A Justiça do Estado do Pará acatou o pedido de prisão temporária feito pelo Ministério Público contra 11 policiais militares e 2 civis, pela participação na morte de 10 trabalhadores rurais que ocupavam a fazenda Santa Lúcia, em Pau D’Arco, sudeste do estado.
Os promotores de Justiça de Redenção Alfredo Martins de Amorim, José Alberto Grisi Dantas e Leonardo Jorge Lima Caldas assinam o pedido de prisão temporária de Carlos Gonçalves de Souza; Rômulo Neves; Cristiano da Silva; Rodrigo de Souza; Advone da Silva; Jonatas Pereira e Silva; Neuily Sousa da Silva; Welington Lira; Orlando Cunha; Ronaldo Silva; Ricardo Moreira; Douglas da Silva Luz e EuclidesLima Júnior.
Policiais federais foram destacados para cumprir os mandados, mas todos os suspeitos se apresentaram: oito policiais militares e um policial civil se apresentaram em Redenção e serão encaminhados para a capital. Os demais procuraram a PF em Belém.
Segundo o Ministério, em breve será oferecida à Justiça a denúncia sobre esse caso. De acordo com a lei a prisão é por 30 dias, por tratar-se de crime hediondo, podendo ser prorrogada por igual período.
O crime
A chacina de Pau D’Arco, como o crime ficou conhecido, aconteceu no dia 24 de maio, na fazenda Santa Lúcia. Um grupo de policiais civis e militares foi até a fazenda para dar cumprimento a mandados de prisão de suspeitos de envolvimento na morte de Marcos Batista Ramos Montenegro, um segurança da fazenda que foi assassinado no dia 30 de abril.
De acordo com a polícia, os assentados tinham um arsenal de armas de fogo e reagiram à presença dos policiais. Houve troca de tiros, que resultou nas mortes. Mas, familiares das vítimas e sobreviventes alegam que a ocupação da fazenda era pacífica, que os policiais chegaram de forma truculenta e atiraram sem provocação.
Segundo a Comissão de Direitos Humanos da Alepa, no dia em que os posseiros foram mortos, policiais envolvidos na operação retiraram os corpos antes que perícia fosse realizada.
Perícia
A Polícia Federal realizou a reconstituição para levantar o que ocorreu na fazenda Santa Lúcia. Sessenta atores participam da reconstituição, considerada a maior reprodução de crime já realizada pelos policiais do Pará. Além dos atores, uma equipe de peritos criminais federais de Belém e Brasília, Policiais Civis e Militares e técnicos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves também acompanharam a reconstituição.
Sobreviventes disseram que os posseiros foram executados. Policiais que participaram da operação afirmaram que houve confronto.
A perícia feita nos corpos concluiu que nove posseiros foram baleados no peito e uma mulher atingida na cabeça com um tiro à queima-roupa. Ainda segundo os peritos, não havia marcas de bala nos coletes dos policiais.
Outra morte
Na sexta-feira (7), o agricultor Rosenilton Pereira de Almeida foi assassinado no município de Rio Maria, no sul do Pará. A Polícia Civil disse que investiga se o assassinato de Rosenilton tem ligação com as mortes dos dez posseiros na fazenda Santa Lucia.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, Rosenilton liderava um grupo de camponeses que voltou a ocupar a fazenda há quinze dias. Testemunhas disseram que dois homens em uma moto abordaram Rosenilton quando ele saía desta igreja. Ele foi assassinado com quatro tiros.
Direitos humanos
O Governo do Pará disse em nota que, a princípio, não foi vista nenhuma relação entre o assassinato de Rosenilton e as mortes ocorridas em Pau D’Arco, mas a conexão entre os crimes não está descartada, pois a vítima integrava o grupo que invadiu a fazenda Santa Lúcia.
Segundo uma nota pública divulgada no sábado (8) por entidades ligadas aos direitos humanos, Rosenilton havia deixado a Fazenda Santa Lúcia horas antes de ser assassinado, porque estava sendo ameaçado e perseguido na região.
No documento, as entidades pedem que o governo federal e o do Pará adote medidas efetivas para garantir a vida e a integridade das trabalhadoras e trabalhadores rurais acampados da Fazenda Santa Lúcia, bem como garanta uma investigação isenta e rigorosa da chacina dos 10 de Pau D’Arco e da morte de Rosenilton. (G1-PA)
Delação Premiada
Segundo o site CDA em Foco, de Conceição do Araguaia, o subcomandante do 7º Batalhão de Polícia Militar de Redenção, tenente-coronel Kenedy Gonçalves de Sousa, procurou o corregedor militar da PM, promotor Armando Brasil, sobre a possibilidade de fazer deleção premiada a respeito da chacina de Pau D’Arco.
Durante o trabalho de reconstituição da chacina realizado pela Polícia Federal a fim de levantar o que ocorreu na fazenda, o delegado da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA), Valdivino Miranda, também teria procurado a cúpula da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Pará (SEGUP) e a Superintendência Estadual da Polícia Federal para negociar uma delação premiada e contar o que de fato aconteceu.
Na última quarta-feira (5) o superintende da Polícia Federal, Ualame Fialho Machado e o secretário de Segurança Publica do Estado, Jeannot Jansen estiveram em Redenção. Houve uma conversa demorada das duas autoridades com o delegado Valdivino Miranda e no dia seguinte os três viajaram para Belém.