Durante reunião para discutir o derrocamento do Pedral do Lourenção, na última segunda-feira, no auditório do Ministério Público Estadual, em Marabá, o presidente do Conselho Superior da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Ítalo Ipojucan Costa, fez uma cobrança bastante significativa às autoridades presentes.
Ele lembrou o fato que ocorreu com as eclusas de Tucuruí, que foram construídas tardiamente, mas mesmo assim estão sem utilização há mais de uma década, alertando que pode ocorrer o mesmo com a hidrovia do Rio Tocantins, caso não haja a construção de um porto público em Marabá, que já tem projeto pronto e aprovado no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
Ipojucan lamenta que o projeto do Porto Público de Marabá esteja estagnado. Ele chegou a ser anunciado duas vezes, mas acabou abandonado nas duas ocasiões e jogado nos “gavetões” do Dnit. “As obras do derrocamento do Pedral estão previstas para iniciar este ano, mas se não houver porto, em que lugar as cargas serão embarcadas e desembarcadas? Isso só será possível, no primeiro momento, com investimento da iniciativa privada”, adverte.
Mas mesmo com investimento deste segmento, Ítalo considera o porto público vital para viabilizar o transporte de cargas pela hidrovia do Rio Tocantins, a partir do momento em que for concluída o derrocamento do pedral. “A produção de grãos acima do Paralelo 16 do Leste do Mato Grosso tem de sair pelo chamado Arco Norte. O Centro Oeste, através do Porto de Miritituba, já é uma realidade. A outra é através do sul do Pará, alcançando Marabá e Barcarena. De acordo com a Aprosoja, a previsão de carga para produção de grãos vindas do Leste do Mato Grosso até o ano de 2025 é de cerca de 25 milhões de toneladas de soja. E a saída mais competitiva para ela é alcançar Marabá e o Porto de Vila do Conde”, destacou.
No mesmo sentido, Ipojucan alertou os presentes que a previsão é de que até meados de 2025, o sul e sudeste do Pará estarão produzindo cerca de 5 milhões de toneladas de soja, que também utilizarão a logística da hidrovia para escoar a produção. “Se não tivermos o acompanhamento necessário para capturar as oportunidades que esse momento trará, vamos ter apenas o viés do investimento privado, que por sua vez não cuida da diversificação desse novo cenário”.
Para Ítalo, é preciso ressuscitar o projeto do Porto Público de Marabá e fazê-lo andar juntamente com o derrocamento do Pedral, porque ambos se completam.
Em entrevista ao Blog no mesmo evento, o engenheiro João Acácio Gomes de Oliveira Neto, presidente da DTA Engenharia, empresa que ganhou a licitação para realizar o derrocamento do Pedral do Lourenção, revelou que várias outras empresas já o procuraram com o intuito de avaliar a construção de um porto privado em Marabá.
O Centro-Oeste é responsável por quase metade dos grãos produzidos no Brasil, de acordo com a CNA. E embora 56% da produção sejam acima do Paralelo 16, apenas 14% são escoados pelos portos do Norte e do Nordeste. “Só com investimentos maciços em infraestrutura, aproveitando os rios, será possível inverter essa lógica que sobrecarrega os portos do Sul e do Sudeste, baixar os custos do transporte e preservar o meio ambiente”, avalia João Acácio.
Sobre o Porto Público
O Porto Público de Marabá está previsto para ser construído à margem esquerda do Rio Tocantins, na altura do Km 14 da BR 230, na região do Distrito Industrial 3. Terá uma área estimada de 370 mil m², incluindo o pátio multimodal que será integrado pela rodovia. O terminal terá capacidade para receber cargas de granéis sólidos, minério e derivados e carga geral. O valor da obra chegou a ser estimado em R$ 100 milhões em 2009.