Relatório sobre o avanço do novo coronavírus no município de Jacundá traz números preocupantes. Em 20 dias, já são 23 as pessoas diagnosticadas com o vírus. E, por trás dessas dezenas, a realidade pode ser 10 vezes maior.
“É prudente, no entanto, observar que o crescimento do número de casos notificados pressupõe um número bem maior de casos reais, considerando-se as subnotificações, já que os casos leves e assintomáticos sequer são testados”, explica Lícia Souza, secretária municipal de Saúde, detalhando o Relatório da Situação Epidemiológica de Jacundá.
Relata o documento, ainda: “Se o número de casos graves representa, em média, 5% do total de infectados, pode-se estimar que tenhamos mais de 200 pessoas infectadas em nosso município, considerando que, dos 23 casos notificados até agora, 11 foram graves”. O relatório é assinado por Marcos Vinicius Araújo Pinto Ailton Lima dos Santos, ambos coordenadores de Vigilância em Saúde.
De acordo com o levantamento, em sete dias o número de notificações positivas aumentou duas vezes: “Dessa forma, o número de leitos ocupados por pacientes moderados e graves na rede de atendimento municipal seguiram o mesmo ritmo”. Segundo Lícia Souza, o “aumento dos casos graves na última semana, é reflexo das duas semanas anteriores, em que o índice Jacundá, esteve abaixo de 40%”.
Isolamento social
Segundo os dados levantados pela Secretaria de Inteligência e Análise Criminal (Siac), vinculada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), o município de Jacundá já atingiu, em alguns momentos, índices de isolamento próximos aos 70% preconizados pela OMS. No entanto, tem mantido índices abaixo dos 50%, desde a última semana de abril.
“Ressalta-se que o município não tem parâmetro para estruturar uma Unidade de Terapia Intensiva, ficamos submetidos à disponibilidade de vagas dos hospitais de referência da nossa Regional. Tendo em vista o colapso do sistema de saúde em que o Estado do Pará se encontra, já vivemos o drama de não assegurar aos nossos usuários suporte de terapia avançada”, adverte o documento.
Primeiro óbito
No dia 10 de maio, o município de Jacundá registrou o primeiro óbito tendo como causa da morte a covid-19. Trata-se de uma mulher de 60 anos de idade, com diversas patologias clínicas. O diagnóstico para o novo coronavírus foi contestado por uma filha dela, que divulgou áudio em rede social sobre o caso. Na postagem, a mulher nega que a causa da morte tenha sido a covid-19.
Sobre o assunto, a secretária de Saúde de Jacundá, Lícia Souza, abriu um espaço no relatório, detalhando que, havia algum tempo que a mulher já estava em tratamento para as complicações que carregava, e testou positivo para covid-19, em teste rápido da marca MED TEST, realizado por solicitação médica, na quinta-feira (8), quando positivou para os marcadores IGG e IGM do vírus, denotando uma infecção ainda ativa, mas com mais de sete dias de evolução.
Diz também que a paciente em questão estava em tratamento de saúde para as complicações respiratórias que já apresentava, quando viajou três vezes para atendimento em Tucuruí, acompanhada por uma das filhas. “Não é possível, portanto, atribuir o óbito apenas ao coronavírus, mas, sem dúvida alguma, a infecção viral contribuiu para a complicação do quadro clínico e agravamento dos sintomas respiratórios”, afirma Lícia Souza.
Ela diz ainda que não é possível relacionar este óbito específico com a capacidade de atendimento instalada no município, já que a paciente foi atendida em Jacundá admitida em leito hospitalar no Hospital de Campanha municipal, onde foi medicada e recebeu o atendimento de saúde necessário.
“Quando agravou, foi encaminhada para atendimento em leito de UTI em Tucuruí, evoluindo a óbito por agravamento dos sintomas, mesmo com todo o suporte de equipamentos e atendimento profissional”, conclui.
(Antonio Barroso)