O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, no começo da tarde desta quarta-feira (25), a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano. A demissão foi anunciada à executiva em uma reunião no Palácio do Planalto. No lugar de Serrano, assume o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes. Funcionário de carreira da Caixa e já trabalhou para o PP de Arthur Lira. Há, ainda, outras diretorias que podem entrar na negociação pela ampliação da base governista na Câmara.
A demissão da executiva vinha se arrastando desde julho, quando o PP começou a pressionar o governo pela troca. No entanto, Lira negava qualquer intenção de indicar alguém para ocupar cargos na Esplanada, e reforçava que a escolha de ministros era uma prerrogativa do presidente.
Rita é a quarta indicada por Lula no começo do governo a cair para acomodar o Centrão. Além dela, também tiveram de sair da Esplanada as ministras Daniela Carneiro (Turismo) e Ana Moser (Esporte) e o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos).
Os cargos foram ocupados por Celso Sabino (União-PA), André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), respectivamente. O Centrão ainda pede, entre outros cargos nos primeiros escalões do governo, a presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que tem uma licitação alvo de auditoria no Tribunal de Contas da União (TCU).
Novos ministérios para o Centrão
Enquanto Daniela Carneiro e Ana Moser deixaram a Esplanada, Márcio França foi nomeado para o Ministério da Micro e Pequena Empresa, criado logo depois para acomodá-lo na cota do PSB, partido ao qual tabém pertence o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Há a possibilidade, ainda, de Lula criar mais uma pasta, a da Segurança Pública, como adiantou na live semanal ‘’Conversa com o Presidente’’ na terça-feira (24). O tema faz parte, atualmente, do Ministério da Justiça, mas ter uma estrutura própria é uma promessa de campanha do presidente.
O bloco de partidos que forma o Centrão chegou a pedir, ainda, os ministérios da Saúde ou do Desenvolvimento e Assistência Social, mas nesses Lula garantiu que não faria qualquer troca. A ministra Nísia Trindade chegou a ser defendida publicamente pelo presidente, enquanto a segunda pasta é considerada estratégica principalmente para o PT, por conta da gestão do programa Bolsa Família.
Além da pressão do Centrão por mais cargos, Rita Serrano também ficou na corda-bamba após a Caixa autorizar a realização de uma exposição com obras que retratam políticos em situações controversas, revelada no começo desta semana conforme publicado pelo Blog do Zé Dudu.
O banco estatal liberou R$ 250 mil para a mostra ‘’O Grito’’, em que uma das obras gerou tensão no meio político. O quadro retratava Lira, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o ex-ministro Paulo Guedes em uma lata de lixo coberta pela bandeira do Brasil e uma ilustração do ex-presidente Jair Bolsonaro defecando sobre a bandeira do Brasil e mexendo no celular. A exposição foi cancelada após a revelação, em que a Caixa afirma que identificou uma ‘’manifestação com viés político’’, o que viola as diretrizes da empresa.
Competente, mas demitida
Em nota oficial publicada pouco depois da demissão, Lula elencou alguns dos feitos de Rita Serrano à frente da presidência da Caixa. Veja abaixo a nota completa divulgada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), da Presidência da República, confirmando a demissão:
‘’O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quarta-feira (24/10), com a presidenta da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, e agradeceu seu trabalho e dedicação no exercício do cargo.
Serrano cumpriu na sua gestão uma missão importante de recuperação da gestão e cultura interna da Caixa Econômica Federal, com a valorização do corpo de funcionários e retomada do papel do banco em diversas políticas sociais, ao mesmo tempo aumentando sua eficiência e rentabilidade, ampliando os financiamentos para habitação, infraestrutura e agronegócio.
Na gestão de Serrano foram inauguradas 74 salas de atendimento para prefeitos em todo o país, cumprindo um compromisso de campanha.
O governo federal nomeará o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes para a presidência do banco, dando continuidade ao trabalho da Caixa Econômica Federal na oferta de crédito na nossa economia e na execução de políticas públicas em diversas áreas sociais, culturais e esportivas.’’
Quem é Carlos Antônio Vieira Fernandes?
Paraibano, Vieira é ex-diretor da Funcef, o fundo de pensão da Caixa. Atuou no cargo de 2016 a 2019. É funcionário de carreira da Caixa desde 1982.
Durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), foi secretário-executivo e diretor de desenvolvimento institucional do Ministério das Cidades, que estava sob o comando de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), aliado de Arthur Lira.
Também ocupou o mesmo cargo no Ministério da Integração Nacional, em 2015. O ministro era Gilberto Occhi (PP). Vieira acabou sendo demitido por Dilma depois que o PP começou a fazer parte da articulação que culminaria no impeachment da presidente, em 2016.
De 1995 a 2001, Vieira atuou como Superintendente Regional na Paraíba. Ele é formado em economia e estudos sociais na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarabira (Fafig), atualmente UEPB (Universidade Estadual da Paraíba). Foi também diretor-presidente da BRB Financeira e presidente do conselho de administração da CBTU (Empresa Brasileira de Transportes Urbano).
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.
1 comentário em “Lula entrega presidência da Caixa para indicado de Arthur Lira”
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