Iphan e tacacazeiras irão se reunir em todas as capitais do Norte

Será nesta sexta-feira (21), em mais um passo para transformar tacacazeiras em patrimônio cultural do Brasil. Em Parauapebas, elas já fazem sucesso.

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“Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa”, diz, a música cantada por Joelma que até hoje anima o Brasil e que projetou nacionalmente um dos alimentos mais tradicionais do Pará e da Amazônia.

Sim, estamos falando daquele alimento que a gente bebe (e não come, como acham os turistas) na cuia, preferencialmente bem quente mesmo sob um sol escaldante no final da tarde, quando o cheiro do tucupi parece invadir muitas ruas da cidade, principalmente na capital, Belém.

E toda boa tacacazeira sabe como agradar seus clientes. Mas apesar de o tacacá levar poucos ingredientes – tucupi, camarão seco, jambu e goma de mandioca, além de alho e chicória -, não é qualquer pessoa e nem qualquer cozinheira que sabe prepará-lo. Que o diga Cleide Miranda de Souza, uma das mais antigas tacacazeiras de Parauapebas, onde é muito conhecida como Cleide do Caldeirão.

Nascida no Tocantins, há 22 anos ela se sustenta em Parauapebas com a venda de tacacá e de vatapá, bastantes disputados pela clientela. Mas nem sempre foi assim. “No começo foi difícil porque uma tocantinense trabalhar com tacacá e chegar ao ponto de o paraense realmente gostar não foi fácil. Mas, graças a Deus, tive uma ajuda construtiva de um grande amigo, que é o Duilo Junior”, recorda-se Cleide.

E o próprio Duilo confirma: o tacacá da Cleide era horrível 20 anos atrás. “Tucupi ruim, goma ruim, jambu mal cozido”, enumera o técnico em Eletrotécnica, nascido no bairro da Terra Firme, na capital, e do tipo bem exigente que conhece o bom tucupi “só pelo cheiro”, como quase todo belenense.

Com as dicas de Duilo, Cleide foi melhorando o tacacá até o ponto de os clientes perguntarem se ela é de Belém. “Eu me sinto até privilegiada quando as pessoas tomam tacacá e falam: ‘nossa, é original’. Eu começo a sorri”, alegra-se a tacacazeira, que “até hoje” agradece as dicas do amigo belenense.

Tradição e cultura

Mas, independentemente onde tenham nascido, as tacacazeiras podem ter o ofício transformado em Patrimônio Cultural do Brasil. Todas as providências para isso já vêm sendo tomadas desde 2023 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que na manhã desta sexta-feira (21), a partir das 10 horas, irá promover um encontro com tacacazeiras de todo o Norte do Brasil.

A reunião será simultânea em todas as capitais nortistas, por meio de videoconferência, em que devem participar também representantes das secretarias de Cultura. Em Belém, o encontro será no Centro Cultural Sesc Ver-O-Peso.

Ouvir as tacacazeiras e trocar experiências faz parte do processo do Iphan de reconhecimento das práticas tradicionais ligadas à produção e comercialização do tacacá, iguaria típica da culinária amazônica. O instituto tem buscado compreender os saberes das tacacazeiras, suas técnicas e a importância da atividade para a identidade cultural das regiões amazônicas.

Além de valorizar essas profissionais, o reconhecimento como Patrimônio Cultural pode contribuir para a salvaguarda e a transmissão desse saber para as futuras gerações. É o que espera tacacazeiras como a Cleide do Caldeirão. “Sou feliz sim, eu me sinto realizada. Tenho orgulho de ser tacacazeira e ter o reconhecimento da cidade. Esse é um dos meus maiores orgulhos”, afirma.

“Elas são mesmo maravilhosas”, elogia Duilo Junior, que parabeniza o Iphan pela iniciativa, mas entende que é preciso ir além do reconhecimento dessas profissionais. “É bastante gratificante para elas até mesmo para que possam ser oferecidos treinamentos, cursos de como fazer um bom tacacá”, sugere Duilo, referindo-se à necessidade de expandir o conhecimento sobre como cozinhar corretamente a iguaria para bastar o cheiro do tucupi para dá água na boca.

Texto: Hanny Amoras (Jornalista – MTb/PA 1.294)

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