Juiz de Parauapebas sustenta decisão contra Aurélio Goiano por tentar contornar PSS

Inconformado com a possibilidade de ficar “amarrado” à manutenção de servidores que ingressaram por processo seletivo simplificado que ele não realizou, prefeito Aurélio Goiano foi buscar em Belém, no juízo de 2º grau, decisão que lhe fosse favorável. Gestor, contudo, passou por cima de TAG e TAC

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“Mantenho a decisão agravada.” Foi com essa frase, em negrito e tom forte, que o juiz Lauro Fontes Júnior, titular da Vara da Fazenda Pública e Execução Fiscal da Comarca de Parauapebas, sustentou na última quarta-feira (19) que não irá modificar sua decisão de dezembro, com vistas a barrar a farra das contratações diretas de servidores. O juiz deu cinco dias para que o prefeito Aurélio Goiano também garanta a transparência de seus atos administrativos, relevantes para análise dos rumos da folha de pagamento e do custo da despesa com pessoal do Poder Executivo. O prazo termina nesta terça-feira (25). As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu.

O magistrado, que desde 2022 envida esforços para ajudar a Administração a regularizar a situação dos servidores não estáveis do Poder Executivo municipal, não aceita menos que o PSS para ingresso nos quadros do município, com exceção do provimento dos cargos comissionados, que são de livre nomeação e exoneração.

Inconformado com a possibilidade de ficar “amarrado” à manutenção de servidores que ingressaram por processo seletivo simplificado que ele não realizou, o prefeito Aurélio Goiano foi buscar em Belém, no juízo de 2º grau, decisão que lhe fosse favorável. E, por meio da interposição de um agravo de instrumento, conseguiu.

No entanto, a decisão da desembargadora Gleide Pereira de Moura, que suspendeu determinação do juiz Lauro Fontes, condicionou a forma de contratação de pessoal pela gestão futura à realização de Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA) e Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Pará (MPPA), como requisito de validade. O prefeito não demonstrou publicamente o cumprimento de tais requisitos.

Juiz não ‘arrega’ da decisão

Não se sabe se por medo ou vaidade, Aurélio se tornou o prefeito mais cercado de advogados da história. Ele, que recentemente majorou a quantidade de vagas do cargo comissionado de assessor jurídico da Prefeitura de Parauapebas, só tem menos advogados à disposição que o governador do Pará e o presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Mas quantidade não é sinônimo de qualidade, e as recentes decisões negativas contra a sua administração são uma prova disso: sobram advogados e faltam gestores que saibam fazer a máquina andar, de fato e na linha.

Por querer fazer a seu modo, abandonando as contratações por PSS e partindo para admissão direta de trabalhadores temporários, o comportamento recalcitrante do prefeito atraiu para si não apenas o olhar de desconfiança do Poder Judiciário, mas também órgãos de fiscalização como o TCM e o MP. “Não se pode negligenciar o apoio técnico dos órgãos de controle. A eles foi outorgada a tarefa de ditar os parâmetros das possíveis contratações, até que ocorressem os concursos públicos”, destaca o juiz Lauro Fontes Júnior na decisão.

No entendimento do magistrado, o que se tem feito até aqui é atuar para garantir segurança jurídica aos ordenadores de despesa, a fim de que estes não venham efetuar pagamentos de salários de servidores sem que estes estejam vinculados à Administração Pública por meio de procedimentos previsos em lei, como processo seletivo e concurso público.

427 contratações no Diário 

Com a cara e a coragem, o prefeito Aurélio Goiano desfez milhares de vínculos de PSS. Ele até manteve alguns trabalhadores, mas não por renovação de contrato decorrente de seletivo, e sim por contratação direta, da maneira como se era praticado até junho de 2023. No final de janeiro, a Prefeitura de Parauapebas tinha mais de 4.100 trabalhadores temporários na folha, com duas formas de ingresso (contratação por PSS, para os servidores cujo contrato ainda não expirou, e contratação direta, do tipo “passe lá no meu gabinete”).

Na semana passada, a prefeitura publicou no Diário Oficial do Município 427 contratos temporários, incluindo-se entre eles o de 23 servidoras grávidas ou em licença-maternidade. De acordo com o governo municipal, a medida visa “atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”, com ato realizado “mediante autorização de contratação oriunda do Decreto Municipal nº 666/2025, que decreta situação de emergência em decorrência da necessidade de adoção de medidas urgentes e temporárias que evitem a descontinuidade dos serviços públicos dos órgãos da Administração Direta e Indireta do Município”. Opositores ao governo e os contrários à tal “situação de emergência” dizem que Aurélio tentou criar uma cortina de fumaça e nela está se perdendo.

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