Desde 2019, quando resolveu assumir publicamente seu interesse em erguer uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins, no meio da cidade de Marabá, a mineradora multinacional Vale não saiu mais da boca do povo. Entre o silêncio sepulcral dos trâmites burocráticos da iniciativa e a divulgação na imprensa de que havia recebido a licença de instalação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no final de agosto, a Vale voltou a cena e criou esperanças na sociedade de Marabá, que sonha há anos com uma alternativa logística de transpor a paisagem natural da cidade que não seja a ponte atual, construída há mais de três décadas.
E agora é oficial: a Vale confirmou nesta terça-feira (3), por meio de publicação no Diário Oficial da União (DOU), ter recebido a licença para construção da ponte, a última das barreiras para que ela comece, enfim, a colocar homens e máquinas num dos principais rios do Pará para montar a nova estrutura rodoferroviária. A informação foi levantada pelo Blog do Zé Dudu.
Na verdade, a licença de número 1.361/2020 foi emitida no dia 26 de agosto e se refere a um “todo”, que são as obras de duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC), numa extensão total de 892,04 quilômetros, desde Parauapebas até a capital maranhense, São Luís. No meio do caminho, contudo, está a necessidade de se construir uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins, projeto que a mineradora até tentou evitar, mas por razões comerciais — e principalmente sociais — decidiu encarar. A licença é válida até 26 de agosto de 2024 e a multinacional tem pressa, de olho no apetite chinês pelas toneladas de minério de ferro saídas das jazidas do complexo de Carajás e que trafegam pelos trilhos até ser embarcado de navio rumo ao Oriente.
900 postos de trabalho no pico das obras
O projeto básico inicial de duplicação da ponte, confeccionado pela consultoria Arcadis Logos em 2014 e depositado no banco de estudos de impactos ambientais do Ibama, revela que a estrutura projetada iniciará no Km 724+755,946 e finalizará no Km 727+065,946, com extensão de 2.310 metros — publicamente, a Vale diz, por meio da imprensa, que são 2.365 metros.
No traçado, a ponte será implantada em paralelo à ponte existente, com entrevia de 275 metros no lado do núcleo São Félix e 315 metros no lado do núcleo Nova Marabá. Além do escopo ferroviário, há a previsão de implantação de duas estradas de serviço longitudinais, paralelas ao traçado da ferrovia, e dois acessos rodoviários locais.
Pelo plano inicial, a construção da ponte demandará cerca de 900 empregos, com pico de obras previsto para os quinto e sexto meses do primeiro ano de serviços. O que falta, agora, é a Vale se pronunciar acerca de quando, então, ela deve iniciar as obras, uma vez que a razão que a impedia já não existe mais.