O professor da Universidade Federal do Pará, João Márcio Palheta, lançou ontem (15), em Belém (PA), seu livro “Território e Mineração em Carajás”. De acordo com o autor, a obra tem como principal conclusão, entre outros pontos, o fato de a maioria dos municípios paraenses atingidos pela mineração não terem avançado, porque vinculam seu desenvolvimento local apenas à mineração.
Palheta também fala sobre a falta de uma política industrial que considere a necessidade das cadeias produtivas ligadas à mineração, de forma que agregue valor ao produto e ao trabalho. “Só dessa forma, vamos avançar na multiplicação da riqueza com base mineradora, agregando a outras atividades econômicas”, disse o professor, por e-mail.
“Se a política mineral continuar da forma como vem sendo realizada, acelerando a exportação das ilhas de sintropia da forma como ocorre no Estado do Pará, o resultado será a entropia territorial, com aumento da pobreza local e regional”, disse Palheta. A entropia é a medida da desordem ou da imprevisibilidade da informação e a sintropia é a função que representa o grau de ordem e de previsibilidade existente num sistema.
“Território e Mineração em Carajás” aborda, entre outros pontos, a organização do território em Carajás, que reflete os conflitos sociais e político-econômicos nas disputas pela territorialização de suas ações e em conflito com as práticas da Vale, maior empresa de mineração do Pará e quarta maior do mundo.
“Se a política de ordenamento territorial continuar sendo construída sem a presença efetiva da sociedade civil, não teremos novidades, além da aceleração da exportação dos minérios para outros países com pouca agregação de valor ao trabalho e ao produto, acirrando ainda mais os conflitos já existentes no Estado do Pará”, disse o professor da UFPA.
O autor disse ainda que o livro é importante para que haja uma reflexão sobre o papel da mineração nos últimos 30 anos e verificar como municípios paraenses do porte de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis, por exemplo, têm enfrentado a gestão territorial e pensado as novas dinâmicas sociais econômicas.
“É necessário pensar em outra globalização econômica, em que os recursos naturais possam ser usados e transformados a favor da sociedade paraense, e não multiplicar a entropia territorial provocada pelos interesses internacionais presentes na postura econômica dos grandes projetos de mineração na Amazônia Paraense”, afirmou.
Segundo Palheta, a inspiração para escrever o livro começou em 2004, quando defendeu sua tese de doutorado em Geografia, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). O professor disse que em toda a sua trajetória acadêmica e profissional escreveu sobre mineração no sudeste do Pará.
“Recebi provocação de vários pesquisadores para colocar no papel as pesquisas que vinha desenvolvendo. Com o aumento da demanda mineral no Pará, o pouco debate sobre os efeitos da mineração na qualidade de vida da população diretamente e indiretamente atingida e com minhas inquietações, resolvi publicar o livro, que é resultado de dez anos de pesquisa”, afirmou Palheta.
A apresentação do livro é feita pelo professor Eliseu Saveiro Sposito, da Unesp de Presidente Prudente (SP) e o prefácio é do jornalista Lúcio Flavio Pinto, do Jornal Pessoal. A obra conta também com uma análise na capa feita pelo professor Christian Nunes, da UFPA. “Território e Mineração em Carajás” tem 272 páginas e é uma edição do Grupo Acadêmico Produção do Território e Meio Ambiente na Amazônia da UFPA.
Palheta é graduado em Geografia pela Universidade Federal do Pará, com especialização em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas (FIPAM) pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA), tem mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pela UFPA e doutorado em Geografia pela Unesp de Presidente Prudente.
O autor do livro é professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo); professor associado II da UFPA; líder do Grupo Acadêmico Produção do Território e Meio Ambiente na Amazônia (Gapta/CNPq) e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP).
1 comentário em “Livro aborda questões territoriais e mineração em Carajás”
A temática abordada pelo Prof. Palheta se constitui no debate que se diz atual, necessário e urgente. A mineração, que já não é o eldorado dos sonhos, evidencia um processo de retração, muito menos pelo ritmo enlouquecido de exploração e mais pelos fatores externos de comercialização.
Daí a importância que o professor chama atenção a alternativa de novas matrizes de produção, digamos, é um discurso já conhecido mas nem tanto levado a sério pela gestões dos municípios abrangidos pelo Projeto Carajás.