O preço de produtos e serviços até subiu em junho, no Pará, mas não na velocidade com que vinha se ajustando no início do ano, quando a inflação chegou a “paquerar” 1% em maio, por exemplo. Agora, segundo divulga o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (25), a prévia da inflação do Pará, medida a partir da Grande Belém, é a menor do Brasil para o mês, desde 2016. As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu.
A prévia, expressa no Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), com coleta realizada entre 14 de maio e 14 de junho, mostra que, aqui no estado, a inflação avançou 0,29%, duas vezes e meia abaixo da inflação nacional do período, de 0,83%. As taxas medidas em Porto Alegre (1,18%), Salvador (1,14%), Recife (1,08%) e Curitiba (1%) registraram os índices mais elevados.
Em 12 meses corridos, no entanto, a inflação paraense já acumula alta de 8,51%. Na prática, implica dizer que, para uma família paraense que sobrevivia com R$ 1 mil em 2020, este ano os mesmos R$ 1 mil perdeu um valor suficiente para comprar entre dois quilos e meio e três de carne devido à inflação. É como tirar o alimento da boca da população mais vulnerável num estado já conhecido por indicadores elevados de desigualdade, atraso e miséria.
Em junho, de acordo com o IBGE, a inflação paraense desacelerou puxada pela queda nos preços de frutas (-5,59%) e passagens aéreas (-5,68%) e, também, pela alta menos intensa da energia elétrica (0,82%) na comparação com as demais regiões. No acumulado de 2021, o IPCA do estado acumula avanço de 4,5%, sendo que o preço dos alimentos em geral (5,68%) e os custos com transportes e deslocamentos (7,12%) subiram acima da média no período.
Vale lembrar que alimentos e bebidas sequestram juntos 27,53% do orçamento das famílias do Pará, enquanto a mordida dos transportes é de 18,38%. O peso dos aluguéis no bolso é de 15,48% e de serviços de saúde e cuidados pessoais é de 12,77%.
Salário mínimo necessário
Com um cenário de inflação que não se estabiliza, tudo sobe, menos o salário do trabalhador. E os servidores públicos, que são cerca de 450 mil no estado (um terço da força de trabalho ativa), têm sido os mais prejudicados, tendo em vista uma lei complementar assinada pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado que proíbe reajustes salariais até 31 de dezembro deste ano para a pretexto de que fosse possível ao Governo Federal injetar dinheiro no caixa dos entes subnacionais para combater a pandemia de Covid-19.
No caso das revisões com base na inflação oficial de 2020, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) do Pará entende e orienta as prefeituras paraenses a não fazer a correção das remunerações, muito embora pelo menos mil municípios Brasil afora já o tenham feito, inclusive amparados pelos respectivos tribunais de contas, como o do Paraná, que é favorável à recomposição (veja aqui).
O que poucos sabem é que, apesar de servidor público ter fama de que ganha muito, no Pará, onde a maioria das prefeituras sobrevive de transferências de recursos de outros entes, sem capacidade de gerar receita própria, a maioria do funcionalismo recebe entre R$ 1 mil e R$ 2 mil mensais — isso quando algumas prefeituras não atrasam salários por meses. Há, ainda hoje, prefeitura cuja remuneração-base é inferior ao salário mínimo.
Nas contas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo necessário para sobreviver no Brasil e aguentar o rojão das despesas que não param de crescer seria de, pelo menos, R$ 5.351,11. No Pará, os municípios que mais se aproximariam desse sonho do Dieese, ainda assim de longe, são Belém (R$ 3.800,87), Canaã dos Carajás (R$ 3.621,77), Oriximiná (R$ 3.251,33) e Parauapebas (R$ 3.158,20).