Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a ex-presidente Dilma Rousseff foi o nome indicado pelo atual governo para assumir o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como “banco dos Brics”, grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sede da instituição fica em Xangai.
No posto de presidente da instituição, Dilma — que sofreu impeachment em 2016 por pedalas fiscais — deverá receber um salário de quase R$ 300 mil por mês — mais de R$ 3,6 milhões por ano.
Segundo o último balanço anual divulgado pelo NBD, o total pago em salários e benefícios aos seis postos de chefia do banco — formados pela presidência e cinco vice-presidências — é de US$ 4 milhões por ano (ou mais de R$ 20 milhões). O relatório contábil não discrimina o valor pago a cada um e informa somente o gasto global.
Atualmente a instituição financeira tem uma carteira que soma US$ 32,8 bilhões financiados em 96 projetos pelo mundo. A meta, segundo relatório divulgado banco, é investir mais cerca de US$ 30 bilhões até 2026.
Para a manobra dar certo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está articulando a demissão do atual chefe do banco. Marcos Troyjo está no cargo desde 2020 e tem um mandato de cinco anos. O economista foi indicado em 2020 pelo ex-ministro Paulo Guedes.
Repercussão
A repercussão da indicação da ex-presidente vai do elogio de líderes do PT à críticas mais fundamentadas como a do ex-presidente do Banco Central no primeiro governo do próprio presidente Lula, o ex-banqueiro Henrique Meirelles, e a ironia do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) que perdeu a eleição presidencial que disputou coma petista em 2014.
Líderes do PT avaliam que Dilma é respeitada e que o nome dela fortalece a posição do Brasil no Brics. Caso assuma a liderança do banco do bloco, a ex-presidente Dilma Rousseff não teria ingerência na política interna do país, mas garantiria um cargo de protagonismo no cenário internaciona
Especialistas se dividem a respeito do tema. Há quem acredite que Dilma, por ter sido a presidente durante a maior recessão da história do Brasil, pode prejudicar a imagem do país. Outros enxergam prestígio mundial na petista. O sinal troca de acordo como o interlocutor.
Ex-presidente do BC
Procurado para comentar o caso, o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles disse que a ex-presidente da República Dilma Rousseff não tem perfil de alguém que administra uma instituição financeira.
“A ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT) não é a pessoa mais adequada para assumir o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics”.
Segundo Meirelles, Dilma tem experiência por ter sido chefe do Poder Executivo, mas não dispõe do currículo adequado para ocupar um banco com foco em empréstimos, como é o caso do Banco do Brics.
“É uma pessoa que tem uma experiência muito grande, por ter sido presidente da República, ministra de Minas e Energia, ter sido chefe da Casa Civil, mas não tem experiência nenhuma em banco. Precisa de uma experiência específica, que é algo que ela não tem. O NBD é semelhante ao Banco Nacional do Desenvolvimento”, disse ele.
O governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem se articulado para que o presidente do NBD, Marcos Troyjo, renuncie ao cargo, sem terminar o mandato, que vai até 2025.
Troyjo foi nomeado presidente do NBD em 2020, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na época, ele atuava como secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, chefiado pelo então ministro Paulo Guedes.
O NBD tem sede em Xangai, na China, e foi criado em 2014, durante a 6ª Cúpula do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, com o objetivo de mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países.
Para Dilma Rousseff assumir a presidência do Banco do Brics, seu nome precisa ser validado pelo conselho de governadores. Não há, ainda, data para análise. Dilma Rousseff disse que não vai comentar o caso. O Ministério da Economia informou, também, que não vai se pronunciar.
Para Meirelles, o melhor nome para o cargo seria o ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. “Ele foi presidente do Banco Central, do conselho do Credit Suisse, totalmente adequado para a presidência do Banco do Brics, apesar de não ter a estatura dela, que foi presidente da República. Mas é isso, vamos ver como ela se sai, se for o caso”, disse.
Meirelles também afirmou que as críticas que Lula tem feito ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atrapalham a redução da taxa de juros e outros indicadores econômicos.
Aécio Neves: “Chega a ser cruel”
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) ironiza a provável ida da ex-presidente Dilma Rousseff para a China, para assumir o comando do banco dos Brics.
“Que o PT e o presidente Lula não queriam a ex-presidente Dilma por perto, nem na campanha nem no governo, era sabido por todos. Mas enviá-la para Xangai [sede do banco] com tantas boquinhas mais próximas chega a ser cruel”, afirma.
O atual presidente, Marcos Troyjo está sendo pressionado para renunciar ao cargo que só expira em 2025. O diplomata e economista tem as portas abertas no governo de São Paulo, caso deixe o banco, declarou na semana passada, o governador do estado, Tarcísio Gomes de Freitas.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.