Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Antes mesmo de as urnas serem abertas, às 8 horas, o domingo, 2 de outubro, começou com a notícia de que a Polícia Federal havia encontrado mais de R$ 100 mil na residência de um vereador candidato à reeleição em Marabá. A notícia se espalhou como um vírus pelas redes sociais e em pouco tempo a cidade inteira estava sabendo.
Era a operação Saruê, em que o Ministério Público Eleitoral, Polícia Federal e Polícia Civil se juntaram para coibir a compra de votos momentos antes da eleição. Em entrevista logo após o pleito eleitoral, na noite do domingo, o delegado chefe da Delegacia da Polícia Federal em Marabá, Ricardo Viana, disse que as ações da PF não visavam tumultuar as eleições, mas sim oferecer igualdade de condições aos candidatos.
Ele informou que dias antes da eleição foi feita uma investigação bastante profunda a partir de várias denúncias anônimas que chegaram, as quais apontavam que determinados candidatos que concorriam à sucessão municipal em Marabá teriam grandes quantidades de valores em suas residências e serviriam para compra de votos. “Esses candidatos contavam com ajuda de apoiadores, os quais seriam funcionários fantasmas em órgãos públicos municipais”, destaca o delegado.
Dentre os apoiadores havia pessoas simples, que residiam próximos a zonas eleitorais estratégicas. Os candidatos repassariam determinadas quantidades de dinheiro para esses apoiadores humildes e, lá, aconteceria essa troca. Isso aconteceu, por exemplo, no Bairro Cabelo Seco. “Mas a ação dos órgãos de segurança envolvidos obstacularizou esse modus operandi. E foram as denúncias das pessoas que fortaleceram a PF, MP e Polícia Civil a reconhecer indícios de compra de votos. Demonstramos ao juiz que os fatos que estávamos levando a ele eram verdadeiros. Tanto é fato que conseguimos apreender a quantia de R$ 155 mil em espécie”, pondera..
Na casa de um candidato foram encontrados R$ 110 mil, na de outro R$ 35 mil, de um terceiro R$ 6 mil e de outros candidatos quantidades menores, além de milhares de santinhos. “Pela legislação eleitoral, lembra o delegado, os santinhos não utilizados no período de campanha deveriam ter sido entregues à Justiça Eleitoral até 22 horas da noite de sábado, dia 1º de outubro”, explica.
Além disso, a PF apreendeu uma grande quantidade de documentos, entre eles listas sugestionando nomes de eleitores com suas zonas eleitorais. Para o delegado da PF, as investigações que se seguirão vão apontar do que se tratavam esses documentos. Todo o dinheiro arrecadado foi levado para o Ministério Público Eleitoral, que fez depósito em juízo. “Será o MP à analisar se o que foi apreendido será suficiente para oferecimento de denúncia contra os candidatos, ou se ainda será necessário realizar mais investigações para saber em que circunstâncias aquele dinheiro se encontrava em determinada casa e qual a finalidade dele”.
Na casa de Alzira Mutran, cunhada de uma candidata do PMDB, onde a polícia apreendeu R$ 35 mil em espécie, também foram encontradas três armas por volta de meio dia. Uma delas é um revólver 357, de calibre restrito. Neste caso, a lei não permite concessão de fiança e a proprietária da casa foi presa em flagrante e encaminhada para a Penitenciária Agrícola Mariano Antunes.
Além de Marabá, a PF também enviou homens para as cidades de Tucuruí, Curionópolis, Eldorado, Jacundá, Goianésia e Breu Branco. Elas foram escolhidas, explica o delegado, a partir do histórico de ocorrências em eleições anteriores. Com exceção de Jacundá, em que as eleições foram bastante acirradas, nas outas cidades o clima foi tranquilo e nada evoluiu para um contexto de flagrante ou de desordem que fosse recomendada a prisão.
Abstenções
Apesar da operação da PF, MPE e Polícia Civil ter sido realizada em vários pontos da cidade, o clima nos colégios eleitorais de Marabá foi tranquilo até demais. Em algumas sessões o índice de abstenções chegou a 40%. No geral, um total de 33.791 eleitores (21,24%) deixou de comparecer ao local de votação no município.
O número de eleitores aptos a votar no último domingo era de 159.055, mas apenas 125.264 foram às urnas. Destes, 2.364 votaram em branco e 7.849 anularam o voto na urna.
Já em Parauapebas, o número de abstenções foi quase a metade de Marabá. Ao todo, 18.263 eleitores deixaram de comparecer às urnas no último domingo, totalizando 12,21% do eleitorado. Embora tivesse menor número de eleitores aptos a votar que Marabá, Parauapebas alcançou um maior número de comparecimento às urnas. No total, 131.321 pessoas foram votar no último domingo, contra os 125.264 de Marabá.