Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Não são apenas os funcionários de hospitais e centros de saúde do município de Marabá que estão irritados com a gestão municipal. Os usuários dos serviços públicos de saúde vivem outro drama: a falta de acesso a exames garantidos por lei, mas que são ignorados, por motivos diversos, também causa ira a alguns pacientes.
Maria Eduarda Dias, por exemplo, está esperando há seis meses para realizar exame de mamografia recomendado por um médico que suspeitou da existência de um nódulo em sua mama direita. Aos 48 anos e residente no Bairro Coca-Cola, Maria Eduarda diz que não tem condições de pagar um exame na rede particular e o jeito é esperar pelo único aparelho do município que está funcionando. “Eles dizem que falta um tal de revelador e que não há previsão para realizar o exame e me pediram para aguardar em casa que vão avisar. Nisso, se passaram quatro meses”, conta.
O caso de Maria Eduardo é um entre centenas – e até milhares de mulheres que estão na fila para realizar a mamografia em Marabá. Quando está funcionando, o aparelho realiza, em média, 20 exames por dia, mas a fila é enorme e, para vencê-la num prazo mais rápido, seria necessária colocar para funcionar outro mamógrafo adquirido por um consórcio de saúde do Bico do Papagaio, envolvendo o Pará, Tocantins e Maranhão. O equipamento foi comprado e doado para o Crismu (Centro de Referência à Saúde da Mulher), localizado na Folha 33 , Nova Marabá.
Acontece que o aparelho está no local há mais de dois anos e nunca foi colocado para funcionar porque a reforma iniciada na atual gestão nunca terminou. Em verdade está parada. O mamógrafo está lacrado, mas corre risco de se deteriorar e os servidores do Crismu lamentam a situação. “A gente vê tanto descaso com o dinheiro público neste lugar. Tanta coisa deveria estar funcionando aqui, mas a falta de vontade política é grande”, desaba uma técnica de enfermagem que pediu reserva de seu nome, temendo retaliações.
A falta de revelador para o único mamógrafo do município, instalado no Hospital Municipal de Marabá, é confirmada pela coordenadora de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde, Camila Lopes Chagas. Segundo ela, o produto acabou há cerca de dois meses, e o pouco que foi adquirido nesse período foi empregado para exames de Raio X, porque sempre há casos de urgência no Hospital Municipal.
Camila reafirmou essa e outras informações, também, para um grupo de vereadores esta semana, na Câmara Municipal de Marabá. Ela foi pedir socorro aos legisladores, por considerar que o trato com a saúde da mulher também esteja um caos. Nos últimos cinco anos, a Câmara tem realizado audiência pública para discutir o andamento das ações de ações em prol da mulher. “Este ano, a gente tem de se contentar apenas com educação. Mas se a gente dá palestra para as pessoas orientando para a importância de realizar mamografia e as pessoas vão aos centros de saúde, voltam para casa frutradas porque não conseguiram nada. Hoje, não temos controle exato de quantas mulheres aguardam para realizar uma mamografia, mas tenho certeza que há mais de 2.000 pacientes aguardando pelo resultado, que é um outro problema grave”, reconhece.
E esse problema dos resultados, segundo a enfermeira, é crônico, porque passa pela gestão. O setor em que ela trabalha na Secretaria de Saúde conta com cinco computadores, mas quando assumiu havia apenas um funcionando. Depois, mendigando conserto para empresas do setor, conseguiu consertar outros dois, mas mesmo assim ainda é insuficiente para alimentar os sistemas de informação do governo federal, o que faz com que o município deixe de receber recursos. Ano passado, segundo ela, Marabá perdeu R$ 128 mil porque não alimentou o sistema de informação de um dos programas. Sem internet nos computadores, programas como o SISCAN (Sinstema de Informação do Câncer) e SIS Prenatal ficam sem ser alimentados, fazendo com que o município perca recursos.
O vereador Ilker Moraes lamentou o fato de a Prefeitura não manter um estoque regular de produtos extremamente necessários, como esse revelador para o mamógrafo, algo que considera básico.
Já o vereador Guido Mutran disse que a situação atual da Prefeitura é preocupante e teme que no mês de dezembro próximo se agrave ainda mais na área de saúde. “Em dezembro, a cidade estará à míngua e nós precisamos de informações da Secretaria de Saúde sobre essa questão da mamografia.”
A Câmara enviou ofício à secretária de Saúde Juliana Versiani, pedindo informações e cobrando soluções em relação ao funcionamento, em caráter de urgência, do único mamógrafo do município. Ontem, sexta-feira, a enfermeira Camila disse que recebeu informação que houve autorização para compra do revelador, mas não sabe quando isso vai acontecer, de fato.
3 comentários em “Marabá: Outubro Rosa vira mês negro sem exames de mamografia”
Ufa mais uma na conta de João Salame.
Que adianta iluminar os prédios públicos de rosa e não ter jeito de fazer exame!
Por que camara não abre um processo contra o salame? Será medo?