Brasília – O quadro de instabilidade política, com as más notícias que Brasília não para de produzir a cada minuto, afetou os mercados ao longo da semana. Na segunda-feira (5) foi o “dia de realização” no mercado doméstico, diante da baixa liquidez e do feriado do Dia da Independência nos EUA. Pesou, também, a cena política conturbada, depois de divulgadas gravações de uma ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) envolvendo-o em “rachadinhas” quando era deputado federal.
Ainda repercutiu a perda de popularidade em pesquisa recente da CNT/MDA. Nesta, a aprovação positiva do governo recuou de 33%, em janeiro passado, para 27,7%, pior patamar desde o início do mandato. Já pela pesquisa estimulada para a eleição de 2022, Lula apareceu com 41,3% contra 26,6% de Bolsonaro.
O “estranho” aqui foi o “porquê” de só agora resolver-se denunciar o presidente pela prática de “rachadinha”. Consideramos, aliás, controverso este tema, até porque é prática comum nas casas legislativas do Brasil. Todos os deputados, senadores e vereadores a praticam. Até partidos de esquerda, nos seus estatutos, estipulam seu uso como “doação por parte dos companheiros para o partido”. Vê se pode? Dinheiro público! Esta, e tantas outras, é mais uma “falsa” crise neste governo, que sempre responde muito mal. Segue a estratégia de alguns de fazer “sangrar” o governo Bolsonaro.
Em paralelo, Arthur Lira segue tocando a agenda de reformas, junto com Paulo Guedes, a decidir pela prorrogação dos auxílios emergenciais e pela reformulação do Bolsa Família.
Neste clima político açodado, o Ibovespa fechou ao longo da semana em alta instabilidade, depois da forte alta de 1,56% na última sexta (2). Recuou 0,55%, a 126.920 pontos. No mercado de juros futuro, as taxas seguem pressionadas. O Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu sete pontos-base, a 5,73%, o DI para janeiro de 2023, a 7,16%, o DI para janeiro de 2025, a 8,22% e o DI para janeiro de 2027, a 8,66%.
Já o dólar comercial subiu 0,68%, a R$ 5,088. No exterior, o dólar também operou sem uma “direção única” em relação a moedas rivais, com volume baixo de negociações em meio ao feriado do Dia da Independência. O índice DXY, que mede a variação do dólar ante seis pares, subiu 0,20%, aos 92,411 pontos.
Nesta terça-feira (6), Brasília entrou em cena novamente. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), convocou a instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e, na Câmara dos Deputados, líderes se reuniram para ajustes nos textos das fases da Reforma Tributária, com o intuito de iniciar a votação antes do recesso. Cabe observar que o mercado segue reagindo muito mal a esta reforma, nos pontos que tratam do aumento da taxação sobre lucros e dividendos (20%) e no fim dos juros sobre capital próprio (JCP). Em paralelo, os novos depoimentos na CPI da Covid tiveram até prisão de ex-diretor do Ministério da Saúde. Mais crise pela frente.
A pesquisa Focus desta semana apresentou alta marginal nas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) para 2021, de 5,05% para 5,18%, e em 2022, para 2,10%, contra 2,11% na semana anterior. Com a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a mudança de preço da bandeira Vermelha 2 em 52% e a espera pelo resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) de junho nesta quinta-feira, o IPCA para 2021 avançou novamente, para 6,07%, e para 2022, recuou na margem para 3,77%. Além disso, a taxa Selic ficou estável em 6,50% para 2021 e subiu para 6,75% em 2022. A expectativa de taxa de câmbio para o final de 2021 apresentou um leve recuo para R$ 5,04.
Saiu o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de junho nesta quarta-feira (7), em torno de 0,22%, desacelerando frente a maio, consequência do recuo dos preços das commodities no mês. Adicionalmente, também temos dados de vendas no varejo restrito e ampliado referente a maio. Na quinta-feira (8) saiu o IPCA de junho, em torno de 0,6%, com a desaceleração impulsionada por uma menor pressão na margem dos preços administrados (energia elétrica e combustíveis) e por serviços.
Nos EUA, toda atenção para as declarações de alguns diretores do Fed a reforçarem o posicionamento hawkish, mais agressivo, antecipando suas expectativas de elevação da taxa de juros para antes do que espera o mercado. A Ata do Federal Open Market Committee (FOMC) de junho, que foi divulgada nesta quarta, confirmou as previsões e trouxe mais detalhes sobre o início do debate de redução de estímulos monetários e as expectativas sobre a economia.
Adicionalmente, enquanto dados econômicos mistos apontam que o pico do crescimento dos EUA pode já ter passado, os dados do payroll retomam tendência altista e a inflação sinaliza aceleração, apesar do diagnóstico transitório, e pode desafiar o Fed a definir o melhor momento para iniciar o tapering (redução da compra de ativos pelo Fed). Toda esta incerteza deve continuar “pesando” sobre os mercados nos próximos meses.
Na terça, um alento. Com a divulgação dos dados de PMI e ISM do setor de serviços, foram apresentados dados robustos em meio à reabertura da economia com o avanço do cronograma de vacinação e a chegada do verão no hemisfério norte. Ainda na quarta, o relatório de emprego JOLT mostrou a mesma tendência dos dados do mercado de trabalho da última semana, contudo as contratações seguem abaixo do seu potencial.
Assim, os dados macro, somados à Ata do FOMC, podem ter mais impacto sobre a curva curta do que sobre a longa nos próximos meses, reflexo da incorporação das estimativas nas decisões de política monetária.
Depois de três dias de reuniões, segue o impasse nas negociações da OPEP. As expectativas apontam para um acordo de aumento da produção em cerca de 400 mil barris por dia de agosto a dezembro. Mas quando os países do bloco devem chegar a um consenso.
Na China, na quinta-feira foram divulgados os índices de inflação, CPI e o PPI. A inflação ao consumidor deve apresentar uma alta na margem, sinalizando um consumo ainda enfraquecido, e o PPI deve seguir a mesma tendência.
Por Val-André Mutran – de Brasília