Não há um brasileiro sequer que não reclame da carestia ao fazer as contas de suas despesas do mês. Todos os dias, algum item ou serviço essencial básico tem reajuste de preços. É o arroz, ou é o feijão, ou é o tomate, ou é a carne, ou é o ovo, ou é a gasolina, ou é a conta de energia, ou é material de construção. A disparada dos preços, em grande parte escorada na tensão política do país e na crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus, mostra que a inflação veio para ficar e não quer ceder.
Nesta quarta-feira (25), o Blog do Zé Dudu analisou dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), liberados esta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e constatou o que todo paraense tem sentido ao ir ao supermercado: está difícil viver. Tendo a Grande Belém como referência para a medição de preços do estado, a conclusão é a de que as famílias paraenses têm tido este ano R$ 61,90 levados embora pela alta dos preços a cada R$ 1 mil recebidos.
A situação é ainda mais embaraçosa para as famílias que vivem em extrema pobreza. Imagine uma família com cinco pessoas, cuja renda média por pessoa seja R$ 89. Nesse lar, o ganho mensal total não passará de R$ 445, menos da metade de um salário mínimo (na verdade, apenas 40%). O salário mínimo é, atualmente, R$ 1.100.
No Pará, vivem, de acordo com dados de junho do Cadastro Único, 967 mil famílias em situação de extrema pobreza. E cada uma delas, assim como quaisquer outras famílias paraenses, têm visto “sumir” a cada mês alguns tostões para a inflação, tostões estes que fazem muita falta. Na ponta do lápis, a inflação no acumulado de janeiro a agosto totaliza 6,19%, com avanço de 0,85% aqui no Pará este mês.
No caso do exemplo da família de cinco pessoas, dos R$ 445 de renda mensal da casa, R$ 27,55 já foram perdidos por esse índice, que quase ninguém compreende seus números muito bem nos noticiários, mas todos sentem no bolso. E as famílias mais vulneráveis à miséria sentem mais porque perderam este ano o suficiente para comprar quase um quilo de carne ou duas cartelas com 30 ovos.
No Brasil, a inflação acumulada do ano está em 5,81%, o que já é muito alto, mas, no Pará, está acima desse patamar. Das localidades pesquisas, o Rio de Janeiro (4,97%) tem a menor inflação acumulada, enquanto o Paraná (7,48%) tem a maior.
Difícil sobreviver assim
Em agosto, o campeão de aumento de preços no Pará foi o segmento de habitação, que encareceu terríveis 3,17% e já acumula alta de 8,74% no ano. Morar de aluguel ou tentar sair dele, comprando itens para fazer a casa própria, é um dilema do famoso ditado popular: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Esse segmento consome 15,74% do orçamento mensal da população paraense.
Já o setor de alimentos e bebidas, que devora 27,36% do orçamento, subiu 1,03% e acumula 6,97% de janeiro a agosto. A cada dia está mais difícil sobreviver e manter o mantra da recomendada dieta equilibrada, realidade muito distante para as camadas mais pobres da sociedade. Gastos com transportes custam 18,45% ao bolso dos paraenses, mas tiveram leve queda de 0,05% este mês, embora durante o ano registrem inflação acumulada de 8,53%.