O juiz Alexandre Arakaki, de Marabá, sudeste do Pará, avalia que o município possui, há um bom tempo, uma rede de proteção à mulher, composta por mulheres e homens que diuturnamente trabalham pela busca da dignidade do público feminino. “Há muito deixou de ser mi-mi-mi a busca pela dignidade, a enxergar mulheres invisíveis, que são aquelas anônimas que estudam, trabalham e realizam tarefas de casa, cuidam dos filhos, em dupla, tripla jornada, que sustentam uma casa e uma família. São vocês que nos fazem bem,” disse.
O magistrado afirma que gostaria de não falar sobre feminismo e racismo, porque às vezes só se levanta a voz para falar de direito das mulheres, de igualdade de gênero, raça, etnia, porque ainda há discriminação.
“No nosso último levantamento, foi constatado que tivemos em torno de 550 medidas protetivas em 2022. Quase duas por dia; ou seja, duas mulheres, famílias, vítimas de violência,” constatou. “E essas foram as mulheres que procuraram o poder público. E as demais que sofrem caladas em casa, que não conseguem pedir socorro, que não têm voz ou força para se levantar”.
A revelação ocorreu durante pronunciamento na noite desta quarta-feira (8), em solenidade de entrega de comendas a 20 mulheres que se destacaram na comunidade marabaense, ocorrida no Plenário da Câmara Municipal.
A vereadora licenciada e presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, Vanda Américo (Cidadania), enfatizou que a violência contra a mulher preta é maior e as oportunidades menores. “Poucas portas se abrem e se não for através de políticas públicas, não vamos avançar,” alertou.
Ela ainda detalhou que as mulheres pretas que alcançaram algum espaço têm de levantar a bandeira todos os dias para vencer o preconceito da sociedade: “São séculos de injustiça e precisamos mudar essa situação. Temos que fazer um esforço conjunto”.
A sessão solene alusiva ao Dia Internacional da Mulher faz parte do calendário oficial do parlamento marabense. Coube às duas vereadoras da Casa, Cristina Mutran (MDB) e Elza Miranda (PTB), se revezarem na presidência da cerimônia que homenageou personalidades femininas pelos relevantes trabalhos por Marabá.
Miranda falou da satisfação de conduzir os trabalhos frente a ato tão importante quanto às homenagens e reconhecimento às mulheres, enquanto Mutran saudou as homenageadas e seus familiares, além de agradecer a todos os vereadores presentes.
Titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Yasmin Santos Andrade Farias frisou que a Polícia Civil tem papel importante na causa, e que nessa semana tem desenvolvido vários projetos em escolas e faculdades para conscientizar a respeito do combate à violência contra a mulher. “Temos ministrado palestras e realizado eventos na Deam,” disse. E garantiu: “Estamos à disposição e plantão 24h para combater a violência doméstica a qualquer momento, por meio das medidas protetivas, dos procedimentos criminais, seja também pelo Parápaz”.
Representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a ex-vereadora Irismar Araújo Melo salientou que o Dia Internacional da Mulher é um momento de reflexão e comemoração. Ela destacou que Marabá cresce organicamente, e quem faz a cidade é a soma de todas as pessoas juntas: “A todas e todos a gente deseja e reconhece o serviço prestado por esta cidade. Avançamos muito no reconhecimento do direito, mas temos que lutar para a efetivação deles”.
Entre as homenageadas, Glecia da Silva Sousa agradeceu pela condecoração e disse que é um momento de relembrar as lutas do dia 8 de março, como conquistas das mulheres pelo direito de sua voz ser ouvida. Débora Almeida, outra homenageada, agradeceu a oportunidade de receber a comenda e disse estar muito emocionada.
“A mulher tem conquistado o seu espaço na sociedade com muito trabalho, e estamos em todos os segmentos. Que possamos ser mulheres que ajudam outras a fazer a diferença na sociedade,” disse.
Representando todos os vereadores, Marcelo Alves mencionou que Marabá é uma das cidades que têm mais movimento de mulheres e que isso deve ser comemorado. Contudo, ele destacou que é preciso cobrar sobre as mortes no Hospital Materno Infantil, e por que a oncologia do Hospital Regional está demorando tanto para ser implantada.
“Hoje é o dia de questionarmos isso; hoje é dia dessas lutas. A questão da dignidade menstrual em Marabá – é preciso cobrar essa política de assistência da prefeitura para beneficiar as meninas da periferia, enfatizou”.
Confira a lista das homenageadas:
Luciney Aparecida de Oliveira Alves; Rosa Maria Mesquita Milhomem Costa; Odailde Araújo Gonçalves; Glecia da Silva Sousa; Maria da Silva Cardoso; Ana Claudia Miranda Souza; Maria Helena Pereira Silva; Katiuce Wanny Rodrigues Montel Machado; Fabiana de Cristo Maia Rodrigues; Débora Almeida dos Reis Freitas; Biramir de Jesus Oliveira; Maria da Paz Silva Matos; Luzia Farias Alves; Nely Duarte da Silva; Cleonice dos Santos Costa Lopes; Marilene Sá; Maria Francisca dos Santos; Márcia Ferreira Silva; Noemisia Alves de Abreu; e Célia Regina de Lima Pinheiro.