Brasília – Na noite desta terça-feira (16), um inusitado encontro, durante a cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes que assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, fechará o primeiro dia da corrida eleitoral dos favoritos ao Palácio do Planalto. Durante o dia, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que lidera as pesquisas —, começou a sua campanha no berço do sindicalismo brasileiro, no ABC Paulista; enquanto Jair Bolsonaro (PL), postulante à reeleição, num gesto de gratidão a Deus, voltou ao lugar onde foi vítima de uma facada que quase lhe tira a vida, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Os dois locais escolhidos foram simbólicos para Lula e Bolsonaro. O candidato do PT começou na sua origem operária, no berço do sindicalismo, onde tudo começou e agora recomeçando. Já o candidato à reeleição, ao começar por Juiz de Fora, lembra que a facada não o fez desistir e ele acabou chegando ao Planalto.
Perto do final da manhã, Bolsonaro fez um breve discurso para um grupo de apoiadores no aeroclube da cidade, falando sobre alguns feitos do governo ao longo da gestão, como a queda no preço dos combustíveis, a retomada da economia, a criação de empregos e o desempenho no combate à pandemia de Covid-19, lamentando também as mais de 680 mil mortes em decorrência da doença.
Bolsonaro disse que as decisões tomadas pelo governo, que podem ter desagradado a muita gente, foram as mais acertadas e que estão se refletindo na recuperação da economia. Focou, em especial, na geração de empregos e renda.
“A economia está recuperando, vocês estão vendo nos combustíveis, na energia elétrica, único país do mundo com deflação, empregos também aparecendo. No próximo mês, tenho certeza, vamos entrar na casa dos 8% [de desemprego]”, falou, citando o ministro Paulo Guedes.
O presidente também fez críticas a questões como a legislação que impõe penas a quem divulgar supostas fake news, lembrando que os vetos a alguns trechos ainda podem ser derrubados pelo Congresso. “Sempre defendemos a liberdade absoluta, que quem se ofendeu que vá para a Justiça. Não se pode criar leis como a das fake news”, protestou.
Bolsonaro também resgatou os impactos causados pelas medidas tomadas por estados e municípios para o combate à Covid-19, o qe classificou como uma “ditadura”. A afirmação foi feita logo após citar a situação da Venezuela, um país rico em petróleo que, na opinião dele, fez escolhas políticas erradas.
“Vocês viram um pouco da ditadura aqui, com igrejas fechadas, fechando comércio, e a gente sabia onde isso ia dar. Não vou entrar em detalhes, vocês sabem o que fizemos, sob ataque da grande imprensa brasileira. Estamos vencendo tudo isso”, disse, usando termos ligados à religião diversas vezes para se comunicar com o público.
Ressaltou, em diversos momentos, que a liberdade no Brasil está ameaçada e fez comparações disso com a situação vivida pela Europa, mas citando outros problemas.
“Todos sabem que essa nossa união leva à vitória, e leva o Brasil aos poucos países do mundo onde se pode falar em democracia e liberdade. Se vocês olharem para a Europa, estão vivendo momentos muito difíceis, e a gente sabe que não é apenas pela questão da guerra”, afirmou, citando também os incêndios florestais na França e o desabastecimento de combustíveis, fazendo um paralelo com o Brasil.
Pouco depois, Bolsonaro reuniu uma multidão no centro de Juiz de Fora, onde discursou em cima de um trio elétrico. Sem citar diretamente os presidentes anteriores, afirmou que o Brasil recuperou o patriotismo e que luta pela liberdade do país.
“Não há comparação, damos exemplo de patriotismo e de honestidade. Como é bonito, pelas minhas andanças pelo Brasil, cada vez mais vemos as cores verde e amarela predominante. Vamos fazer a nossa parte, com liberdade e conhecimento, libertar o nosso povo. Juro dar a vida pela nossa liberdade”, discursou.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro também fez uso da palavra durante o comício. Adotou um discurso religioso e convidou a todos os presentes a fazer uma oração. Em um tom mais crítico a adversários políticos e sem citações nominais, pediu a Deus “sabedoria e discernimento” aos brasileiros para não “entregar” o país nas “mãos dos nossos inimigos”.
A agenda de Bolsonaro em Juiz de Fora também incluiu uma “motociata” com apoiadores. Ele deixou o município no início da tarde.
No ABC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu o pontapé inicial de sua campanha com discurso de agradecimento a metalúrgicos. Ele escolheu a fábrica de veículos da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para o primeiro comício de campanha nesta terça (16). O local escolhido é considerado o berço político de Lula e conta com a mobilização de diversos movimentos sindicais que apoiam o petista.
“Eu resolvi fazer a abertura da minha campanha aqui não só para agradecer vocês, mas porque foi aqui que tudo aconteceu na minha vida. Foi aqui que eu adquiri consciência política. Foi por causa de vocês que acho que eu fui um bom presidente da República”, disse Lula.
A data marca o início da campanha eleitoral e autoriza a divulgação de propaganda, comícios e distribuição de material gráfico, como “santinhos” e adesivos. Além de estratégica, a escolha do ABC paulista também é simbólica, já que Lula iniciou sua carreira política no sindicato dos metalúrgicos da região e já trabalhou na fábrica da montadora.
“Foi aqui que eu aprendi a ser gente. Eu poderia dizer para vocês que praticamente tudo que eu vivi na vida e aprendi na política eu devo a essa categoria extraordinária que se chama metalúrgicos do ABC”, discursou.
Promessas
Lula abriu a campanha com promessa de geração de empregos. Como estratégia de campanha, o ex-presidente também aproveitou o seu discurso junto aos trabalhadores da fábrica para falar sobre a geração de empregos. Este será um dos motes da campanha neste primeiro momento da disputa.
“Eu não precisaria estar candidato outra vez, mas agora o Brasil está pior do que quando eu tomei posse a primeira vez. A situação econômica está pior. Em 2003, aqui vocês tinham 13.857 trabalhadores, em 2012 a gente chegou a 14.164. Passados 10 anos, aqui hoje só existem 7.931 trabalhadores. Onde foram os outros trabalhadores? Eles estão trabalhando ou dormindo na sarjeta? Porque esse governo não se preocupa em gerar empregos. Eu vou voltar para que a gente recupere esse país, recupere o emprego”, discursou o petista.
Em outra frente, Lula afirmou que o presidente Jair Bolsonaro aprovou a PEC dos benefícios sociais, que permitiu o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, por “desespero”. Uma das estratégias da campanha petista será tentar emplacar o discurso de que o aumento do programa social por Bolsonaro foi um ato eleitoreiro.
“Eles estão gastando uma fortuna. Desde a proclamação da República não teve um presidente que gastasse 10% do que o Bolsonaro está gastando. Ele resolveu criar um auxilio de R$ 600, uma ajuda para taxista, uma ajuda caminhoneiro e baixar o preço da gasolina. Ele está fazendo isso agora, achando que o povo é besta”, criticou o petista.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.