Do Valor Econômico
Os planos da Equatorial Energia para comprar a Centrais Elétricas do Pará (Celpa), atualmente em recuperação judicial, podem ser atropelados por outros interessados. O grupo J&F, holding que controla a Eldorado Celulose e o JBS, maior processados de carne do país, enviou representante à assembleia de credores da distribuidora de energia realizada no sábado, em Belém, onde manifestou interesse em adquirir a empresa.
A informação foi confirmada pela J&F e pela juíza da 13ª Vara Civil de Belém, Maria Filomena Buarque Almeida. A juíza recebeu, na semana passada, um telefonema do presidente da J&F, Joesley Batista, que quis obter informações sobre a assembleia que seria realizada com os credores da Celpa no fim de semana.
No entanto, o advogado enviado pela J&F à reunião esclareceu que o objetivo da holding é adquirir o Grupo Rede como um todo, incluindo a distribuidora de energia paraense.
Na sexta-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decretou a intervenção em oito distribuidoras controladas pelo Rede, após a publicação da Medida 577, assinada pela presidente Dilma dois dias antes.
A única empresa do grupo que não sofreu intervenção foi a Celpa, porque a empresa já estava em recuperação judicial. A Aneel chegou a pedir a extinção do processo, mas ela foi negada pela juíza do tribunal de Belém, que também decidiu manter a assembleia com os credores da distribuidora no sábado.
O Grupo Rede concedeu à Equatorial Energia exclusividade nas negociações para compra da Celpa. Mas esse privilégio se estende por um período determinado e, segundo uma fonte, já teria acabado. Se o prazo expirar, a distribuidora poderá negociar com outros interessados. Procurada, a Equatorial não se manifestou sobre o assunto.
Jorge Queiroz, herdeiro e dono do Grupo Rede, e os controladores da J&F já vinham conversando sobre a possível aquisição das distribuidoras de energia, mas não chegaram a um acordo.
Caberá à Aneel decidir pela melhor proposta, já que a família Queiroz foi afastada da gestão das empresas. Nos bastidores de Brasília, é esperado que outros grupos tenham interesse na aquisição dos ativos do Grupo Rede, entre eles a Cemig e a CPFL. Uma das hipóteses avaliadas pelo governo é o fatiamento dos negócios e a venda das distribuidoras para diferentes compradores.
Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, a J&F vai avaliar agora as novas condições de negociação, após a intervenção da Aneel nas distribuidoras. A direção da holding, informou a fonte, quer saber como ficarão a reestruturação de todas as obrigações, como metas operacionais de cada distribuidora no novo contexto, sob a gestão dos interventores.
A Rede tem 60 dias para apresentar um plano com uma “solução de mercado” para as oito distribuidoras. Esse plano passará pelo crivo da Aneel. O prazo é avaliado como curto para se alcançar uma proposta.
No caso da Celpa, a posição da J&F, conforme essa fonte do setor, é aguardar a posição da Equatorial Energia. Se a companhia desistir, a holding comandada por Joesley Batista vai apresentar imediatamente sua proposta de aquisição.
No sábado, os credores da Celpa, entre eles o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco da Amazônia, aprovaram o plano de recuperação apresentado pela Equatorial, que já é dona da Cemar, distribuidora de energia do Maranhão. O plano prevê um aporte na companhia paraense de R$ 700 milhões, dos quais R$ 350 milhões teriam de ser alocados nos próximos dias.