Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Mais de 280 indígenas das comunidades Xicrin do Cateté e Gavião Akrâkaprekti permanecem em regime de protesto e ocupam a Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) de Marabá e lamentam que até agora nenhuma autoridade do governo estadual e federal tenham vindo a Marabá negociar com eles. Os indígenas não danificaram o patrimônio da entidade e fazem um protesto pacífico.
Por causa da manifestação iniciada na última quarta-feira, os trabalhos no setor administrativo da Casai foram suspensos e apenas a enfermaria está funcionado.
Segundo o cacique Karangré, dos Xicrin, a ocupação da unidade completa hoje, sábado, quatro dias. Os manifestantes reivindicam melhorias na casa. Os índios cobram medicamentos, alimentos, dormitórios adequados nos alojamentos e veículos. Karangré diz que há vários anos eles vêm cobrando melhorias, principalmente no atendimento à saúde, mas as autoridades responsáveis apenas prometem, mas nunca cumprem.
O cacique explica que os quartos existentes são pequenos para atender a grande quantidade de indígenas de várias comunidades desta região e a falta de medicamentos constrange e revolta quem precisa de atendimento. “Sempre esperamos com paciência, eu nunca tinha participado de um protesto desses, mas agora nosso povo não pode mais aceitar essa situação”, avisou Karangré, que avisou que a unidade será totalmente lacrada na próxima terça-feira, caso não apareça representantes da Secretaria da Saúde Indígena (de Brasília) para discutir as exigências com eles.
Amjikinire Gavião, que atua como vice-presidente do Conselho da Casai, diz que é preciso descentralizar, de Belém para Marabá, o atendimento à saúde indígena, criando um distrito da Casai em Marabá. Atualmente, o Polo Base de Marabá está vinculado ao Distrito Sanitário Indígena Guamá-Tocantins, em Belém. Por conta desse descaso, o Ministério Público Federal ajuizou em 2011 um Inquérito Civil Público para investigar o caos no oferecimento do serviço de saúde, que vem se arrastando há tempos, se agravando a cada momento, sem que haja nenhuma perspectiva concreta de resolução das irregularidades.
Os carros que transportam os índios para as aldeias também estão sucateados. Representantes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) ficaram de conversar com os xikrin nesta sexta, mas ninguém apareceu e Karangré avalia que isso demonstra o grau de compromisso dessas autoridades para com os indígenas.
As mulheres também resolveram apresentar seus protestos. Cantando músicas de guerra, elas reclamam da falta de diálogo com os indígenas e pedem celeridade por parte da direção do órgão. Elas empunham facões e fazem marcha todos os dias em direção às três casas da Casai, localizadas na Folha 32, Nova Marabá.
Reunião
A chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI Guamá-Tocantins), Danielle Cavalcante, disse que aguarda uma resposta do Ministério Público Federal para marcar a reunião com os índios de Marabá, o que só deve acontecer na próxima semana.
Ela disse ter ficado surpresa com a atitude dos indígenas porque, recentemente, já tinha se comprometido em atender as demandas das etnias na região. Danielle informou que o fornecimento de alimentos está regular na Casai de Marabá e que a unidade foi recém-reformada.
Segundo Danielle, a casa foi pintada e ganhou novos espaços para o descanso dos índios. Sobre a locação de um novo espaço, a chefe do DSEI informou que ainda não foi providenciado o novo imóvel por questões burocráticas. “Isso não é feito a curto prazo”, disse ela.
Danielle explicou também que o diálogo com os índios tem sido permanente. Todos os meses, argumentou, há reuniões para discutir os desafios das aldeias no Pará.