O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, há pouco, Jean Paul Prates da presidência da Petrobras. A decisão acontece um mês depois da empresa pagar metade dos dividendos extraordinários, posição defendida por Prates e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A mais cotada para assumir seu lugar é a ex-diretora-geral da estatal, Magda Chambriard. É possível que o anúncio do substituto seja feito nesta quarta-feira (15).
A substituição de um nome mais “pró-mercado” por uma visão mais “nacionalista” teria guiado a decisão do presidente, segundo uma fonte da empresa. Prates assumiu o comando da Petrobras no início do governo Lula e entregou, em 2023, o segundo melhor resultado da história da estatal. A substituição de Prates se dá depois do auge da crise que o indispôs com o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Bastidores
Prates se despediu nesta tarde de seus diretores e comunicou à equipe que Magda Chambriard será a nova presidente da Petrobras. Ela foi diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff.
O agora ex-CEO da Petrobras enfrentou nos últimos meses intensa fritura interna no governo, acumulando disputas com o ministro de Minas e Energia, e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que almejavam ampliar o poder sobre a estatal.
O desgaste, que se prolongou ao longo desse terceiro mandato de Lula, se agravou após Silveira conceder uma entrevista à Folha de S. Paulo admitindo o conflito com Prates e dizendo que não abriria mão de sua autoridade, como ministro, sobre a companhia.
A situação do ex-senador se agravou depois que Prates declarou à colunista da Folha, Monica Bergamo, que havia pedido uma reunião “definitiva” para tratar sobre a sua fritura no cargo. No Planalto, o movimento foi encarado como uma tentativa do então CEO da Petrobras de emparedar Lula, o que teria desagradado o petista.
Em abril, o presidente chegou a convidar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, para assumir o comando da petroleira. Mas pesou a favor da permanência de Prates o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A fritura ocorreu em meio ao impasse sobre a distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras.
Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Alexandre Silveira defendia segurar todo esse dinheiro em um fundo de reserva com o objetivo de melhorar as condições da empresa de obter empréstimos para investimentos.
Lula arbitrou a disputa e determinou que os seis conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento. Prates negou publicamente que houvesse uma ordem do presidente da República nesse sentido, mas foi desmentido pelo próprio petista no mesmo dia.
Após duas reuniões encabeçadas por Lula, o presidente encampou a tese de Silveira, o que irritou Jean Paul Prates.
No pós-market (cotação após o fechamento da Bolsa), os papéis da Petrobras despencaram 7% no Mercado Futuros, embalado também pelo balanço trimestral negativo da estatal de capital misto, divulgado na terça-feira (13).
No balanço, a Petrobras (PETR4) reportou lucro líquido de R$ 23,7 bilhões no primeiro trimestre de 2024. O resultado ficou 37,9% abaixo do registrado um ano antes e veio abaixo do consenso, que previa lucro de R$ 30,1 bilhões.
Há 45 dias, o Blog do Zé citou o nome de Magda Chambriard como a mais cotada para assumir o lugar do presidente demitido.
Por Val-André Mutran – de Brasília