Também reduziram as mortes Cachoeira do Piriá (-17), Abel Figueiredo (-16), Curuá (-14), Santarém Novo (-13), Água Azul do Norte e Nova Ipixuna (-5 cada), Piçarra e São Domingos do Araguaia (-4 cada), Gurupá (-3), Cumaru do Norte, Anajás, Placas e Curralinho (-2 cada), Concórdia e Rio Maria (-1 cada).