O mercado não reagiu bem ao ruído que ganhou eco e cresceu desde a semana passada, que circula a partir de Brasília, que garante a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em indicar o nome do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a presidência da Vale S/A, no lugar do atual presidente, Eduardo Bartolomeu, cujo mandato encerra em maio de 2024.
O movimento se dá porque no entendimento do presidente Lula, o governo federal tem que achar uma forma de aumentar o poder na Vale, com parte do PT defendendo que a mineradora atenda aos “interesses estratégicos nacionais”.
O mercado reagiu da pior forma possível ao ruído. As fontes ouvidas desconhecem a informação, que poder ser apenas para despistar a curiosidade do repórter, uma vez que a Vale é empresa com atuação vital na economia do estado do Pará.
Se a intenção de Lula se confirmar, a influência do governo federal no Conselho de Administração da mega mineradora faz algum sentido, visto que, de acordo com a composição acionária da empresa, até o fim de maio, o maior acionista individual da Vale é a Previ, com 8,69% do capital total, sendo seguida pelo Capital Group, fundo de ações americano, com 7,04%.
Os demais acionistas com assento no board da companhia, Cosan, Bradesco, Mitsui, Blackrock — maior empresa de investimentos do mundo —, e os acionistas minoritários, a priori, não querem mexer no quadro executivo.
“Sem os votos majoritários do conselho, Lula não terá força para passar a indicação, mesmo o governo sendo o detentor do controle acionário com sua Blue Chip — ação especial detida pela Previ quando do processo de privatização da então estatal, no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)”, disse a fonte ouvida pelo blog.
“É provável, se o governo tiver realmente essa intenção de indicação, utilizar sua influência junto a alguns acionistas, como Previ e Bradespar para indicar Mantega para o Conselho de Administração. Na diretoria, haveria poucas chances de a indicação ser aprovada pelos demais acionistas. Pesa ainda contra esta indicação a falta de conhecimento e experiência para ocupar o cargo”, dizem algumas vozes do mercado. “Mantega nunca foi um executivo e não sabe operar nessa situação”, disse outra fonte.
Porém, apesar de ver poucas chances do ex-ministro Guido Mantega se tornar presidente da Vale, a notícia do interesse do governo em influenciar nas decisões da Vale também não é bem recebida.
Pesa ainda negativamente sobre as ações da Vale na Bolsa do Brasil (B3) e na de Nova Iorque (Dow Jones) o mau momento do setor de mineração no mundo, que tem levado as ações a caírem 24% no acumulado de 2023.
Embora a cotação da tonelada de minério de ferro sofrer uma incomum variação, atingindo mínimas históricas, a Vale é uma empresa bem administrada, por profissionais altamente qualificados e excepcional geradora de caixa, além de uma das melhores pagadores de dividendos e juros sobre capital do mercado. Com tantos ruídos, a ação da Vale é recomendada para compra em 8 de 10 das maiores corretoras do Brasil. Duas a indicam como neutra.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.