Brasília – Se depender do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a Lei Kandir “está com os dias contados”. Em reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, Alcolumbre discutiu a Lei Kandir, que trata da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aos produtos destinados à exportação. Em outra frente, Guedes deve receber dos governadores uma carta na qual pedirão ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) a revogação da lei. A intenção não é acabar com a legislação, frisa Alcolumbre, mas revogar uma parte que trata da desoneração dos estados exportadores.
A referida norma estabelece que a União compense os estados pelo Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que deixa de ser arrecadado com a desoneração das exportações.
“É só o sonho deles [estados], a vida toda”, disse Alcolumbre ao ser perguntado se os estados seriam favoráveis à ideia. “Desde a criação da Lei Kandir, eles estão querendo redes tributárias e o ICMS dos produtos de exportação, especialmente minério e grãos.”
“Trabalhei muito com Paulo Guedes, com a equipe econômica e o senador Fernando [Bezerra] — líder do governo no Senado — para que o governo pudesse ao menos quitar as obrigações do ano de 2019 em relação à Lei Kandir”, completou.
A pedido do governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), os governadores se reuniram em Brasília, na residência oficial do democrata. O objetivo do encontro, segundo Alcolumbre, foi tratar da inclusão dos estados e municípios na reforma da Previdência que tramita na CCJ do Senado.
“É importante que o Estado reconheça, pelo menos no ano de 2019, e pague essa conta com os estados, especialmente os exportadores”, comentou Alcolumbre nesta terça-feira. “Também falamos de uma proposta de emenda constitucional que pode extinguir a Lei Kandir e deixar que os estados exportadores possam tributar suas exportações”, acrescentou.
Davi apoia a revisão da Lei Kandir sobre tributação de exportações
PEC para sustar efeitos da Lei Kandir
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, declarou apoio à iniciativa de revisar o dispositivo da Lei Kandir que impede os estados de cobrarem Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre exportações de produtos e serviços. O Senado poderá iniciar em breve a discussão de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nessa direção. O tema ainda será discutido com os senadores.
“Há o debate, sim, de a gente poder construir uma emenda constitucional agora, no pacto federativo que já está na pauta de votação do Senado, de modo que possa dar autonomia aos estados exportadores para cobrarem o ICMS dos produtos que são exportados e que estão sendo desobrigados a cobrar impostos por causa da Lei Kandir“, explicou Alcolumbre.
A Lei Kandir (Lei Complementar 87, de 1996) regulamenta a cobrança do ICMS, imposto estadual que incide sobre a circulação de mercadorias e serviços. A competência para tratar do ICMS é dos governadores, mas a Lei Kandir determina quais operações podem ser tributadas e quais não podem. Entre aquelas excluídas da tributação estão as exportações.
Davi se reuniu com os governadores e vices de 14 estados, que estiveram em Brasília para o Fórum Nacional de Governadores. Ele disse que a retomada da autonomia estadual para tributar as exportações é uma reivindicação antiga, e confirmou que está em curso a elaboração de uma proposta que atenderia a isso.
O governador do Pará, Helder Barbalho, afirmou que a iniciativa seria a oportunidade de corrigir um “equívoco” estabelecido pela Lei Kandir.
“A PEC vai permitir que a vocação dos estados para exportar os seus produtos esteja sob a responsabilidade da política tributária dos próprios estados”, resumiu.
A União precisa compensar os estados pela isenção forçada de ICMS sobre as exportações, mas uma mudança na legislação feita em 2004 exige que o valor seja renegociado todos os anos. O debate sobre a definição de um valor anual fixo de compensação se estende há anos. A prorrogação mais recente do assunto veio no dia 5 de julho, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) deu mais seis meses para que uma comissão especial, com representantes da União e dos estados, tente chegar a um consenso.
O Congresso já tem um projeto de lei (PLP 511/2018) estabelecendo a soma de R$ 39 bilhões a serem repassados para os estados por ano. Ele foi concebido por uma comissão mista de deputados e senadores, que trabalhou entre 2017 e 2018, e aguarda votação no Plenário da Câmara. Porém, se a exigência de isenção vier a ser extinta por emenda constitucional, a proposta se tornará redundante.
O senador Wellington Fagundes (PL-MT) foi o relator da comissão mista e um dos responsáveis pela elaboração do projeto que regulamenta a compensação federal. Ele alerta que a ideia de permitir que os estados tributem livremente as exportações significaria um acirramento da guerra fiscal, quando estados competem por investimentos através de benefícios tributários e isenções. Isso tem prejudicado a situação financeira das unidades da federação.
“A realidade fiscal dos estados é muito complexa porque fizeram isenções acima do que era possível. Hoje estão comprometendo tudo que têm. Queremos que cada estado possa fazer a sua taxação, mas sem que isso leve a uma disputa fratricida”, explicou.
Wellington considera que a regulamentação do fundo de compensação, com valores dignos e repasses assegurados, é o caminho mais prudente. Além disso, ele defende que o Senado concentre esforços em uma reforma tributária ampla, focada em reduzir a carga de impostos e em garantir que o dinheiro arrecadado não fique concentrado na União.
“Temos que aumentar a base tributária e simplificar a cobrança, com distribuição automática, sem que o governo possa represar recursos”, concluiu.
Por Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.