Como seria o som da Floresta Amazônica? Barulhento? Calmo? Com diferentes tons ou em mesmo ritmo? Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale -Desenvolvimento Sustentável estão dedicados a esse estudo, que deverá fornecer informações importantes sobre a biodiversidade por meio do som que ela emite. O objetivo é contribuir para a conservação desse que é o maior bioma do Brasil, a Amazônia. Já são mais de 16 mil minutos gravados da vida na Floresta Nacional de Carajás, localizada no sudeste do Pará. E os primeiros resultados revelam características interessantes e curiosas.
Aparelhos programados para gravar 24 horas foram fixados em árvores a aproximadamente dois metros do solo, a fim de coletar os sons. Cada aparelho grava um minuto a cada 10 minutos. Depois esses sons são transformados em sonogramas e analisados em programas específicos de computador. Foi utilizado o gravador Audiomoth 1.0.0 e o R, uma linguagem de programação para computação estatística, para analisar os sons. A partir de então, é feita a análise desse universo sonoro, sua identificação e a variabilidade por uma equipe de biólogos, com diferentes especialidades, como taxonomia e ecologia. .
“Com isso, será possível ter parâmetro para ações de conservação. Outras aplicações futuras deste estudo consistem em comparar os sistemas agroflorestais e também áreas em recuperação com as áreas base, onde os sons foram mapeados, para se ter uma ideia da biodiversidade presente nessas áreas e se alcançaram nível semelhante a um ambiente natural”, explica a pesquisadora do ITV e professora de Pós-Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Tereza Giannini. O trabalho conta com a parceria também do Museu Paraense Emílio Goeldi e apoio de pesquisador do Museu Naturalis de Leiden na Holanda.
Segundo Tereza, os estudos já sinalizam para alguns resultados interessantes. As gravações revelam que o som da Amazônia se modifica ao longo do dia. Há um pico de sons diferentes por volta das 11h/12h. E às 17h, a variabilidade de sons reduz bem. Já durante a noite, há intensa vocalização (emissão de sons) na floresta. Outro ponto é a similaridade entre os sons mesmo em 14 áreas distintas investigadas, que chegam a distar aproximadamente 1,5 km. “Ou seja, dentro da floresta, o conjunto de sons produzidos pelos animais parecem ser mais ou menos homogêneos”, complementa a pesquisadora.
Música hit de Carajás
Como não poderia ser diferente também em se tratando de Amazônia, uma característica marcante dos sons é a diversidade de espécies. Os gravadores mostram essa variabilidade e indicam qual área tem mais sons diferentes. O estudo identifica também, em cada gravação, todas as aves que estão vocalizando em cada área. Ou seja, nesse estudo, estão sendo identificadas as aves caso a caso. Dos 16 mil minutos gravados, já foram analisados 7 mil minutos, onde foram identificados os cantos de mais de 230 espécies distintas de aves.
Há sons que chegam a ser o “hit” de Carajás (hit expressão em inglês que se refere a aquela música que é mais popular). “Tem alguns sons que são muito característicos. Quando a ouvimos, logo pensamos: ah estou em Carajás!”. Um dos exemplos é o canto do Lipaugus vociferans ou cricrió, que é uma das aves mais barulhentas e ouvidas em toda a Amazônia, sendo muitas vezes chamada de A Voz da Amazônia – embora ocorra também em parte da Mata Atlântica. A ave é típica em Carajás.
Os estudos também registraram o canto de espécies ameaçadas, como a Pyrilia vulturina, conhecida como a curica-urubu, que está classificada como vulnerável na lista de aves ameaçadas de extinção do Brasil. É endêmica do país, ocorrendo ao sul do Amazonas no Pará e Maranhão. Das gravações, apenas em um único ponto houve registro dela. “Têm algumas como a curica que não esperávamos ouvir, porque são espécies mais raras nas áreas. E foi uma satisfação poder ouvir”, vibra Tereza.
Pesquisa maior
Os trabalhos seguem ao longo dos anos de 2022 até 2023 e integram os estudos de fauna dentro de uma pesquisa ainda maior e mais completa sobre o Capital Natural da Floresta Nacional de Carajás. Esses estudos realizados pelo ITV, fazem um levantamento do estoque de recursos naturais da floresta, e como esse estoque contribui para a absorção do carbono, regulação do clima, proteção da água e da própria biodiversidade. Para este último item, o estudo envolve flora (com marcação de espécies, identificação por QR-Code e DNA) e fauna (também com coleta de abelhas, borboletas, além da vocalização das aves e análises dos sons).
O projeto Capital Natural busca também compreender as interações da natureza entre flora e fauna. Muitos animais auxiliam na reprodução das plantas como os polinizadores e dispersores de sementes ou no combate de pragas ao se alimentar de certos insetos. “Conhecer a biodiversidade é fundamental para protegê-la e proteger a biodiversidade significa proteger os benefícios que os seus ecossistemas oferecem para o bem-estar do ser humano, como a água, o alimento e a regulação do clima local”, ressalta o Diretor do ITV, Guilherme Oliveira.
A pesquisa sobre os sons da floresta é um dos destaques do Balanço Vale+ Pará. A publicação traz também dados e informações sobre os investimentos e projetos da Vale no estado e pode ser acessada em www.vale.com/pa.